Dia 27/10/2015
23:32
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O salto com vara é uma modalidade extremamente técnica, em que cada pequeno movimento pode influenciar no resultado final. E foi apostando na pessoa que mais entende do assunto que a brasileira Fabiana Murer chegou ao seu auge na última terça-feira com o título mundial inédito para o Brasil.

Paralelamente ao trabalho que faz com Élson Miranda, seu técnico e marido, Murer vem sendo orientada há alguns anos pelo treinador ucraniano Vitaly Petrov, mestre na arte do salto com vara. Foi ele quem levou o também ucraniano Sergey Bubka  e a russa Yelena Isinbayeva a serem os melhores da história na modalidade.

Na última quarta-feira, Murer se derramou em elogios a Petrov em entrevista ao LANCENET! por telefone, diretamente de Daegu (CDS), onde foi campeã mundial.

Segundo a brasileira, todos os seus resultados são devido ao trabalho feito recentemente com o ucraniano. E ainda acrescentou que, se Petrov não tivesse cruzado seu caminho, talvez já tivesse abandonado as pistas.

Leia abaixo a entrevista concedida pela saltadora:

LANCENET!: Como foi o seu primeiro dia como campeã mundial?
Fabiana Murer: Foi ótimo. Dormi bem pouco, fui para a cama tarde e acordei cedo. A competição passava de novo na cabeça e não conseguia mais dormir. Eu também conversei com o Vitaly (Petrov, consultor de Fabiana), ele estava bem contente. Ele já iria embora hoje (quinta-feira), e ficou satisfeito com o que aconteceu. Fui para a casa que a Nike (patrocinadora de Fabiana) fez para os atletas onde eu fui recepcionada. Acho que dormi umas quatro ou cinco horas no máximo. Também fiz uma massagem para recuperar, só isso. Foi um dia bem tranquilo, bem parado.

LNET!: Como você avalia seu desempenho na final, em que você errou pela primeira vez apenas na marca dos 4,80m, já no fim da prova?
FM: Acho que minha prova foi muito boa. Eu, o Vitaly e o Élson (Miranda, técnico e marido de Fabiana) acertamos na adaptação das varas e dos postes. Quando saltei os 4,80m o erro aconteceu porque a vara ficou fraca. Eu estava bem confiante, certa do que tinha de ser feito. Era meio que automático, eu estava bem treinada.
LNET!: Foi uma surpresa para você o fato de atletas tidas como favoritas, como a Yelena Isinbayeva e a Jennifer Suhr, não terem ido bem?
FM: Foi um pouco. Eu esperava que a Yelena e a Suhr iriam saltar alto, e eu não esperava que a alemã (Martina Strutz, vice-campeã com 4,80m) iria saltar tão alto, ela foi competitiva. Eu esperava que as outras atletas saltariam 4,75m ou 4,80, mas isso acabou não acontecendo. A (Svetlana) Feofanova eu achava que poderia estar no pódio, já que ela foi recordista mundial no passado.

LNET!: Antigamente era quase impossível vencer com a Yelena Isinbayeva na pista. Isso mudou?
FM: Realmente era difícil antigamente pensar em medalha de ouro, se ela fizesse o melhor dela seria difícil passá-la. Agora o nível está mais equilibrado.

LNET!: Você chegou a conversar com  Isinbayeva depois da prova, para saber o motivo dela não ter ido bem?
FM: Não cheguei a conversar com ela.

LNET!: O que representa para sua carreira ser a primeira brasileira a conquistar uma medalha de ouro no atletismo em Campeonatos Mundiais?
FM: Fico muito contente com isso, de fazer história. É um título importante, era uma medalha que faltava para o Brasil. Fico contente por conquistar isso.

LNET!: Em entrevista após a prova e publicada no site da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo), você disse que seu objetivo é saltar cinco metros em 2012. Isso é possível?
FM: Acredito que tenho condições de saltar 5m. Atingir a marca de 4,90m eu mostrei no Mundial que é uma realidade. Mas 5m é a marca que quero atingir no ano que vem.

LNET!: Com os títulos conquistados recentemente, você acha que conseguirá afastar a imagem que ficou de você em 2008, da atleta que perdeu as varas na final da Olimpíada?
FM: Foi uma fatalidade, mas até hoje escuto as pessoas falarem disso. Durante o Mundial aqui em Daegu encontrei um chinês que era meu fã, e que disse que estava em Pequim. É uma coisa que vai ficar marcada. É lógico que as pessoas estão vendo o que eu estou fazendo, mas ainda vão lembrar disso.

LNET!: Apesar de não ser tão badalada no Brasil até pouco tempo atrás, você possui um currículo vitorioso com títulos no Pan-Americano, Liga de Diamante e Campeonato Mundial indoor. Falta apenas a medalha olímpica então.
FM: Falta essa medalha olímpica, mas não vai ser fácil. A competição vai ser forte, vou precisar me preparar melhor do que no Mundial. Todas as atletas irão para ganhar medalha. Acredito que eu terei de melhorar, por isso que quero saltar 5m, para ter chances reais de medalha.

LNET!: No Mundial, a impressão que se teve ao ver a final do salto com vara foi de que o nível das atletas aumentou e a prova ficou mais competitiva. Isso realmente acontece?
FM: Há mais atletas saltando 4,70m. A grega Niloléta Kiriakopoulou fez 4,65m no Mundial, mas já fez 4,71m neste ano. E teve também a alemã, que saltou alto. Está subindo o nível do salto com vara, todas estão evoluindo, e há outras atletas com condições de fazer 4,80m.

LNET!: O atletismo ainda depende de algumas estrelas esporádicas para ganhar medalhas, principalmente nos últimos anos. O que fazer para não ficar tão dependente de poucos?
FM: O atletismo vem crescendo no país. Temos apoio, incentivo, e um trabalhno está sendo feito para 2016. Estamos trazendo técnicos estrangeiros, um deles ajudou um decatleta (Luiz Alberto de Araújo) a ir para o Mundial. Com o tempo as coisas irão se desenvolver, assim como está acontecendo nas provas de lançamento e arremesso, que ainda tem coisas a evoluir. É uma questão de tempo, como foi comigo. Levei dez anos para ser campeã mundial, com a ajuda do trabalho do Vitaly. Para 2020 espero que o Brasil já seja uma grande potência.

LNET!: Qual é a parcela que o Vitaly Petrov tem de influência em seus resultados?
FM: Desde quando comecei a treinar com o Vitaly Petrov, todos os meus resultados eu devo a ele. Se não tivesse trabalhado com ele, não teria os resultados que tenho hoje. Talvez eu até tivesse parado de competir se não fosse isso, já que poderia não evoluir minhas marcas. Devo a ele 100% dos meus resultados.

LNET!: Ainda na entrevista publicada pela Iaaf, você diz que a imagem do salto com vara vem mudando no Brasil. Como isso vem mudando?
FM: Há uns três anos atrás, visitei umas meninas onde eu treinava ginástica artística. Elas falaram que, depois da ginástica, queriam ir para o salto com vara. Teve uma que até chegou a fazer teste.  Há gente querendo fazer salto com vara, mas há poucos locais para se treinar no Brasil. Esse é um dos problemas da modalidade, porque é preciso um bom colchão, entre outras coisas, e tudo isso acaba dificultando.

LNET!: Você gostaria de desfilar no caminhão dos bombeiros quando chegar no Brasil?
FM: Acho que não pode mais, mas não faço muita questão, não sei se teria tempo. Quero viajar para descansar, não posso fazer tanta festa, tenho competições pela frente. Antes do Pan vou descansar uma semana.

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