O policial militar João Dias Ferreira, responsável pela denúncia de que o ministro do Esporte, Orlando Silva, seria mentor de um esquema de desvio de recursos públicos no programa Segundo Tempo, depôs nesta quarta-feira na Polícia Federal. Dias passou cerca de sete horas e meia na sede da Superintendência da PF, em Brasília.
O denunciante disse que entregou os nomes de cerca de 15 a 20 pessoas envolvidas no esquema e que não está participando de acordo de delação premiada, mas que a intenção é a de provar que existe um esquema de corrupção dentro do Ministério do Esporte. Dias sugeriu que sejam investigados todos os que ocuparam cargos importantes no órgão nos últimos oito anos.
– Entreguei gravações e alguns documentos que foram fraudados e emitidos pelo Ministério do Esporte. Descrevi algumas pessoas com participação direta e outras que tinham conhecimento total dos fatos. Minha missão é de provar o que denunciei e tenho certeza de que tudo o que estou apresentando vai desqualificar qualquer situação dentro da Operação Shaolin – disse João Dias.
A Operação Shaolin, da Polícia Civil do Distrito Federal, deflagrou parte do esquema de propinas no Segundo Tempo e resultou na prisão de cinco pessoas, entre eles o próprio PM. A investigação apontava a falsificação de notas fiscais para a comprovação do investimento de cerca de R$ 3 milhões conseguidos pelas entidades lideradas por Dias em dois contratos, um em 2005 e outro em 2006. O derrame de verba pública saía da Federação Brasiliense de Kung-Fu (Febrak) e da Associação João Dias de Kung-Fu, Esportes e Fitness. Do total, pouco menos de R$ 1 milhão foi realmente aplicado em programas sociais.
Ainda nesta quarta-feira foi aprovado na Câmara um requerimento para que o soldado apresente as provas em audiência pública na Casa, que provavelmente será marcada na próxima quarta-feira. João Dias já teve uma audiência fechada com líderes da oposição, da Câmara e do Senado, quando afirmou ter o áudio de uma reunião, em 2008, que tratava da prestação de contas do programa.
O policial chamou a atenção da mídia brasileira quando denunciou à revista “Veja” que o ministro Orlando Silva comandava cobrança de até 20% do valor dos convênios para a assinatura dos contratos com ONGS que deveriam tirar das ruas crianças e jovens em situação de risco, oferecendo atividades esportivas. Calcula-se que o esquema tenha desviado cerca de R$ 40 milhões em oito anos.