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Cultura, trato com os pais… A história por trás do garoto que não jogou a Champions para fazer prova escolar

Joia do Bayer Leverkusen ficou fora de partida decisiva contra o Atlético de Madrid para priorizar estudos. LANCE! revela detalhes do pensamento do clube e do jogador

(Foto: Reprodução/Instagram)
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Na última terça-feira, o Bayer Leverkusen divulgou que o meia alemão Kai Havertz, de 17 anos, ficaria fora da partida contra o Atlético de Madrid pela Liga dos Campeões porque teria uma prova na escola. O fato repercutiu, virou piada nas redes sociais, e a zoeira acabou deixando em segundo plano uma análise mais séria do caso. Porém, por trás da situação inusitada há uma questão cultural de valorização da educação. O LANCE! foi atrás de mais informações sobre a história e descobriu detalhes deste novo "gol da Alemanha".

Kai Havertz é uma das maiores joias do futebol alemão. O garoto, que chegou ao Bayer aos 10 anos, foi fundamental na conquista do Campeonato Alemão Sub-17 da temporada passada (com 20 gols e nove assistências). Em agosto do ano passado ele firmou seu primeiro contrato como profissional e desde então ganhou ainda mais espaço, atualmente aparecendo como titular em diversos jogos. No entanto, apesar de já ter se consolidado como jogador, o jovem não descuida de seus estudos e tem total apoio do Bayer para isso. Há um acerto entre o clube e os pais de Kai para que a escola ande lado a lado com o futebol.

A escola de Kai: o Landrat-Lucas-Gymnasium (Foto: Divulgação)

Detalhe importante: Kai não escolheu fazer um caminho simples na escola. O meia, que está no nível secundário (voltado para adolescentes), quer o diploma da International Baccalaureate (IB), um certificado de conclusão do ensino médio que é aceito por diversas universidades ao redor do mundo. Ele está há dois anos passando por avaliações da IB, um caminho que é obrigatório para obter a certificação. A prova que o fez perder o jogo da Champions foi justamente um preparatório para o teste final da IB, que será daqui a um mês.

Conversamos com o assessor de imprensa do Bayer, Dirk Mesch, para saber sobre o dia a dia de Kai Havertz. Dirk disse que o clube dá total respaldo para que Kai conclua a escola e blinda o jovem de pressões que possam atrapalhar.

- É nosso princípio deixar primeiro Kai Havertz terminar sua escola. Inclusive, ele não está disponível para entrevistas na Alemanha até que esteja pronto com a escola. Este é o acordo que fizemos com Kai e seus pais para que ele possa se concentrar tanto na escola quanto no futebol. Tentamos manter a pressão pública longe dele - destacou Dirk Mesch.

Pedimos para bater um papo com Kai e deixamos algumas perguntas com o Bayer. O jovem não foi liberado para conversar com o LANCE! e dar entrevista de forma convencional, mas o clube falou com a joia e disponibilizou as respostas. Kai Havertz comentou sobre a prova que o afastou da Champions:

- Fiz um pré-exame de quatro horas, de geografia, na terça-feira. Minha sensação é muito boa (sobre o resultado da prova), tudo deve sair bem.

Kai foi titular no primeiro jogo das oitavas de final contra o Atlético de Madrid, duelo no qual seu time foi derrotado por 4 a 2. Apesar da necessidade da virada no segundo jogo, em Madri, partiu do técnico Tayfun Korkut a decisão de tirar a promessa da viagem para a Espanha e priorizar a prova escolar:

- Ela (decisão) veio do treinador e também estava perfeitamente bem para mim, porque eu sabia que tinha que me preparar um pouco (para o teste).


Além de atuar pelo Bayer, Kai Havertz também faz parte da seleção alemã sub-17. O garoto admite que, mesmo com todo suporte recebido, tem sentido a rotina de estudar e jogar ao mesmo tempo. Porém, ele festeja estar na escola.

- Não posso dizer que não senti. Houve alguns períodos em que foi realmente estressante e ambos os aspectos (escola e futebol) exigiram a minha concentração total. É um enorme esforço para fazer os dois, e às vezes não é fácil para a cabeça. Mas o fim (da escola) está próximo e então eu poderei me concentrar só nas tarefas como jogador. Sou muito grato ao clube por me dar escola e futebol juntos. Isso era importante para meus os pais e para mim.

BRASILEIRO LEMBRA ROTINA DE ESTUDOS NO BAYER

Natural de Curitiba, o ex-atacante Paulo Rink se destacou no Atlético-PR e foi contratado pelo Bayer em 1997. Ele fez sucesso no clube e se naturalizou alemão, posteriormente tornando-se o primeiro brasileiro a disputar um jogo pela seleção da Alemanha, em 1998. Hoje com 44 anos e vereador em Curitiba, Paulo Rink conversou com o LANCE! sobre o caso de Kai Havertz e disse que o Bayer se preocupa com os estudos de seus atletas há muito tempo:

- É algo muito próprio do Bayer. Eu tinha que chegar todo dia uma hora e meia antes do treino para fazer aula de alemão. Quando eu cheguei na Alemanha, não falava nada de alemão. Todo dia tinha um professor particular me esperando no vestiário. A minha aula de alemão era no vestiário. Esta era uma orientação do clube, fazia parte da programação de treino para os estrangeiros. Durou um ano e meio para mim. Só fui liberado quando aprendi a falar alemão.

Paulo Rink fez sucesso no Bayer (Foto: Reprodução de internet)

Paulo Rink teve duas passagens pelo Bayer (1997-1999 e 2000-2001). Com a experiência de quem conhece bem a cultura alemã, ele comentou sobre a ausência de Kai Havertz no jogo da Champions e fez um paralelo com o Brasil:

- Eles prezam por dar a formação como jogador e uma outra formação, como do exército, por exemplo. Você não tem a liberação do exército mesmo sendo atleta na Alemanha. Então, você não tem o jeitinho. Se não tiver um atestado médico, não tem como faltar prova. Isso acontece (situações como a do Kai Havertz), mas na Alemanha há o entendimento de que é uma situação normal. Talvez o brasileiro é que esteja anormal nessa questão. Ele poderia fazer segunda chamada, tinha a justificativa do jogo, mas não era saúde. Há uma questão de manter sempre a linha de conduta correta, para dar exemplo.