VA

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Recebem o devido valor! Equiparação de diárias e premiações é vista como um marco para a Seleção feminina

Decisão da CBF de pôr fim à disparidade surge como vitória de uma batalha de décadas e divisor de águas para a modalidade. Chegadas de Duda e Aline também são celebradas

'Elas farão de tudo para que o Brasil chegue a ser um país que também é do futebol feminino', diz Márcia Taffarel sobre Duda Luzielli e Aline Pellegrino, novas coordenadoras da Seleção feminina (Lucas Figueiredo/CBF)
Escrito por

A sensação de que a CBF passa por um importante divisor de águas no futebol feminino ficou mais latente nesta semana. Os fatos das ex-jogadoras Duda Luizelli e Aline Pellegrino estarem à frente da coordenação da Seleção Feminina e do mandatário Rogério Caboclo anunciar a equiparação das diárias e premiações durante o período da convocação trouxe boas perspectivas às jogadoras que lutaram e também às que seguem lutando por espaço nos gramados brasileiros. Além disto, haverá igualdade no repasse no caso de Jogos Olímpicos ou igualmente proporcional ao repasse da Fifa.

- As chegadas da Aline e da Duda vão trazer algo que faltava no futebol feminino na CBF para que realmente o desenvolvimento ocorra: o comprometimento, amor ao que fazem. Elas farão de tudo para que o Brasil chegue a ser um país que também é do futebol feminino - afirmou, ao LANCE!, Márcia Taffarel.

A ex-meia, que fez parte da primeira Seleção Brasileira feminina a atuar nos Jogos Olímpicos (de Atlanta, em 1996), é taxativa.

- Acho que a vinda da Pia (Sundhage) para o comando da seleção abriu os olhos do nosso presidente da CBF, de que mulheres são capazes sim e que têm a competência de fazer trabalhos de excelência - declarou.

IGUALDADE NAS DIÁRIAS E PREMIAÇÕES: UMA ESPERADA JUSTIÇA

'Foi um primeiro passo, um reconhecimento muito bom', diz Duda, atacante do São Paulo (Foto: Alexandre Guariglia/Lancepress!)

A ratificação da equiparação de pagamentos também foi vista com entusiasmo por quem lida com a rotina dos gramados. Presente na lista de convocadas de Pia Sundhage para os treinamentos da Granja Comary entre os dias 14 e 22 de setembro, a atacante Duda, do São Paulo, apontou.

- Foi um primeiro passo, mas um reconhecimento muito bom, importante. Ansiávamos por isso há um bom tempo. Espero que não pare por aí, que o futebol feminino seja cada dia mais valorizado, não só financeiramente, mas também respeitado - declarou.
 
Atualmente comandante da seleção feminina do Equador, Emily Lima foi franca ao se manifestar sobre a situação da modalidade em solo brasileiro.

- Acho legal o que está acontecendo no Brasil. Já era mesmo hora de acontecerem estas mudanças - disse a treinadora da Seleção Brasileira entre 2016 e 2017.

A medida anunciada pelo presidente da CBF, Rogério Caboclo, garante às mulheres equivalência com os homens no valor para diárias de apresentação ou de treinos e também nas premiações recebidas pelas convocações.  Coordenador de Seleções Femininas entre 2015 e meados deste ano, Marco Aurélio Cunha ressaltou que a decisão aconteceu meses atrás.

- Está em vigor desde março, já veio comigo este desejo de premiação equivalente, fizemos em uma convocação (para o Torneio Internacional da França). Todas as igualdades que as atletas conquistaram em campo foi com muito esforço, com muito diálogo que tivemos - e, em seguida, deixou sua expectativa:

- Torço muito para que a Duda e a Aline tenham um grande caminho como coordenadoras e aproveitem o legado deixado. A Seleção feminina tem hoje muito mais estrutura à sua disposição - completou.

GRANDES ESPERANÇAS

'Acredito que Duda, Aline e Pia contribuam para dar uma visão de carreira às atletas que estão no cenário do futebol brasileiro', diz a especialista Carol Chrispim  (Lucas Figueiredo/CBF)

A mudança de ares é destacada por quem vivenciou muitos obstáculos para vestir a camisa da Seleção Brasileira. Márcia Taffarel crê que há um empenho em fortalecer a equipe feminina.

