Dia 28/10/2015
03:24
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Se Maranhão sonhar em fazer história pelo Cruz Azul, de preferência com gol para agradar à torcida do São Paulo, outros dois ex-tricolores já fizeram isso pela equipe mexicana. Pintado, hoje treinador do Linense, e Edcarlos, que recentemente acertou com o Sport, atuaram pelo rival corintiano desta quarta-feira. Em entrevista exclusiva ao LANCENET!, os dois falam sobre o que o Timão vai encarar no Estádio Azul, qualidades da equipe de Enrique Meza, pressão por falta de títulos, entre outros assuntos....

BATE-BOLA COM PINTADO
Atual treinador do Linense

O que pode falar sobre o Cruz Azul e de sua passagem pelo clube?

Eles têm uma estrutura maravilhosa, com uma filosofia de valorizar o lado profissional, o lado sério do futebol. É um clube que não precisa de parceria, independente, que é bancado por uma companhia de cimento. Eu cheguei lá em 1993 e consegui ser campeão, algo que o Cruz Azul não conseguia havia algum tempo. Eu fiz até o gol do título naquela ocasião. Eu jogava de segundo volante, com a camisa 7, fazia muitos gols e tive uma ótima passagem por lá.

Ainda tem contato com o pessoal?

Sim, claro. Pelos resultados que eu consegui lá, deixei um grande laço de amizade. Tenho contato com o presidente até hoje, minha ligação é forte. Sempre que eles precisam de alguma informação do Brasil, eu sou a pessoa procurada para ajudá-los. O treinador foi o mesmo que me levou para o México, é um cara que eu tenho um carinho enorme.

Eles foram para o Brasil para ver o Corinthians? Você ajudou nessa logística?

Eles já têm bastante informações, mas vieram aqui no fim do ano, na reta final do Brasileirão. Recentemente, as pessoas do Cruz Azul estiveram no Pacaembu para ver a partida contra o São Paulo. Eu não precisei ajudá-los tanto assim, já sabiam como vir e ver o jogo.

O que a equipe de Tite encontrará no México?

Um adversário que faz questão de jogar bonito, que traz essa obrigação pela própria filosofia do clube e do futebol mexicano. É uma equipe que se preocupa mais em jogar bonito do que ser competitiva, de bom elenco. Acredito que o Corinthians vai encarar um rival que joga e deixa jogar, que não dá chutão.

Qual o segredo para enfrentá-los no Estádio Azul?

É pressioná-los na defesa, como o Corinthians fez bem durante boa parte do Brasileirão. Eu não tenho dúvida de que isso será necessário, eles precisam estar incomodados de sair lá de trás, algo que eles fazem sempre e o treinador dá liberdade e assume qualquer problema que possa haver por essa maneira de jogar. É uma equipe que até exagera nessa função de sair jogando lá de trás, sem dar bicões.

O Corinthians tem chance de ganhar no México?

Eu acho que sim, o conjunto é superior ao do Cruz Azul. Mas o Corinthians tem que não se descuidar dos detalhes, senão, vai ser surpreendido. Isso eu posso garantir...

Quais detalhes? Pode dar um exemplo?

A altitude é um desses detalhes. Vão sentir dificuldade, não tenho dúvida. A poluição da cidade também é um detalhe que passa despercebido, mas que atrapalha a quem não está acostumado. É bem pior do que São Paulo. Apesar de o jogo ser à noite, o calor também costuma pegar. Esses detalhes são importantes. Acredito que, em relação à altitude, dois dias apenas não serão suficientes para adaptação, pelo contrário. Eu penso que os jogadores do Corinthians podem sentir bastante dentro do próprio jogo. Não todos, é claro, isso é algo de cada organismo. Mas muitos devem sentir.

O Estádio Azul preocupa?

As condições são espetaculares. Eu, aliás, fui autor do primeiro gol lá dentro quando o clube resolveu abandonar o Azteca e voltar para lá, assim que o Atletic resolveu se mudar do estado. O gramado vai ajudar o bom futebol, o toque de bola, mas isso é algo que facilita o jogo.

E a torcida? É agressiva?

Não, de jeito nenhum. É mais parecida com a do São Paulo, mais tranquila. O clube faz questão de ter famílias inteiras no estádio, de preservar essa imagem de ter uma torcida que respeita os adversários.

Eles vêm de um período sem título...

A pressão para ganhar o local é grande, eu diria que é enorme. O clube investe pesado e não vem conquistando. Sem dúvida, isso faz com que o treinador e os jogadores se sentiam pressionados no dia a dia.

BATE-BOLA COM EDCARLOS
Zagueiro do Sport

Quanto tempo você ficou no Cruz Azul?

Foi uma passagem de oito meses, cheguei em janeiro e saí em agosto. Quando eu recebi a proposta do Cruzeiro, com filha pequeno, eu resolvei voltar ao Brasil.

Nasceu lá?

Sim, minha filha Julia é mexicana. Ela nasceu lá...

E o que pode dizer da Cidade do México?

