Soberanos do MorumBIS

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Sem títulos, soco em Aidar e distante da torcida: a trajetória de Ataíde no futebol do São Paulo

Dirigente deixou o cargo máximo do futebol na semana passada e dará lugar a Luiz Cunha. Em dois anos, muita polêmica e o alento do contrato de direitos de televisão com a Globo

Ataíde Gil Guerreiro deixou a vice-presidência de futebol do São Paulo, mas segue no clube (Foto: Divulgação)
Escrito por

A saída de Ataíde Gil Guerreiro da vice-presidência de futebol do São Paulo não foi da maneira que o dirigente de temperamento forte esperava. Após quase dois anos no cargo mais cobiçado do clube abaixo da presidência, Ataíde sai sem provar o gostinho dos títulos, com baixíssimo nível de popularidade entre conselheiros e torcedores e ainda com o time em crise, sem vencer há cinco partidas no ano, e à beira da eliminação na Copa Libertadores.

Cenário inimaginável por aquele que o ex-presidente Carlos Miguel Aidar queria transformar no novo "Juvenal Juvêncio". Ataíde sempre foi conhecido no clube pela sua postura firme, muitas vezes briguenta, e era a aposta de Aidar, recém-eleito, de que a partir de abril de 2014 o Tricolor voltaria ao caminho das vitórias. Não faltou muito.

No primeiro ano da gestão Aidar - Ataíde, o São Paulo formou um "esquadrão", como assim definiu o vice após a contratação de Kaká e sempre que negava a saída de alguma estrela do elenco. O time que também tinha Ganso, Michel Bastos, Pato, Alan Kardec e Luis Fabiano, além de Rogério Ceni, bateu na trave duas vezes: foi vice-campeão brasileiro e semifinalista da Copa Sul-Americana, sendo eliminado pelo Atletico Nacional (COL), do técnico Juan Carlos Osorio.

Ataíde fechou o ano sem conquistas, mas com gosto pelo cargo. A sensação do quase o motivou para seguir dando as cartas no CT da Barra Funda, onde não permitia "intrusos". Durante toda sua gestão, o ex-vice foi marcado por blindar o local de trabalho dos jogadores e a proteger aqueles por quem tinha apreço profissional. Por esses passam o técnico Muricy Ramalho, hoje no Flamengo, o hoje diretor-executivo Gustavo Vieira de Oliveira, seu fiel escudeiro e principal influência, e até um dos assessores de imprensa do clube, com quem formou uma relação de muita confiança e respeito mútuo.

Explosivo, também deu muito trabalho a esse e outros assessores do clube. Sincero ao extremo na maioria das vezes, sempre acabava entregando algo que os companheiros não queriam que viesse a público. Mas esse era Ataíde, que em sua primeira entrevista como dirigente, em Maceió, antes de uma partida pela Copa do Brasil de 2014, disse que "não entendia nada de futebol". A franqueza, por outro lado, e como já visto, contribuiu para relações intensas no clube.

Leco apresentou Luiz Cunha (Foto: Erico Leonan/saopaulofc.net)

2015: fator Muricy e pressão

A situação do dirigente começou a ficar complicada em 2015. O péssimo início de temporada, sobretudo pela expectativa do time vice-campeão brasileiro, gerou pressão. Ao mesmo tempo, o ex-vice via crescer a tentativa do ex-presidente Carlos Miguel Aidar em interferir no futebol. Ataíde tentava brecar, mas sentia-se minado pelo vazamento de informações contra seu departamento e a fritura interna ao então técnico Muricy Ramalho. Na época, era sabido por todos que Aidar defendia a saída do treinador, que passava por um problema de saúde, enquanto Ataíde o bancava. No fogo cruzado, estava Gustavo Vieira, em quem Aidar não confiava. Muricy e Gustavo não demorariam a cair.

Muricy saiu em abril, em comum acordo, versão sustentada na época. Em maio, Aidar chamou Ataíde para uma conversa e comunicou que pretendia dar novos ares ao futebol do clube. Por isso, passava a demissão do então gerente Gustavo Vieira. O ex-vice tentou demover o ex-presidente da ideia, mas a decisão estava tomada. Gustavo deu lugar a José Eduardo Chimello e Ataíde perdeu força nas decisões sobre o CT. Mas continuou no cargo, algo que, para alguns, demonstrou o quanto estava apegado, já que houve até um pacto de que se o filho de Sócrates saísse, ele tomaria o mesmo rumo.

