O Estádio Olímpico de Londres assistiu à consagração de Usain Bolt, mas também acompanhou a ascensão de Yohan Blake ao posto de gigante do Olimpo. Blake, de 22 anos, terminou os Jogos com duas pratas (100m e 200m) e um ouro (4x100m), mas a verdade é que poderia ter levado os três.
O jovem jamaicano deu um autêntico "calor" em Bolt, a quem já vencera duas vezes na seletiva olímpica de seu país, em junho. Nos 100m, chegou 12 centésimos atrás (9s63 contra 9s75), assim como nos 200m (19s32 ante 19s44). No revezamento, ambos se uniram pela Jamaica e quebraram o recorde mundial (36s84). Curiosamente, nenhum dos dois melhorou as marcas pessoais.
Ainda assim, Blake saiu em alta do maior evento do planeta.
Mais do que o bom desempenho que lhe rendeu o simbólico título de "segundo homem mais rápido do mundo", Blake deu mostras de que pode ser a grande sensação do atletismo mundial neste próximo ciclo olímpico que culminará no Rio-2016.
- Ainda sou muito jovem, embora tenha obtido algumas conquistas em minha carreira. Tenho coisas a desenvolver tanto como velocista quanto como homem. Vou ficar mais forte física e mentalmente com as experiências que tive nesta última Olimpíada - afirmou Blake, em entrevista exclusiva ao LANCENET!.
Mesmo com a crença de que pode melhorar, Blake já é o segundo atleta mais rápido da história tanto nos 100m ( sua melhor marca é 9s69) quanto nos 200m (19s26). E, para facilitar suas ambições, ele treina em Kingston com Glen Mills, justamente o responsável por formar Usain Bolt.
- Eu deixo toda minha preparação na mão de Glen. Ele é o maior - disse o velocista, que tem um flagrante por doping na carreira (em 2009, foi pego com estimulante).
O entrosamento da dupla vem de longa data. Blake, que é conhecido como Besta no atletismo, pela intensidade com que treina (leia mais ao lado), se tornou o mais jovem campeão mundial dos 100m da história em Daegu (CDS), em 2011.
Mas o que devia ser uma façanha acabou ofuscada por um erro. Naquela prova, Bolt queimou a largada e foi desclassificado. Blake, o campeão de fato e direito (com um tempo de 9s92), pouca atenção recebeu. Mais do que isso, chegou a ser alvo de desconfiança.
Uma das maneiras de corrigir essa injustiça histórica é brilhar na Olimpíada do Rio, em 2016. O atleta ressaltou que estará no auge da forma na Cidade Maravilhosa para competir novamente com Bolt, de quem é amigo e companheiro de treino.
- Não sei se serei a sensação no Rio. Mas o que sei é que estarei lá no auge da minha forma para competir contra o restante do mundo e tentar ganhar. Estou ansioso para a Olimpíada e treinarei muito para conquistar meus objetivos - frisou.
BATE-BOLA
1) Usain Bolt sempre disse que queria se tornar uma lenda. Esta é uma ambição sua também?
Usain é uma lenda. Uma lenda viva. Não há dúvida sobre isso. Mas eu também tenho meus objetivos. E para mim é importante alcançá-los, e trabalho muito para isso. Minha meta é vencer muitos campeonatos, tudo o que conseguir. Aí, se conseguir, deixo para outras pessoas decidirem o título para me descrever.
2) Você acha que pode bater os recordes de Bolt nos 100m (9s58) e 200m (19s19)? Se não, qual acha que é seu limite?
Eu não gosto de fazer previsões. É esperar para ver. Eu só quero melhorar meus tempos.
3) A rivalidade que você tem com Bolt na pista afetou a amizade?
Usain é meu parceiro de treino e amigo. Eu tenho muito respeito por ele e sempre terei.
Apelido foi 'presente' de Bolt
Sempre que é anunciado antes de uma prova, Yohan Blake faz seu ritual: levanta a cabeça, inicialmente abaixada, revira os olhos que se estivesse em transe e empunha as mãos tal como uma garra.
Se não tem a descontração de Usain Bolt, Blake ao menos encara seu personagem. No mundo do atletismo, ele é A Besta.
O apelido foi dado por Bolt. Surpreso com a intensidade do jovem colega de treino, o bicampeão olimpico passou a chamá-lo assim. E a alcunha pegou.
- Eu treinei tão duro um dia que Usain virou para mimem disse: "Yohan, meu Deus, você treina como uma besta". E isso ficou na minha cabeça. A imitações não sei de onde veio, mas foi natural - disse Blake ao LNET!.
O jamaicano, que se autodefine como "muito tímido", afirmou que a brincadeira antes do início das corridas, tem ajudado.
- Há tanto nervosismo nas largadas que é preciso fazer algo para dissipá-lo. Por isso eu me transformo na Besta (risos).