O silêncio é algo muito apreciado no Japão. Em meio à toda bagunça que a Fiel está fazendo do outro lado do mundo, existe alguém bem conhecido que preza pela calma. Titular incontestável da zaga do Corinthians, Chicão, com seu jeito “bicho do mato” – reservado e de poucas conversas – , chega ao seu ponto alto em quase cinco anos de clube. Série B, Paulista, Copa do Brasil, Libertadores... É a hora do Mundial.
A forma de ser do camisa 3 é facilmente notada no dia a dia do clube. Ele foge das entrevistas, nunca está nas bagunças e também não gosta de muita “resenha” como outros atletas do elenco. Nascido e criado em Estiva Gerbi, cidade do interior que fica a 182km de São Paulo, o caipira da zaga alvinegra sempre viveu desta maneira.
– Muita gente acha que o Chicão é metido, mas não tem nada disso. Ele é reservado. E desde moleque é assim... Sempre foi um cara mais fechados – conta José Carlos, o Carlinhos, amigo da família que viu o corintiano crescer na pequena cidade de 10 mil habitantes.
E há quem sofra com o seu estilo mais reservado. Semanas antes de viajar para o Japão, a reportagem o procurou para fazer uma matéria especial com foto e entrevista. Apesar de ter topado prontamente a ideia, Chicão adiou datas e, com o famoso “jeitinho brasileiro“, acabou não atendendo ao LANCE!Net.
A preferência em não dar entrevistas coletivas na sala de imprensa do CT é algo que o atleta carrega desde a sua chegada, em 2008.
No início da sua carreira, ainda em Estiva Gerbi, Chicão também não era de muito papo. Do caminho de casa até Mogi Mirim, onde fez as categorias de base, quem o acompanhava era a mãe, uma das pessoas que mais o apoiaram.
Do interior para o mundo, é a melhor hora para ser “fechadão”. Com a zaga do mesmo jeito...
Bate-Bola: José Carlos dos Santos, diretor de esportes de Estiva Gerbi (SP), cidade onde Chicão nasceu
No dia a dia do clube o Chicão se mostra sempre muito reservado. Ele é assim desde a infância?
Isso é uma coisa dele mesmo. Sempre foi assim. Não gosta de conversa e faz poucas brincadeiras. Para mim ele não mudou nada do que era ainda criança aqui.
Ele chegou a ter problemas por causa do seu jeito quando criança?
Não. Ele só não gostava das bagunças. Ele era uma criança séria. Mas convivia junto de todos numa boa. Às vezes a gente vê repórter e comentarista falando mal, mas é o jeito dele. Temos de respeitar.
Quando ele vai aí para cidade vocês conversam? Já perguntou o por quê dele não gostar de entrevista?
Nunca questionamos isso. Se ele já não gosta, não vamos forçar, né? Respeitamos o jeito dele. Mas ele vem muito aqui. Sempre que aparece me cumprimenta. Não tenho o que reclamar. Ele é boa pessoa.
E a família dele? Também são pessoas mais reservadas?
Pelo contrário. O pai dele está para lá para cá. Sempre brincando, fazendo festa. Os irmãos também adoram conversar. A mãe dele também é uma ótima pessoa.
Via potencial nele criança?
Ele começou na escolinha aqui e já era muito bom. Despontou rápido e levamos ele para o Mogi Mirim. Jogava bola o dia inteiro aqui. A gente da cidade ajudava no transporte, dava conselhos. Mas o mérito é todo dele. Sempre lutou muito.
Histórias curiosas do quieto Chicão
Zagueiro ‘estranho’
Ainda no Mogi Mirim, quando subiu para o profissional, o corintiano costumava ensaiar cobranças de falta após os treinos. De início, os demais atletas achavam estranha a iniciativa de Chicão por se tratar de um zagueiro. Mas o pé calibrado chamava a atenção dos colegas. Pelo Timão, ele não marca de falta desde o dia 23 de maio de 2010.
Sempre na cidade
Em folgas ou momentos livres que tem, Chicão costuma ir para Estiva Gerbi, onde tem um sítio. Lá ele curte seus familiares e sempre se coloca à disposição da escolinha de futebol da cidade para ajudar. O Centro Esportivo Mário Rocha, no qual deu os primeiros chutes, é o local onde a molecada costuma se distrair nas peladas.
Com a palavra: Pitarelli, Ex-goleiro, jogou com Chicão no Mogi Mirim e no América (SP)
"Jogamos juntos duas vezes: no América (SP, em 2005), e no Mogi Mirim (2003), quando ele subiu da base. Perdemos contato, mas é um grande jogador. Tínhamos um relacionamento normal de companheiros de time. Não era amizade grande, mas batíamos papo de vez em quando.
Ele sempre foi o mais quieto, mais na dele... Quando era novinho já era assim, procurava ficar reservado. Vimos que era um cara fechado. E pelo que a gente repara hoje, ele continua igualzinho... É o jeito dele mesmo.
Das duas passagens, ele foi bem no América. Fomos um dos melhores times do interior no Paulistão de 2005. Ele fez um belo campeonato. Tanto que foi para o Juventude e depois Figueirense. Acredito que ele conquistou tudo que tem hoje por causa dessa campanha boa que fizemos... Foi ali que ele passou a ser um zagueiro de patamar mais nacional no futebol. Ele ralou muito. Não adianta ter o dom, tem que lutar."