O Botafogo tinha no fim dos anos 80 um jogador diferenciado por seu autoconhecimento de vida. Ídolo alvinegro, Paulinho Criciúma surge de novo como um Messias, o profeta capaz de reconstruir uma nação para levar paz a seus seguidores. Nesta quarta, às 19h30, com transmissão em tempo real pelo LANCENET!, o Glorioso tentará na Ressacada, diante do Avaí, uma missão restauradora, sob a benção do ídolo.
Com o abalo pela eliminação na Taça Rio e a falta de tempo para treinamento, o lado psicológico se tornou o maior instrumento que o Alvinegro pode utilizar no momento. Justamente, o fator que mais chamava atenção no ex-jogador, campeão na inesquecível campanha do Estadual de 1989 e vencedor também em 1990. Paulinho tinha um poder de articulação que o diferenciava no mundo da bola, além de um visual que contribuía para a fama.
– Era uma imagem diferenciada que nunca me incomodou. A leitura me fortalecia, alimentava o meu espírito e isso refletia no meu rendimento em campo – afirmou.
Paulinho, que atualmente reside em Florianópolis, esteve reunido com torcedores alvinegros em São José, município vizinho à capital catarinense. O ex-atacante foi até o ponto de encontro da Bota Floripa, organizada que incentiva o time nos estádios quando o Glorioso joga na região. Com a corrente pelo clube formada, Paulinho avaliou que o atual grupo precisa de palavras de força e alguém que as saiba passar.
– O Botafogo está órfão de uma convicção verbal. Não vejo no grupo alguém que seja capaz de levar uma mensagem que chegue à mente do jogador – considerou.
Se o tempo é escasso, o jeito é usar o artifício que mais agrada ao ex-jogador de 49 anos. Para arrancar a vaga para as quartas de final da Copa do Brasil fora de casa, vale seguir o caminho de um sábio vitorioso.
– Primeiramente, o atleta precisa controlar os nervos. Depois, com o passar do tempo, ele consegue adquirir confiança – disse Paulinho.
FAMA RENDEU PREFÁCIO EM LIVRO
A prova de sua capacidade intelectual veio com o convite para escrever o prefácio de um livro comemorativo do Botafogo.
Os autores de "21 depois de 21", alusivo à conquista de 89, Rafael Casé e Paulo Marcelo Sampaio deram a missão ao ídolo, cuja publicação saiu no aniversário do título, ano passado.
Como dicas de leitura, Paulinho recomenda escritores do naipe do russo Dostoievski, do alemão Nietzsche e do americano John Steinbeck.
BATE BOLA - PAULINHO CRICIÚMA
CAMPEÃO PELO BOTAFOGO EM 89 E 90
1)Jogador de futebol é tachado por ser avesso à leitura. Como você lidava com isso?
Paulinho Criciúma - Sempre fui viciado em leitura. Gosto de me interar sobre política internacional. Confesso que hoje leio menos, uns oito ou dez livros por ano
2)Quem no Botafogo poderia levar uma mensagem que fizesse o grupo assimilar?
Paulinho Criciúma - Difícil dizer. Loco Abreu seria o cara. Sabe se expressar, tem liderança, mas não sei se a língua poderia atrapalhar.
3)Você recomendava a leitura para seus companheiros?
Paulinho Criciúma - Nem perdia meu tempo (risos). Imagine fazer Marinho, Josimar, que só queriam saber da boemia, lerem a biografia do Che Guevara. Era impossível.
4)O que o Botafogo precisa fazer para se classificar?
Paulinho Criciúma - Parece meio óbvio, mas não pode se afobar para ganhar o jogo. É preciso ter paciência para não perder o controle.
COM A PALAVRA - VALDIR ESPINOSA
TÉCNICO DE PAULINHO CRICIÚMA EM 89
"Paulinho Criciúma era um Kaká com poesia"
No futebol de hoje, eu diria que o Paulinho Criciúma, guardadas as devidas proporções, era como o Kaká. Fazia uma função parecida. Vinha por trás, chegava bem ao ataque, mas ainda tinha a qualidade que o Kaká não tem, que é o fato de ser um autêntico poeta. O que ele representava para o grupo era algo fora de série. Um nível cultural acima da média e não era um cara que se afastava. Normalmente, um jogador assim se coloca num canto, e se posiciona acima dos demais. Possuía uma coisa intelectual, mas tinha noção de grupo. Dizíamos que ele era um jogador com a camisa 8,5, pois era meia e jogava na frente, por conta da boa finalização. Hoje, em tempos midiáticos, seria um jogador bastante requisitado. Era um Kaká com poesia.