Dia 13/10/2015
12:53
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Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo, aceitou ser sabatinado pela equipe de reportagem do LANCE! e não fugiu de nenhuma das perguntas. Ele, aliás, admitiu erros em várias contratações, que a diretoria aprendeu com isso e que já está mapeando novos zagueiros para o ano que vem. O mandatário foi também direto em outros assuntos. Esta é a Entrevista da Semana do LANCE!, que será destrinchada ao longo desta sexta-feira.

Está de fato satisfeito com a sua administração?
Acho que conseguimos ser bem sucedidos em várias missões, talvez a principal delas tenha sido a recuperação da credibilidade do Flamengo, já que estávamos passando por uma crise de identidade e financeira. Hoje o Flamengo já é encarado como respeito em todos os fóruns que frequenta. Se recuperamos a capacidade de investimentos no futebol, se conseguimos fazer transações no porte do Guerrero, Ederson, Sheik, fazemos com a segurança de que iremos honrar com todos os nossos compromissos. O dia a dia do Flamengo é totalmente tocado por administradores profissionais contratados no mercado, bem remunerados, que nos permitem lidar com esta realidade de gerir uma empresa que fatura R$ 400 milhões e pode faturar mais do que isso.

Qual a sua avaliação do time que a torcida espera? A torcida pode esperar um desempenho melhor?
Não tenho menor dúvida que isso vai acontecer, exatamente porque hoje estamos em uma situação que nos permite avançar mais no campo esportivo. Quando você está espremido pela situação financeira, como nós chegamos aqui com uma dívida de R$ 750 milhões de reais e um déficit projetado para o ano de R$ 130 milhões, era muito difícil você pensar em fazer qualquer tipo de investimento sustentável no futebol. Hoje em dia é diferente, a nossa dívida ainda é alta, mas está equacionada graças ao esforço que fizemos para aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal do Futebol. Temos a perspectiva de ter um alívio no fluxo de caixa, cumprimos todas as contrapartidas pedidas na lei, e a partir daí você passa a ter um espaço maior para investir no futebol de maneira sustentável. Sem contar que nesses dois anos e nove meses, aprendemos a lidar com o futebol a partir de nossos erros.

Qual o papel do calendário nesta situação de não se começar a temporada com o time formado?
O fato da janela de transferência do futebol brasileiro e dos principais mercados não coincidirem com certeza atrapalha porque as propostas que recebemos pelos nossos jogadores vêm em um momento indesejado e a oportunidade que nós temos de trazer jogadores de fora também não é a ideial. Igualar os calendários, por exemplo, é uma questão que deve ser estudada.

O clube já esteja mapeando zagueiros para 2016?
Sem dúvida. Não apenas zagueiros, mas de qualquer posição. A escolha será baseada em métodos científicos e não porque o empresário é amigo.

O senhor tem algum exemplo de gestão do exterior para o Fla?
Temos que avaliar todos os modelos. Esse contato com experiências internacionais é a nossa obrigação ter. Há seis meses visitamos o Benfica e o clube tem um aproveitamento da base muito bom, além de ter o melhor programa de sócio-torcedor do mundo.

Por que critério considera o programa de sócio-torcedor do Benfica o melhor do mundo? Ele impacta numa receita alta de bilheteria como outros clubes que não têm sócio-torcedor, tais como Manchester United, Real Madrid, Arsenal...?
Porque ele é o programa que tem a maior taxa de conversão da torcida para o programa: 4% da torcida do Benfica é formada por sócios-torcedores e eu não conheço nenhum caso em que isso aconteça. No futebol brasileiro o maior índice de conversão é o Internacional, que converte 2,2% da torcida para o programa. O Benfica tem parcerias comerciais eficientes, que oferecem ótimos benefícios para os torcedores.

O que fazer para melhorar o sócio-torcedor?
O sócio-torcedor do Flamengo está em permanente aperfeiçoamento. Em termos de receita é o principal programa do Brasil, pode estar em sexto lugar em número de adeptos oficiais, mas em termos de receita se considerar sócio-torcedor e bilheteria é o melhor do Brasil, e é a nossa terceira principal fonte de receita.

No jogo com o Coritiba, em Brasília, o Flamengo teve um faturamento de R$ 1,5 milhão. No Maracanã, o que considera ser rentável?
O Fla para jogar no Maracanã tem que ter uma receita compatível com a sua importância. Se nós jogamos dentro de uma condição atrativa de outras praças e não conseguimos fazer isso no Maracanã, é porque algo está errado.

Mas vender jogos não frustra o torcedor do Rio de Janeiro?
Eu tenho certeza que a torcida entende. Ela sabe que o clube precisa se recuperar financeiramente. É um orgulho para o torcedor carioca ver o Flamengo querido por todo lugar.

Afinal, a diretoria do Flamengo entende ou não de futebol?
Olha, essa coisa de se entender futebol eu entendo, até porque tenho mais de 50 anos de arquibancada. Agora, quando as pessoas dizem que eu e nossa diretoria não entendemos de futebol, isso me preocupa um pouco. Até porque já ouvi coisas do tipo “presidente, precisamos contratar jogador tal”. Aí eu digo “não temos orçamento para isso”. Aí falam “contratamos e depois vemos como fica, futebol é assim mesmo”. Se futebol é assim mesmo, eu não entendo de futebol e nem quero entender. Se entender de futebol é se afastar de princípios éticos e morais, não entendo de futebol.

 

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