- A equiparação foi a cereja no bolo. Nossa luta sempre foi por respeito à modalidade e às mulheres que jogam futebol. O anúncio nas diárias e premiações em eventos como Olimpíada e pagamento proporcional nos Mundiais vem realmente mostrar que o presidente Rogério Caboclo está pensando no futebol feminino de uma forma diferente de outras administrações - e ressaltou:

- É uma luta de anos e os resultados estão começando a aparecer. Foram várias reuniões, grupos de trabalho, comitês de futebol feminino, carta aberta à imprensa... Até, finalmente, vermos o que aconteceu ontem (quarta-feira) - complementou.

Ex-coordenador de Seleção feminina, Marco Aurélio Cunha crê que  a CBF tem um bom caminho para pavimentar. 

- Além das diárias e as premiações, conseguimos um aumento no número de participantes do Campeonato Brasileiro feminino. Temos tanto a Série A1 quanto a Série A2, tudo conquistado com muito diálogo com o presidente, para que a modalidade tivesse mais representatividade. Isso aumentou, inclusive, o número de jogadoras que voltaram para cá - disse.

Consultora responsável pelo desenvolvimento de estudos, pesquisas e projetos relacionados ao futebol feminino da OutField Consulting. Carol Chrispim exata a mudança de rumos na modalidade no Brasil.

- Vejo esta toada desde a Copa do Mundo feminina, no ano passado, que teve um impacto muito grande. Os amistosos da Seleção feminina e as competições nacionais começaram a ser transmitidas na televisão. Você começa a reconhecer as jogadoras da mesma forma que os homens são reconhecidos. É importante apontar o quanto o Brasil deseja que o futebol feminino tenha condições de correr com suas próprias pernas. Proporcionalmente, seria o que aconteceu com a WNBA (Liga de Basquete Feminino) nos Estados Unidos - disse.

Aos seus olhos, as confirmações de Duda Luizelli e Aline Pellegrino são essenciais para esta transição no futebol feminino.

- Acima de serem jogadoras que vivenciaram em campo os desafios da modalidade, a Duda e a Aline conhecem uma outra parte do futebol feminino. A Aline estava desde 2016 à frente da organização das competições femininas na Federação Paulista (de Futebol), enquanto a Duda vem desde 2017 com experiência à frente da equipe feminina do Internacional. O fato de ocuparem cargos cada vez mais altos contribuirá para que elas ajudem a desenvolver uma boa estrutura para as jogadoras - e, em seguida, destacou:

- Acredito que a Duda, Aline, Pia (Sundhage) contribuam para dar uma visão de carreira às atletas que estão ganhando espaço no futebol brasileiro - completou.

CBF SEGUE UM CAMINHO INCOMUM NO ÂMBITO ESPORTIVO

Além da CBF, só a Noruega, Austrália e Nova Zelândia têm equiparação salarial (Rener Pinheiro / MoWA Press)

A decisão da CBF equiparar tanto os valores das diárias quanto das premiações por convocações chamou atenção por ser algo que não acontece de forma corriqueira no esporte. A entidade é apenas a quarta federação que tomou esta medida no futebol. 

Anteriormente, a igualdade salarial foi determinada apenas em outros três países. A Nova Zelândia, a Austrália e a Noruega já tinham tomado esta atitude em campo. A Liga Mundial de Surfe (WSL) também anunciou que não haveria distinção no valor da premiação para homens e mulheres a partir de 2018. 

País com maior projeção em Copas do Mundo feminina e nos Jogos Olímpicos da modalidade, os Estados Unidos ainda lidam com uma intensa batalha de reconhecimento das jogadoras.

- Há uma guerra contra a US Soccer, que chegou aos tribunais! No ano passado, a conquista da Copa do Mundo rendeu um momento comovente, que foi a torcida gritando "equal pay" (igualdade salarial) - disse Carol Chrispim.  

Atualmente morando nos Estados Unidos, Márcia Taffarel fala sobre a situação americana e recorda o empenho que as jogadoras brasileiras têm há muitas década.

- Aqui (nos Estados Unidos) a luta sempre foi pela igualdade, pois a seleção feminina traz recursos e títulos à US Soccer. No Brasil, nossa luta sempre foi por respeito à modalidade e às mulheres que jogam futebol - frisou.

Carol Chrispim projeta novos desafios para o futebol feminino se superar no Brasil.

- Um deles é ganhar ainda mais visibilidade. Temos hoje a TV aberta, que transmite partidas do Campeonato Brasileiro, mas há a necessidade de criar um ambiente atrativo em torno dele. Há uma resistência ainda na programação. O outro é ampliar o calendário, que já era curto e, em meio à pandemia de Covid-19, se tornou curtíssimo - e emendou:

- O futebol brasileiro feminino passa por um momento de transição, de uma nova geração surgindo. É importante que as atletas comecem a se conscientizar disso - completou.