Foi numa base militar em Basra, no sul do Iraque, que a vida de Jon-Allan Butterworth se transformou. Técnico de armas do Exército Real Britânico (RAF, sigla em inglês), o local foi atacado em 2007. Estilhaços de um foguete dilaceraram o braço esquerdo do inglês, nascido em Sutton Coldfield.
– Comecei a rolar pelo chão, mas quando percebi meu braço havia sido atingido e eu sangrava muito. Não senti o impacto, só me dei conta com o sangue – relembrou.
Encaminhado para o Battling Back, parceria entre o Ministério da Defesa e o Comitê Paralímpico do Reino Unido, Butterworth dedicou-se com o afinco dos tempos de soldado ao ciclismo. Com uma prótese no braço amputado, consegue o apoio necessário para se equilibrar. Chegou à primeira Paralimpíada da carreira, em casa, inscrito em cinco provas e com status de campeão e recordista mundial. Já tem duas pratas, a segunda obtida neste sábado, na final da perseguição individual de pista, classe C5 (deficiência física de leve a moderada), em que acabou derrotado pelo australiano Michael Gallagher.
Mas o britânico segue soldado, mesmo sem farda e com vida de atleta. Butterworth virou o centro de uma polêmica após criticar compatriotas que, na visão dele, vieram aos Jogos Paralímpicos apenas para sorrir. Ele também insinuou que o governo britânico desperdiça dinheiro com equipes que lutam por “uma ou duas medalhas”, enquanto modalidades que rendem mais pódios, como o ciclismo, deveriam receber mais verba.
Entre 2009 e 2012, o ciclismo recebeu 4,2 milhões de libras (cerca de R$ 13 milhões) do fundo britânico que financia o esporte de alto rendimento.
– Sempre vou pensar como um soldado – justificou-se.
No domingo, ele tem mais uma batalha, no sprint por equipes, para depois tentar mais dois pódios no ciclismo estrada.
RECORDE MUNDIAL É SUPERADO TRÊS VEZES
Antes de faturar o ouro na perseguição individual, o australiano Michael Gallagher precisou correr atrás do recorde mundial que detinha. Na qualificatória, seu tempo anterior (4m37s230) foi superado duas vezes, uma delas por Jon-Allan Butterworth. Mas ele recuperou a melhor marca do planeta ao cravar 4m30s012.
Na final, o ritmo foi mais lento. Gallagher fez 4m35s297, contra 4m39s586 do britânico.
Os brasileiros João Schwindt (sexto) e Soelito Gohr (décimo-primeiro) ficaram fora da briga por medalhas e voltam aos pedais no próximo dia 5, no contrarrelógio individual na estrada.
* O repórter viaja a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)