Pelé teve uma extensa ligação com a música, ao atacar como cantor e compositor e ser homenageado em canções ao longo de seus 82 anos. No entanto, o "Rei do Futebol", que morreu na quinta-feira passada (29), ficou perto de alcançar um feito ainda mais simbólico fora de campo: a música de Tom Jobim embalaria documentário sobre o camisa 10 na década de 1990.
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A história foi detalhada ao LANCE! pelo músico Roger Henri. Ele, que também é maestro e compositor de trilhas musicais, foi "convocado" para fazer parte do projeto.
- Foi encomendada ao Tom uma música para um documentário sobre a vida do Pelé. A produtora que faria esta empreitada pediu que fizesse o arranjo desse tema. Assim que falaram com o Tom, logo ele me pediu para ir à casa dele, para mostrar a música e trocar ideias sobre o arranjo. Ele me perguntou as ideias que tive para o tema que, na verdade, ele não tinha terminado. Coisas do Tom... - e acrescentou:
- Lembro que enquanto tocava para eu aprender a música, até experimentava umas frases musicais para a segunda parte. Mas com a sua genialidade, o Tom rapidamente fechou a música e me entregou. Foi uma tarde maravilhosa, conversamos muito sobre música - complementou.
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Produtor musical de trilhas da Rede Globo durante décadas, Roger Henri iria fazer também temas incidentais a partir da canção de Tom. Anos depois, ele contou que o fato do projeto não sair do papel trouxe uma frustração.
- O documentário acabou não sendo realizado. Ainda foi uma pena que eu demorei para enviar ao Tom o arranjo que eu fiz para a canção. Ele morreu sem conhecer a minha ideia para o tema dele. Mais tarde, ele foi para os Estados Unidos e chegou a gravar a música no seu último disco. E, infelizmente, para a nossa tristeza, o grande Tom Jobim nos deixou tão cedo - afirmou.
Autor do tema do "Supercine" e responsável pela produção musical de dezenas de novelas e minisséries da Rede Globo, entre elas "Lado a Lado" (vencedora do Emmy Internacional de melhor telenovela em 2013), o músico e produtor musical afirmou que seria uma grande chance do público saber mais da história de Pelé.
- Seria maravilhosa essa produção. Iria para os cinemas uma homenagem ao melhor jogador do mundo e embalada por uma música de Tom Jobim - constatou.
O TEMA DE TOM PARA PELÉ
O tema entrou para a discografia do "Maestro Soberano". Lançado em 1994, "Antônio Brasileiro" traz a faixa instrumental "Radamés Y Pelé" (veja uma gravação acima). Em entrevista em agosto daquele ano à "Folha de São Paulo", Tom foi sucinto ao falar da música na qual ele reverenciou tanto o "Rei do Futebol" quanto o maestro Radamés Gnatalli.
- Radamés foi um craque, Pelé é um craque. Quis homenagear os dois, meus amigos - afirmou.
A relação entre Pelé e Tom Jobim foi de admiração recíproca constante. Em encontro promovido pela revista "Manchete", o Atleta do Século afirmou:
- Se eu sou o Rei, você é o Papa da Bossa-Nova.
Como foi publicado no Instagram do Instituto Antônio Carlos Jobim, o "Maestro Soberano" defendia o "Rei" de críticas e afirmou em uma entrevista:
- Queria ser o maestro Pelé. A maestria em qualquer negócio prova a licença de Deus. (...) O jogador é um melódico-harmônico que conhece a individualidade, suas possibilidades e a necessidade de esquecer qualquer vedetismo em troca de um efeito maior (o time). Pelé é tudo isso com música.
Em 8 de dezembro de 1994, Antônio Carlos Jobim morreu em Nova York aos 67 anos, depois de sofrer uma parada cardíaca enquanto se recuperava de uma operação na bexiga.
O Instituto Antônio Carlos Jobim fez uma homenagem a Pelé na quinta-feira passada (29), dia do adeus do camisa 10.