Até onde vai a paixão de um torcedor pelo esporte? No caso da piauiense Luiza Raquel, o amor pelo automobilismo virou coisa de pele. Aos 27 anos, ela tem o traçado de Interlagos tatuado no braço e encarou uma viagem de 10 horas para acompanhar o Grande Prêmio de São Paulo de F1, que termina neste domingo (9).

➡️Boné na cabeça e canga na grama: o que levar na mochila para Fórmula 1

Luiza é apaixonada por automobilismo desde a infância, quando assistia às corridas da Fórmula 1 com o pai e o irmão. Fã de Lewis Hamilton, a psicóloga acompanhou à distância o GP de 2021, quando o britânico conseguiu uma arrancada histórica em Interlagos, após largar em último e vencer a corrida. Ali, Luiza se decidiu: precisava testemunhar aquilo pessoalmente.

A viagem até São Paulo, porém, é longa. Luiza vive em Parnaíba, cidade no litoral do Piauí com 169.552 habitantes. Para chegar à capital paulista, ela precisou viajar de ônibus por seis horas até Teresina, capital do estado, e ali pegar um voo de quatro horas até São Paulo.

— No começo, eu não sabia como comprar ingresso, como chegava, não sabia de nada. Não tinha nenhum amigo que gostava... Comprei o ingresso pro GP de 2023 totalmente às cegas, sem saber escolher setor, só vi que tinha setor R disponível e comprei. Depois, reservei a hospedagem, comprei as passagens e fui, sozinha! No primeiro dia eu não sabia nem andar no metrô direito, fui me jogando - conta Luiza.

Além da longa viagem, Luiza é do tipo fã intensa, que gosta de madrugar na fila para conseguir os melhores lugares para shows e, no caso do GP de Interlagos, ficar na grade da fanzone, área em que os torcedores conseguem ter contato mais próximo com os pilotos. Foi assim que, em 2024, conseguiu um autógrafo do ídolo Lewis Hamilton em uma bandeira do Brasil.

— Todo mundo fala que eu preciso botar essa bandeira num quadro, eu não fiz isso ainda. Mas ela tá guardadinha aqui - relembra.

Luiza tem o traçado de Interlagos tatuado no braço (Foto: Beatriz Pinheiro)

Bonde das madrugadoras

Na sexta-feira (7), primeiro dia de GP, a reportagem do Lance! acompanhou a saga de Luiza, que chegou no autódromo às 5h da manhã e estava entre as primeiras pessoas no portão do setor R. Ela foi acompanhada da amiga, Larissa Rueda, 25 anos, que veio de São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo. As duas montaram um kit de sobrevivência completo para aguentar todos os perrengues possíveis nos três dias de evento.

— A gente traz chinelo, pra quando chover colocar o chinelo e não molhar o tênis, saco de lixo, pra embrulhar a mochila quando vier a chuva. E tem o kit médico, com esparadrapo, relaxante muscular, remédio pra gripe, antialérgico, tudo. E uns snackzinhos - conta.

— Eu volto domingo à noite, aí saio daqui às 20h15 e vou chegar na minha cidade às 00h45 pra trabalhar segunda de manhã - completa Larissa, que trabalha na área de quality assurance, em tecnologia da informação.

A primeira da fila era a analista de sistemas Hevelin Louise, de 29 anos, que chegou ao autódromo às 4h40 da manhã. Ela veio de Guaxupé, cidade de Minas Gerais que fica a 295 km de São Paulo, e viajou por aplicativo de caronas para viver o GP de Interlagos pela primeira vez.

— Eu não sou muito fã de São Paulo, porque eu tô acostumada com a minha cidade, que é pequena, então quando eu venho pra cá fico ligada no 220, olhando por cima do ombro toda hora, é um ritmo muito louco - contou a analista de sistemas.

— Na minha cidade não tem trânsito, aqui tem engarrafamento, não dá pra chegar na hora que a gente quer - completou Luiza.

➡️ Siga o Lance! no WhatsApp e acompanhe em tempo real as principais notícias do esporte

Larissa, Luiza, Nayla, Giulia, Fabiana e Hevelin madrugaram na fila (Foto: Beatriz Pinheiro)

Amizade e público feminino na F1

No grupo das madrugadoras, também estavam a argentina Nayla Rossi, 29 anos, além da administradora Fabiana Fraga, 42, acompanhando a filha Giulia, 16. Um dos primeiros movimentos do grupo ao se estabelecer na fila foi o de trocar os perfis nas redes sociais, um meio de manter os laços mesmo à distância, após o GP.

— Eu vim a primeira vez, devia ter a idade dela (aponta para a filha). Mulher não tinha espaço aqui, era muito ruim. A gente tinha que madrugar na fila, chegava na arquibancada, sentava e não podia sair mais. Tinha a questão do machismo muito forte. Hoje em dia, você olha o público e tem muito mais mulher. Como mãe, me dá essa tranquilidade de poder deixar ela circulando sozinha - conta Fabiana.

Siga o Lance! no Google News