Ataíde e Gustavo Oliveira ao fundo, no CT (Foto: Érico Leonan)

Caso Iago Maidana e soco no presidente

A chegada de Chimello fez Ataíde perder o controle sobre as negociações. Aidar passou a participar mais das tratativas. Nesse tempo, houve o desmanche, com oito jogadores negociados. E começaram-se as suspeitas de Ataíde sobre o modus operandi de atuação do ex-presidente.

Apesar da desconfiança de que se teve conhecimento depois, Ataíde continuou avalizando os negócios feitos pelo ex-presidente. Foram vendidos Denilson, Souza, Paulo Miranda, Rafael Toloi, Boschilia, e Jonathan Cafu. Além deles, Dória retornou de empréstimo. Rodrigo Caio chegou a ser anunciado como vendido ao Valencia (ESP), mas a negociação melou. Em contrapartida, o time contratou um zagueiro da base do Criciúma, de nome Iago Maidana. Era o início do embate Ataíde x Aidar.

A contratação de Maidana foi obscura e colocou Ataíde no centro de uma polêmica. Isso porque a transação, ao que tudo indica, feriu recomendações da Fifa. Maidana, de 19 anos, foi contratado do Monte Alegre, clube da terceira divisão de Goiás, onde ficou registrado apenas dois dias após deixar o Criciúma. Ou seja, suspeita de uma ponte, algo que a entidade máxima do futebol proíbe, ainda mais com participação de terceiros, no caso, a Itaquerão Soccer, que admitiu ter investido no jogador.

Toda a lambança fez o São Paulo ser julgado pelo STJD e levou Ataíde à loucura quando Aidar disse que tinha sido o seu vice quem cuidara do negócio. Todos no clube, inclusive Aidar, que admitiu depois, sabiam que não tinha sido assim. Tanto que Ataíde fez o ex-presidente admitir na frente de seus pares que tinha sido o responsável pela negociação com suspeitas de superfaturamento.

Dias depois o episódio, Ataíde gravou uma conversa com o ex-presidente em que eles conversam sobre a polêmica e Aidar acena com a possibilidade de comprar um jogador da Portuguesa e dividirem a comissão entre eles. Isso foi num sábado. Na segunda-feira, Aidar e Ataíde voltaram se encontrar numa reunião de praxe da diretoria. O ex-presidente pediu que o vice chegasse mais cedo e, assim feito, aumentou a proposta de repartição da comissão do jogador da Portuguesa. A conversa esquentou o clima e, em frente a outros membros da diretoria que chegaram depois, Ataíde agrediu Aidar em um hotel na capital paulista. O ex-vice seria destituído do cargo no dia seguinte, mas a divulgação do conteúdo da gravação na sequência gerou a renúncia de Carlos Miguel Aidar, em outubro.

Ataíde, Aidar e Gustavo no CT  (Foto: Ale Cabral/LANCE!Press)

A redenção e o fracasso

A renúncia de Aidar levou Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, à presidência e um de seus primeiros atos foi recolocar Ataíde e Gustavo no departamento de futebol. No entanto, a imagem de Ataíde, apesar de ser o pivô da queda do ex-presidente, estava arranhada. A torcida não o perdoava e a o mau início de 2016 só fez elevar a temperatura das críticas, seja da arquibancada ou dos conselheiros. 

Em contrapartida, Ataíde ganhou tempo para tempo negociar com a Globo e Esporte Interativo os direitos de transmissão de TV fechada a partir de 2019 e conseguiu, na visão de muitos, seu maior feito na diretoria. Conseguiu melhorar e muito a oferta das duas emissoras e acabou fechando com a Globo com luvas de R$ 60 milhões e condições melhores do que o Corinthians, na visão da cúpula são-paulina.

Mas a pressão em Ataíde era tamanha que o dirigente precisou tomar certos cuidados. Ao contrário de quando agrediu Aidar e ganhou até jantares de torcedores por isso, o ex-vice teve de se proteger. Na semana do jogo contra o River Plate, em Buenos Aires, por exemplo, o dirigente decidiu dar uma volta pelo centro da capital argentina, mas recusou quando viu torcedores organizados concentrados na região do Obelisco, um dos principais cartões postais dos hermanos. Foi o símbolo da queda, sacramentada na semana passada, com o anúncio oficial da saída.