– Ele é a lenda. Simplesmente a lenda do nosso país.
A frase foi de um jornalista egípcio, questionado pelo LANCE!Net sobre o que representava Mohamed Aboutrika. Naquele momento, o ídolo do Al Ahly passava pela zona mista do Toyota Stadium, após o gol sobre o Sanfrecce Hiroshima que garantiu sua equipe na semifinal.
– Ainda não pensei no Corinthians. A gente só queria fazer um bom primeiro jogo e vencer. Era disso que precisávamos – disse.
O feito de Aboutrika encantou mais do que a neve que apareceu durante a partida. O jogador iniciou o duelo no banco e só entrou porque o capitão Hossam Ghaly se lesionou ainda no primeiro tempo. Apenas uma prova de sua estrela.
Durante o segundo semestre, ele chegou a ficar sem jogar por conta de uma briga com a diretoria. Voltou justamente na decisão na Liga dos Campeões Africana, contra o Espérance, da Tunísia, que garantiu a classificação ao Mundial. Mas ameaçava parar de jogar novamente após a competição. Sua presença na lista de inscritos para o Mundial foi surpreendente.
Aos 34 anos, o meia coleciona feitos na carreira e é um dos mais representativos na história do futebol do Egito. Ele havia abandonado o futebol em fevereiro deste ano, após a tragédia em Port Said (leia mais abaixo), alegando que não havia mais segurança para jogar. No entanto, decidiu voltar para ajudar o país na Olimpíada de Londres e chegou a marcar um dos gols da derrota por 3 a 2 para o Brasil.
Sua trajetória supercampeã pelo Egito começou em 2006, quando converteu o último pênalti na decisão do título da Copa Africana de Nações sobre a Costa do Marfim. Em 2008, ele garantiu o segundo título consecutivo ao fazer o gol da vitória por 1 a 0 sobre Camarões.
Com o número 22 nas costas, inspira garotos em seu país a buscarem o sonho de jogar futebol. Também já foi embaixador das Nações Unidas e promoveu diversas campanhas humanitárias. Em 2005, chegou a participar do Jogo das Estrelas promovido por Ronaldo e o francês Zinedine Zidane. Se conseguir desbancar o Timão, Aboutrika fará história de novo.
QUEM É
Nome: Mohamed Aboutrika
Nascimento: 7/11/1978 em Nahia – Egito (34 anos)
Altura e peso: 1,82m e 77kg
Posição: Meia
Clubes na carreira: Tersana (EGI), de 1995 a 2003, e Ah Ahly, de 2003 até os dias atuais.
Faculdade: Cursou filosofia na Universidade do Cairo (EGI).
Tragédia em fevereiro matou 74 torcedores no Egito
Em fevereiro deste ano, o jogo entre os rivais Al Ahly e Al Marsy, no estádio Port Said, no Cairo (EGI), ficou marcado com um dos episódios mais marcantes e violentos da história do futebol mundial.
Torcedores do Al Masry invadiram o campo e partiram para cima de jogadores, comissão técnica e torcedores do Al Ahly. Foram 74 mortos e mais de mil feridos. No Mundial, a equipe entrou com uma tarja preta, de luto em memória ao episódio.
Quando anunciou sua saída do futebol, Aboutrika destacou que viu um torcedor morrer em sua frente, na porta do vestiário da equipe. Ele cobrou das autoridades do país que fizessem algo para mudar, pois os jogadores não poderiam arriscar suas vidas durante os jogos.
A LENDA DO EGITO
Supercampeão
Após chegar ao Al Ahly em 2004, Aboutrika venceu a Liga do Egito por sete anos consecutivos, até 2011. Venceu outras duas Copas do Egito, outras cinco Supercopas, quatro Ligas dos Campeões da África e quatro Supercopas da África.
Gols no Brasil
O meia fez gols na derrota por 4 a 3 do Egito para o Brasil na Copa das Confederações de 2009 e na derrota por 3 a 2 na Olimpíada de Londres.
Gols no Mundial
Aboutrika fez três gols em três partidas no Mundial de Clubes da Fifa em 2006, e chegou ao quarto gol no duelo diante do Hiroshima.
Punição
Em 2008, ele mostrou uma camisa com os dizeres “Simpatia por Gaza”, porque havia tido confronto entre palestinos e a polícia egípcia na região. E foi suspenso pela CAF.
Erro na decisão
Aboutrika voltou a atur pelo Al Ahly na final da Liga dos Campeões da África, após passar um período afastado da equipe. Ele chegou a desperdiçar um pênalti no duelo que garantiu a vaga do Ahly sobre o Espérance, da Tunísia.