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Dia 15/09/2025
19:25
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E que encerramento foi este? Onde tivemos o privilégio de acompanhar um indivíduo, chamado Duplantis, que resolve desafiar a lei mais rígida do universo, a da gravidade, e vencê-la, pela 14ª vez! Foram 6 metros e 30 centímetros de voo, conquistando o título mundial pela 3ª vez seguida. Enquanto seus adversários, ou súditos, eufóricos e incrédulos abraçavam Duplantis, o público japonês aplaudia freneticamente!

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Pela idade, 25 anos, sua jornada rumo ao céu, continuará por muito mais tempo. E sua escalada, sabe-se lá até que altura, segue, gota a gota, centímetro a centímetro, ouro a ouro. Mais um momento inesquecível deste incrível Mundial. Meus olhinhos míopes agradecem.

A emoção de Duplantis com mais um recorde mundial (Foto: Attila KISBENEDEK / AFP)

E o que dizer da prova de pista mais dura e dolorosa do cardápio do atletismo, os 3mil com obstáculo masculino? Onde um neozelandês, que já havia roubado a cena nas semifinais, ao cair e rolar no tartan, e ficar pra trás de um pelotão impiedoso e veloz, levantou e, como na música, sacudiu a poeira e deu a volta por cima. Buscou, de forma incrível, o pelotão que já ia lá na frente, foi ultrapassando um a um, seus adversários e já quase na linha de chegada, não satisfeito já com a classificação garantida, ainda teve vida para, num sprint espetacular, terminar em segundo.

Um jovem ex meio fundista desconhecido, passou a ser conhecido pela garra, e alinhou para a final, hoje, ainda com alguns arranhões no corpo, da queda. Largada da final dada e etíopes, quenianos e marroquinos se sentiam dono da prova, ditando ritmos, arrumando o grande pelotão, num ritmo meio preguiçoso, deixando entender que os donos da prova queriam levar a decisão para a última volta. E assim foi, obstáculos sendo ultrapassados, voltas idem, e ouve-se o badalar do sino, início do fim, última volta, garotada, hora do show.

Etíopes e marroquinos se acotovelando como se não houvesse amanhã, em ritmo de 400 rasos. E um pelotão líder ainda enorme, se prepara para ganhar a reta final. E que final vai ser essa? Muitos gigantes se debatem até os últimos metros. E eis que, faltando menos de 10 metros, uma silhueta magra e veloz, vestida com o manto negro do orgulho da Nova Zelândia e de toda sua rica história no atletismo mundial.     

Geordie Beamish, o grande herói desconhecido do dia, vence. Vence todos os quenianos, que dominaram esta prova por décadas, etíopes, que eram os grandes desafetos dos quenianos e marroquinos, e o marroquino da vez, Soufiane El Bakalli, recordista mundial, bicampeão olímpico e mundial, que já dava o último passo, já sonhando om o peso do ouro em seu peito, sente um vulto lhe ultrapassar, de braços já abertos, se autoproclamando o novo dono dos obstáculos! Outro momento para ser congelado e guardado eternamente, na mente!

Pausa para respirar, e lembrar de outro momento inesquecível deste 3º dia de mundial, as rodadas iniciais dos 400 com barreiras, para homens e mulheres. Apresentações “solo” dos 3 tenores, discretos, quase contidos, mas esbanjando autocontrole e técnica. Definitivamente, é uma maldade essa abundância de gênios barreiristas numa mesma geração! Cada um deles mereciam uma década solo, para que reinassem absolutos.

Mas que sortudos somos nós, que temos o prazer de vê-los, juntos, à duelar nas grandes finais. Warholm, Benjamin e Alison Piu, vocês são gigantes, nos vemos na grande final, assistirei o “concerto” de vocês de pé!

Alison venceu as outras duas etapas da temporada (Foto: Divulgação/ Grand Slam Track)

A versão feminina dessa prova, conta com uma atleta única, que, na final, será desafiada pela esquadra americana (não, não é a que está ancorada no Caribe, ao som de rumba e cuba-libres), de 3 atletas estupendas, que maldizem o ano em que nasceram, o mesmo da holandesa Famke Bol, a diva das barreiras longas. Com leveza ao passar as barreiras e ritmo nas passadas, lá vai Famke Bol para mais um ouro em seu acervo.

Jurei que não iria mais escrever sobre maratona neste mundial, pois a feminina foi tão dramática e cheia de heroínas que cansei. Mas eis que sou atropelado pelo incrível enredo da maratona masculina. Meu Deus, o que foi aquilo? Que desenrolar dramático e que final apoteótico! A vitória foi decidida no último centímetro, pois o empate foi até os centésimos de segundo!! Apenas no photo-chart se conseguiu chegar à conclusão de que havia um vencedor. E ele era o veloz tanzaniano Alphonse Simbu, um maratonista acostumado às provas rápidas, abaixo de 2h05’, mostrou que não tem medo de sofrer, e que a maratona “só acaba quando termina”!

E o que esperar pelo que vem por aí? Afinal, daqui há umas 12 horas, começa o 4º dia em Tóquio, com apenas uma sessão noturna (lá).

O que vem amanhã no Mundial de Atletismo?

Vamos lá, começaremos a jornada de amanhã, aqui cedo, com as eliminatórias dos 800m para homens, que terá baterias eletrizantes. Vivemos uma safra especial de meio fundistas, especialmente corredores de 800 metros, e que deverá nos brindar com duelos espetaculares.

Mas o que mais me chamou a atenção, foi a data de nascimento de um meio fundista americano, Cooper Lutkenhaus, nascido em dezembro de 2008. Sim, um adolescente que teve que levar para Tóquio uma lista de deveres de casa, para ser liberado pelo colégio, e tentar ser o melhor do mundo nas doas voltas da pista. Ele já havia assombrado seu país, ao se classificar em 2º lugar na duríssima seletiva americana para o mundial, com um tempo absurdamente forte, 1’42”, quebrando o recorde mundial para atletas sub 18. Vale acompanhar o desenrolar dessa história, e também a luta de quenianos, americanos, britânicos, espanhóis...adultos! Saudade do tempo em que tínhamos três, dos 10 melhores corredores de 800m do mundo! Já fomos bons nisso também!

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O que dizer de uma final, em que o grande favorito ao ouro, não consegue chegar à final, e deixa o alto do pódio vago, para 8 atletas, que já se acostumavam à ideia de que só restava prata e bronze, nos 110 c/ barreiras! Sim, sem a presença de Holloway, eliminado ainda na rodada inicial, os barreiristas do mundo se assanharam. Acompanhemos este desfecho, inesperado.

Imperdível também serão as semifinais, masculina e feminina, dos 400 metros! Muita gente boa, como a imbatível, até agora, Sydney McLaughlin, Salwa Nasser, Paulino (minha favorita) e Klaver. No masculino, uma multidão de grandes velocistas longos, gente vinda dos EUA, Jamaica, África do Sul, Botswana. Grã Bretanha, com times completos! A pista vai ferver amanhã de manhã!

Se não for nos 400, será, com certeza na final dos 1500 m feminino, com a presença ilustre das 3 quenianas, sob a tutela da maestrina Feith Kipyegon, a dona da prova!

Então é isso, o dia de amanhã terá apenas um turno. Mas que turno!! Nos vemos depois.

Lauter Nogueira

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