Fora de Campo

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Fuga de idoso, desmaio na Granja, bife da vovó e pedreira na Argentina: as histórias de Dener

Ao L!, ex-companheiros e melhores amigos do eterno camisa 10 da Portuguesa, que morreu há 26 anos, recordaram momentos mais marcantes com atacante

26 ANOS DE SAUDADE: Dener brilhou com a camisa da Portuguesa e faleceu aos 23 anos em desastre  (Reprodução)
Escrito por

O Brasil parou para acompanhar um acidente automobilístico, em 19 de abril de 1994, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. A morte do jovem atacante Dener entristeceu o mundo da bola, assim como companheiros próximos do eterno camisa 10 da Portuguesa. Do futsal na Vila Maria aos campos do Canindé e São Januário, Dener somou amigos.

- Nos conhecemos em um amistoso do dente de leite da Portuguesa contra o Time do Vila Maria (time do Dener). Ele foi convidado para ir para a Portuguesa. Dali em diante a amizade foi dentro e fora de campo - contou o ex-ponta-direita Tico, um dos grande parceiros de Dener.

Além de Tico e Dener, outro companheiro do time campeão da Taça São Paulo foi o ex-atacante Sinval. O trio de amigos marcou a competição de jovens brasileiros em 1991, sendo até  hoje uma das equipes com melhores números. Contudo, nem sempre foi assim.

'Dener ficava na minha casa após os jogos e adorava o bife à milanesa da minha avó'

- Cheguei na Portuguesa em 1988, no juvenil, e o Dener tinha muito de vaivém. Nessa época, se pagava muito bem no futebol de salão e ele sumia para jogar salão no Colégio Vila Maria. No começo, eu corria atrás dele para ele tocar a bola. Faltava o coletivo e nos achávamos muito - lembrou Sinval.

De qualquer modo, entre momentos de brincadeira e extrema quietude, o promissor jogador deixou boas lembranças nos amigos Sandrinho, no futsal no Colégio Bilac, Sinval e Tico, companheiros de Portuguesa, Ricardo Rocha, no Vasco, e Falcão, na Seleção Brasileira.

Leia abaixo algumas histórias marcantes de Dener contadas por seus amigos:

RICARDO ROCHA: FOI MOSTRAR SERVIÇO E DESMAIOU NA GRANJA
- Quando ele chegou na Seleção, a gente já estava treinando na Granja Comary. Como o Dener não chegou com o grupo, ele tinha que fazer um pique. Era incrível. Ele fez os primeiros 100m e gritamos "É recorde". Foi numa velocidade tão grande... Chegou nos 300m e ele não aguentou, desmaiou no campo. Muito engraçado, todos rindo admirados. Foi muito engraçado, ninguém acreditava naquela saída tão rápida dele que isso iria acontecer.

SANDRINHO: O BIFE DA VOVÓ DEPOIS DO TREINO
- Conheci o Dener e joguei com ele no Colégio Bilac, em 1988. Ele ganhava bolsa para jogar, mas estudar ele não gostava muito, pra dizer a verdade. Faltava muito. Em muitas ocasiões, Dener ficava na minha casa após os jogos. E, nas terças, eu o levava para almoçar comigo na casa da minha avó Aurélia. Ele adorava bife à milanesa e frango assado com batata no forno que a minha avó fazia.

Dener foi campeão de torneios de futsal no colégio (Arquivo Pessoal/ Colégio Bilac/ Sandrinho)

SINVAL: CB 400 E O SENHOR COM REVÓLVER DA BRASÍLIA
- Como sou do interior, não tinha a mesma malícia que o Dener. Ele me ensinou a malandragem da cidade grande. Uma vez, andando pelo centro de uma cidade, eu comprei uma (moto) CB 400 e um velho nos fechou com uma Brasília (carro). O Dener foi e xingou o velho todinho, e eu me apavorei. O velho veio atrás da gente, falou que tinha um revólver, e o Dener: "Tu vai perder para uma Brasília, Sinval?". Eu me apavorei. Eu tentando escapar do senhor e depois o Dener ficou rindo. Ele contou para todos que eu perdi para uma Brasília.

TICO: DENER, O PADRINHO
- Escolhi o Dener para ser o padrinho da minha filha. Desde que nós conhecemos, já tivemos uma afinidade dentro e fora de campo, e eu vivia na casa dele. A amizade com a família facilitou tudo e as conversas, os mesmos sonhos de vencer na vida e no futebol. Algumas vezes, ele era reservado e se fechava no mundo dele. Mesmo assim, não era rebeldia, mas sim um jovem de periferia que tinha dificuldades como todos. E ele demonstrava sentir falta de uma figura paterna. Ele tinha seus monstros.

SINVAL: O PEDIDO DE SALÁRIO IGUAL AO DE DENER
- Terminamos uma Taça São Paulo muito bem, ganhando e eu fui artilheiro. O presidente na época, Nelson da Custódia, nos colocou uma faixa salarial por zona do time, o que para mim e para o Tico era algo cerca de R$ 900, e o Dener ganharia R$ 1.100. Na hora de assinar, eu me neguei. Queria igual ao Dener (risos). Eu e Dener então estávamos no aeroporto, indo para a Bélgica, para poder jogar fora do país. O presidente mandou nos buscar no aeroporto. Na época, eu me achava igual ao Dener (risos), por fazer muitos gols. Me sentia o craque.

Dener brilhou com a camisa da Portuguesa (Reprodução)

RICARDO ROCHA: PAI E CONSELHEIRO DE DENER 
- A contratação do Dener foi praticamente junto da minha. Ele era um garoto maravilhoso. A gente morava no mesmo prédio, então eu o acordava. Toda a manhã eu já ligava e falava: "Vamos embora". A gente ia para o treino juntos. Fui um pai e um conselheiro para ele, era um garoto. Conversávamos muito sobre a vida, sobre futebol, e ele tinha um sonho de jogar pela Seleção.

SINVAL: FUGIDAS PARA JOGAR FUTSAL
- Nos tempos de Portuguesa, o diretor da época (Mário Fofoca) ia buscar o Dener na Vila Maria. Naquela época, se pagava mais para quem jogava no futsal e o Dener precisava do dinheiro. Ele teria que tomar um rumo, o salão poderia ser provisório e o futebol daria mais futuro. Ele começou a treinar no dia a dia, se preparar melhor. Nisso, ele voltou para a Portuguesa.

Dener estreou pela Seleção sob o comando do ex-atleta Falcão (Reprodução)

FALCÃO: PEDREIRA NA ARGENTINA COM A AMARELINHA
- Fiz a primeira convocação do Dener na Seleção. E ele entrou em um jogo contra a Argentina, em Buenos Aires. Quando eu o convoquei, ele tinha 17 ou 18 anos. Eu acreditava tanto nele que chamei para uma pedreira lá na Argentina e coloquei ele no segundo tempo. Ele era aquele jogador que tu sentia que ele não iria tremer. No Dener, tu via que o cara tem a cabeça. Ele era pronto emocionalmente. O Dener tinha isso. Nos olhamos e eu disse: "vamos".

*sob supervisão de Tadeu Rocha