É bacana, lembra São Paulo pela correria, que até maior maior. O trânsito também é pior, bem pior (risos). Mas o pessoal é receptivo, adoram brasileiros por lá. Quando eu fui, fiquei com receio da violência, que tinham me dito que era complicado. Mas não tive problema, não.

A estrutura do Cruz Azul é tão boa quanto de São Paulo e Cruzeiro?

Sim, lá é bem legal. Tem um Centro de Treinamento que dá toda estrutura e um treinador que vem há anos fazendo seu trabalho. A pressão é grande porque eles perderam a s últimas finais que disputaram e existe esse fantasma lá no Campeonato Mexicano, que faz pressão no dia a dia. Dinheiro é tranquilo, eles pagam em dia. O presidente é dono de uma cimenteira, dinheiro não é problema lá. O campeonato é organizado e com muito público.

Você ainda tem contato com o pessoal do Cruz Azul?

Com alguns eu falo até hoje. O Cristian Gimenes, que é chamado lá de "Tchaco", ele é argentino e está lá há uns sete anos. Mantenho contato, sim.

E o time? Quem são os que mais podem atrapalhar o Corinthians?

Emanuel Villa é um atacante forte, trombador, que vai dar trabalho para a zaga. Os defensores têm qualidade para sair de trás, não dão chutão. Aliás, isso é a cultura do treinador, ele proíbe que jogador não toque a bola, que dê bicão na zaga. A ausência do Torrado, que é da seleção mexicana e um dos líder do grupo, pode ajudar, é uma perda grande para o time. Ele está lesionado...

O que tem que fazer para ganhar lá dentro?

O Cruz Azul é um time que roda a bola, que não força jogada, que espera para atuar pelos cantos do campo, usando atacantes que são fortes pelo meio. Eles usam demais a bola pelos lados do gramado. O Corinthians terá que ficar bem postado, ajustado em campo, de preferência, não deixando o time deles jogar.

E o Estádio Azul? Ambiente, torcida, gramado...

A torcida é apaixonada, mas não agressiva, que vai no jogo vai só para ver e apoiar a equipe. A arquibancada não fica tão próxima, dá para jogar tranquilo. O campo é maravilhoso, de grama baixa, a bola rola rápido demais, mas isso é de propósito porque ajuda a equipe, que toca bem a bola. E como você vê o Corinthians?

É um time que tem um sistema sólido, eu acredito que tem boas condições de conseguir um empate. Mas vai encontrar um adversário que está empolgado porque não disput a a Libertadores há alguns anos. Vai ser complicado, vou ficar em cima do muro, acho que dá empate (risos). O que eu posso garantir é que será um jogo movimentado, lá a bola fica pouquíssimo fora do campo. Vai dar placar mínimo, para um dos lados...

Desse atual elenco, você tem amizade com alguém?

Sim, falo sempre com o Fábio Santos, que é meu parceiro, fizemos uma amizade muito grande no São Paulo. Eu e o Douglas saímos do Grupo quase juntos e temos boa relação. Mas é o Fábio que é meu amigão lá mesmo.

E a altitude? É algo preocupante mesmo?

Eu não senti tanto, mas o Maxi Biancucchi (hoje no Olímpia-PAR) sentiu. Isso é de jogador para jogador, não é aquela coisa da Bolívia, é mais light, mas é bom ficar esperto mesmo. Não é certo que todo mundo vai sentir, mas um ou outro pode, sim.


BRASILEIROS NA HISTÓRIA DO CRUZ AZUL

Carlos Eloir Perucci, atacante que teve passagem apenas pelo futebol mexicano. Foram quase 200 gols na Liga daquele país. No Cruz Azul, atuou três temporadas: 1981-82 (21 gols), 1982-83 (nove gols) y 1983-84 (15 gol), somando 45 deles. Também atuou no Laguna e no Atlético Español.

Pintado, atuou no período 1993/96, sendo vicecampeão mexicano 94/95 e campeão da Copa México 96. Volante disputou 86 partidas e marcou 15 gols

Julio César Pinheiro, atuou no Cruz Azul entre os anos de 1999 e 2003. O volante/lateral-esquerdo foi vicecampeão do campeonato local em 99 e vice da Libertadores de 2001. Em terras mexicanas, atuou ainda no Celaya (1997-1998), Atlas (Clausura 2004), Monterrey (Apertura 2005) e Pumas (Clausura 2006).

Danilo Vergne, volante chegou ao Cruz Azul em 2006. Atuou apenas seis jogos, em pouco mais de 200 minutos em campo. Foi embora pela porta de trás, pedindo rescisão contratual.

Edcarlos, zagueiro chegou em janeiro de 2010 à equipe mexicana. Cerca de oito meses depois, após 16 partidas e um gol com a camisa azul, brasileiro voltou para seu país com objetivo de jogar no Cruzeiro.

Maranhão, atacante que deixou o Bahia para atuar no Cruzeiro, em fevereiro deste ano, atuou oito vezes e ainda não marcou gol.

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