Um sopro do destino, encarnado em Waldemar de Brito, fez um franzino menino parar na Vila Belmiro. E a partir daquele 8 de agosto de 1956, o Santos seria um colecionador de glórias como nenhum outro no futebol brasileiro. Na era Pelé, foram quatro títulos do Rio-São Paulo, dez títulos paulistas, seis nacionais, dois continentais e dois mundiais. Ufa! Isso para não falar das milhares de excursões domésticas e internacionais, dos mais de mil gols, festejados com mais de mil socos no ar e coração a mil. Pelé e Santos se confundem. Parecem duas entidades afinadas. A coroa do Rei deveria carregar o símbolo alvinegro em alto relevo. Após sua despedida, em 1974, o mito passou a pairar sobre a Vila Belmiro. Jogadores que vestem a 10 sentem o fardo que a camisa suporta. O fardo de uma eternidade de cem mil anos!
Por Valdomiro Neto
Linha do tempo de Pelé:
1- Pelé quase foi parar no Bangu antes de chegar no Santos. Tim era o treinador do time carioca e esteve em Bauru, mas sua mãe, Dona Celeste, não queria que fosse para o Rio de Janeiro. O ex-jogador Valdemar de Brito foi quem convenceu o pai do garoto, Doninho, já que era seu amigo, a levá-lo para Santos.
2 - No Santos, Pelé ganhou o apelido de Gasolina de craques como Jair Rosa Pinto e Zito, espantados com a movimentação do garoto nos treinos. Em uma final pelo time juvenil, perdeu um pênalti e ficou arrasado. Quis deixar o alojamento da Vila, onde morava, mas foi convencido a ficar.
3 - Sua primeira partida pelos profissionais do Santos foi na vitória por 7 a 1 sobre o Corinthians de Santo André, em 7 de Julho de 1956, ainda aos 15 anos de idade. Fez um gol.
Busto pelo golaço marcado na Rua Javari
4 - Marcou um golaço na Rua Javari, contra o Juventus, que ele mesmo considera um dos mais bonitos de sua carreira. Arrancou da intermediária, driblou metade do time da casa e fez. Com bronca da torcida que pegava no seu pé, deu o soco no ar como resposta, gesto que ficou famoso em suas comemorações a partir dali.
5 - Em 1957, Pelé disputou um torneio internacional pelo combinado Vasco/Santos. Se destacou, marcando gols em todos os jogos, e chamou a atenção do então treinador da Seleção Brasileira, Silvio Pirillo. Foi convocado logo depois.
Com a faixa de seu primeiro Paulistão, em 1958
6 - Conquistou seu primeiro Paulista em 1958. No ano seguinte, serviu o Exército, mas não deixou de atuar pelo Santos. Nessa época passou a atuar com Coutinho, a quem considera um dos melhores jogadores com quem atuou. Disputou 103 partidas no ano por Santos, Seleção Brasileira, Forças Armadas e jogos festivos. Com o Peixe, chegou a jogar 22 partidas em um intervalo de seis semanas, em 14 países diferentes. Foi campeão do mundo pelo Brasil, na Suécia.
7 - Com 19 anos, em meio a um avalanche de propostas do exterior ignoradas pelo Santos, Pelé conquistou o Torneio Rio-São Paulo em 1959. Os títulos deslancharam.
8 - Em 1961, jogou seis partidas em três semanas em setembro, com 23 gols, uma média de 3,8 gols por jogo. Inaugurou o termo "Gol de Placa" ao marcar um golaço contra o Fluminense, no Maracanã: driblou cinco adversários e o goleiro Castilho.
Marcando um dos gols contra o Benfica, no Mundial
9 - Após se lesionar na Copa do Mundo de 1962, voltou para conquistar a Libertadores. Na partida desempate da decisão, contra o Peñarol, em Buenos Aires, fez dois gols na vitória por 3 a 0. Depois venceu o Mundial de Clubes, com duas vitórias sobre o Benfica, anotando dois gols no primeiro jogo e três no segundo.
10 - Em 1963 voltou de uma contusão para marcar o gol decisivo da virada sobre o Boca Juniors, da Argentina, para sagrar-se bicampeão da Libertadores. No Mundial de Clubes marcou dois na derrota fora de casa para o Milan, mas ficou lesionado e fora nos outros dois jogos que deram o titulo ao Peixe.
11 - Pelé parou uma guerra no Congo Belga (atual República Democrática do Congo) em 1969. Em excursão à África, o Santos fez um amistoso contra Congo e as forças de Kinshasa e Brazzaville cessaram a guerra para poder acompanhar o jogo. O Peixe fez quatro jogos e Pelé marcou cinco gols.
12- Venceu com o Santos a seleção juvenil colombiana por 4 a 2, em 1968. O detalhe é que Pelé foi expulso pelo árbitro colombiano Guillermo Velásquez. Ante os protestos dos torcedores, o juiz preferiu se afastar e deixou a partida nas mãos de seu assistente, o também colombiano Omar Delgado Piedrahita, que logo chamou o Rei de volta ao campo.
Em ação contra o Vasco, no jogo de seu milésimo gol
13 - Marcou seu milésimo gol, de pênalti, no Maracanã, contra o Vasco, em novembro de 1969. Na comemoração, disparou: "Pensem nas criancinhas".
14 - Depois do tri com a Seleção no México, o Rei começou a viver uma queda com o Santos. Em 1973 conquistou seu último Paulista, foi o artilheiro da competição pela décima-primeira vez. Em outubro de 1974, marcou seu último gol pelo Santos, contra o Guarani. Logo depois, diante da Ponte Preta, fez sua despedida do Peixe.