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O domingo pode até ser de alegrias para o torcedor alvinegro, já que o Botafogo recebe o Duque de Caxias no Engenhão, com tudo para começar o Campeonato Carioca com o pé direito. Porém, historicamente, a data de hoje é de triste lembrança para qualquer botafoguense. Foi num 20 de janeiro, há exatos 30 anos, que morreu Mané Garrincha, a "Alegria do Povo". Considerado um dos jogadores mais geniais de todos os tempos, e maior ídolo do Glorioso, Mané se foi antes de completar meio século de vida, deixando um vazio grande no coração dos brasileiros, mas um legado importantíssimo no futebol do país.
O jornalista Roberto Porto, que acompanhou de perto a carreira do craque, não nega que os já conhecidos problemas com a bebida foram determinantes para o declínio - e posterior morte - de Mané Garrincha. No entanto, o historiador afirma que não foi só isso. Uma artrose no joelho e uma cirurgia, já quando o Anjo das Pernas Tortas ultrapassava a casa dos 30 anos, impediram suas intrépidas arrancadas e ajudaram para que o gênio tivesse seu jogo limitado.
- O Garrincha teve problemas com lesões. Diziam que ele tomava infiltrações, mas não era bem isso. Ele tinha uma artrose no joelho, mas se tratava com o Lídio Toledo (ex-médico do Botafogo). Quando tinha um inchaço, o Lídio substituia o fluido normal do joelho por outro que dava mais mobilidade ao Mané. O problema é que, mais tarde, fizeram uma operação imbecil, retirando os meniscos dele. E isso foi o que acabou com o jogo dele. Nem sei como o Corinthians aceitou comprá-lo, em 1965 - afirmou.
Se o supersticioso botafoguense é hoje tão apegado ao número 7, que tantas vezes fez parte da História alvinegra, deve isso a Garrincha. Foi com esta camisa que o Mané se tornou gênio e infernizou defesas mundo afora. Para Roberto, uma hipotética "aposentadoria" da camisa seria um reconhecimento válido pelos trabalhos do craque:
- Acredito que seria válido, sim. O Garrincha foi um craque e quem realmente incensou a mística da camisa 7. Depois dele, outros tantos vieram, como Maurício e Túlio Maravilha. Acho que a homenagem seria merecida.
NOME E DATA DE NASCIMENTO SÃO CONTESTADOS
Quase 80 anos depois de seu nascimento, Mané Garrincha ainda tem sua vida como alvo de historiadores e escritores. A cada ano, descobre-se uma nova história. Roberto Porto, por sua vez, contesta o nome e a data de nascimento do camisa 7, da maneira que são conhecidos publicamente.
Roberto diz ter em casa a certidão de nascimento de Garrincha e garante que o nome completo do craque não é Manoel Francisco dos Santos, como se conhece atualmente, mas apenas Manoel dos Santos.
- É preciso ter cuidado ao chamá-lo de Manoel Francisco, porque esse nome do meio não existe no registro oficial. Francisco foi um nome que ele colocou mais tarde para homenagear o pai. O nome dele era apenas Manoel dos Santos, sem outro nome no meio.
Outro "mito" derrubado por Roberto é o do aniversário de Garrincha. Sabe-se publicamente que o Mané veio ao mundo em 28 de outubro de 1933, mas o escritor garante que tudo não passa de mais uma das inúmeras tentativas de comparação com Pelé, e que o alvinegro nasceu antes disso:
- Ele nasceu antes disso, foi lá pelo dia 19 de outubro. Mais tarde, tentou-se comparar o Garrincha ao Pelé, que nasceu em 23 de outubro. Mas a verdade é que ele não é do fim do mês, veio ao mundo alguns dias antes do que é falado por aí.
GARRINCHA: MAIS QUE UM PONTA-DIREITA
Garrincha ganhou notoriedade mundial na ponta-direita. O camisa 7 se notabilizou pelas jogadas quase circenses, em que deixava marcadores perdidos e fazia dribles desconcertantes. No entanto, ele tinha tanta criatividade e liberdade que não gostava de ficar apenas limitado a uma faixa do campo. Isso fez com que ele mudasse algumas vezes.
Em 1962, por exemplo, Garrincha teve a incumbência de ser a grande estrela brasileira após a lesão de Pelé, contra a Tchecoslováquia. Nas quartas de final, diante dos ingleses, o Mané atuou "fora de posição". Com pinta de tudo, menos ponta-direita, fez dois belos gols e conduziuo Brasil adiante no Mundial.
- Garrincha ficava bravo quando mandavam-no jogar só na direita, ele era criativo. No Chile, ele foi lá para o lado esquerdo, batia a bola no ângulo do goleiro, fazia até gol de cabeça! E foi jogando desta forma que ele fez o melhor dos Mundiais que disputou - afirma Roberto Porto.
Com os quatro gols de 1962, Garrincha soma cinco em Mundiais (passou em branco em 1958 e marcou uma vez em 1966).
BATE-BOLA
Roberto Porto
Jornalista e historiador, em entrevista exclusiva ao LANCE!Net
Desde cedo, já era possível saber que o Garrincha brilharia?
Sim, assisti à estreia dele com meu tio, em 1953. O Botafogo venceu o São Cristóvão e o Mané fez chover. Mas ele era pouco conhecido e, quando perguntei a meu tio quem era aquele jogador, ele me respondeu "Gualicho", que era o nome de um cavalo argentino que ganhou o GP Brasil de Turfe naquele ano. O Mané só não brilhou antes porque o Botafogo demorou a encontrar um esquema de jogo para isso.
Garrincha só foi ser titular no terceiro jogo do Mundial de 1958. Feola não gostava dele?
Não gostava muito, mas ficou com raiva mesmo em um amistoso do Brasil contra a Juventus (ITA), antes da Copa. O Garrincha pegou uma bola na direita, driblou o marcador, o goleiro, mas esperou que ele se levantasse. Quando isso aconteceu, tornou a driblar o goleiro e aí fez o gol. O Feola ficou uma fera e passou a escalar o Joel, do Flamengo, até que o Didi e o Nilton Santos pediram que o Mané entrasse, o que aconteceu contra a União Soviética.
Houve alguma história curiosa envolvendo Garrincha e seus rivais?
Sim, em 1957, o Botafogo atropelou o Fluminense na final do Carioca: 6 a 1. Quando já estava 4 a 1, o Telê (Santana, então ponta-direita do Flu) pediu ao Didi ou ao Nilton Santos que Garrincha parasse de desmoralizar o Altair e o Clóvis, os marcadores dele, porque o Botafogo já era campeão. E o Mané, que não tinha nenhum compromisso com essas coisas, não tomou conhecimento: continuou driblando todo mundo até o fim do jogo. Ele era ele, mais nada.