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Lance!
Santos (SP)
Dia 10/12/2020
23:37
Atualizado em 11/12/2020
06:55
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O Santos terá um novo presidente entre 2021 e 2023. O mandatário do clube no próximo triênio será escolhido em Assembleia de Sócios realizada neste sábado (12), na Vila Belmiro, Federação Paulista de Futebol e virtualmente. Um dos seis postulantes ao cargo é Rodrigo Marino, que ocupa a chapa número cinco, chamada "Renova Santos". 

Em ordem de registro de candidatura, Marino foi o quinto entrevistado pelo LANCE! em uma série de entrevistas com os presidenciáveis, através do Instagram, entre os dias 30 de novembro de 05 de dezembro. 

Confira como foi o bate-papo entre o L! e o postulante ao cargo máximo do Peixe, que foi realizada no dia 04 de dezembro e também está disponível em vídeo através da página do LANCE! no IGTV.

>> Confira aqui a tabela e simulador do Brasileirão 2020

O que te impulsionou a se candidatar à presidência do Santos em 2020?

Olha, essa é uma pergunta que eu respondo cinco, seis vezes por dia. São 43 anos de associado, vindo de uma família em que ser santista é praticamente uma religião. O amor que a gente tem pelo clube é muito grande. Então, ver seu clube ser tão maltratado nos últimos 10 anos, tantas bobagens, que vão apequenando o clube, desperta em você algumas atitudes que talvez eu não tivesse. O que me levou a colocar o nome à disposição do associado foi, além da minha capacidade profissional de 20 anos de carreira em gestão de multinacionais, o amor ao clube e a indignação aos gestores que por lá passam. Não foi uma decisão fácil, mas pra mim não vai ser um sacrifício, vai ser um enorme prazer administrar e fazer a gestão do Santos Futebol Clube.

O Santos hoje possui grandes dívidas financeiras e as mais recentes gestões em sua grande parte assumiram o clube afirmando que essas pendências foram herdades. Na sua opinião, em que ponto esse declínio administrativo iniciou e como solucionar esses problemas em um triênio?

Basta que a gente acompanhe a evolução do balanço patrimonial do clube, que é apresentado todo ano, que dá pra mapear o endividamento a cada gestão. Pegando uma base no presidente Marcelo Teixeira, que por exemplo deixou uma dívida de R$ 177 milhões, e as gestões sucessoras aumentaram essa dívida. E com o balanço a gente vê gestão a gestão o quanto o gestor endividou o clube. Isso é uma coisa que precisa parar. É o primeiro passo que a gente vai adotar a partir do dia 2 de janeiro. Eu costumo dizer que são dois momentos. O primeiro momento é parar de endividar, o segundo momento é começar a pagar a dívida. Se o presidente do Santos sentar naquela cadeira em janeiro e não fizer nenhuma bobagem, ele já deixa uma dívida de 50 milhões. Então, o clube já tem um orçamento aprovado pra 2021. Um bom controle faz o orçamento. Difícil é o gestor cumprir o orçamento. Precisa de ações no dia a dia que faça o clube cumprir o orçamento. Eu dou um exemplo de folha salarial. O Santos hoje tem uma folha de 10 milhões de reais. No orçamento, o clube aguenta pagar seis milhões. Cabe ao executivo, ao presidente e sua equipe cumprir esse orçamento. É possível cumprir sim. Eu, com a minha equipe, já mapeei a questão da folha de pagamento e em fevereiro eu garanto a vocês que baixo a folha salarial em 2,5 milhões e meio, ou seja, 25%. Assim, eu aumento a competitividade do clube, garantindo que o trabalhador trabalhe com segurança e certeza de que vai ganhar seu salário ao fim do mês. O levantamento foi feito em cima dos jogadores que não estão no time principal, que tem contrato no clube mas não compõem nenhuma categoria, e que ninguém vai saber que um dia passou pelo Santos Futebol Clube.

Existe fórmula para solucionar ou estancar parte o integralmente os problemas financeiros do Santos sem onerar o desempenho esportivo?

Eu tenho um pensamento que pode parecer loucura, mas não é. Essa punição da Fifa pode ter salvado o Santos nas mãos desse presidente lunático, que foi impichado. Sem a punição, ele teria comprado mais Cuevas, Uribes e Bryans. E aí a dívida de 600 milhões seria de 800, 900, e por aí vai. Então, a proibição impediu as loucuras desse presidente lunático. Como eu falei na outra pergunta, o orçamento para 2021 é superavitário. A gente, cumprindo o orçamento, temos um lucro de 61 milhões, algo perto de 10% da nossa dívida. Esse é o caminho. Hoje, nós temos um elenco muito honrado e comprometido com a camisa do clube, mesmo com as turbulências e situações internas do clube, salários atrasados, questões difíceis da pandemia, e mesmo assim estamos a 4, 5 pontos do líder do Brasileiro. Estamos muito bem nos dois campeonatos que disputamos. Por isso, penso que não perdemos competitividade ao reduzir a folha salarial, mas daremos segurança ao pai de família para ele trabalhar.

Como o senhor enxerga e pretende lidar com as categorias de base do Santos, se eleito?

Essas pessoas que falam que a categoria de base do Santos está destroçada não conhecem a categoria de base do Santos, porque se elas conhecessem elas diriam que a base do Santos está em situação de miséria, mais do que destroçada. Essa última gestão acabou de uma vez por todas com a categoria de base, em sentido de estrutura, de trabalho, todos os aspectos. A categoria de base é um xodó meu, um xodó do torcedor santista, um xodó do nosso vice-presidente Ademir Quintino. Então, vamos atacar a base de duas maneiras. Na parte estrutural e na parte de metodologia de trabalho. Na parte estrutural, vamos construir nos primeiros seis meses de gestão uma estrutura de 1800 metros dedicados aos meninos da vila. Podem me cobrar. Vamos ter academia, fisioterapia, médico, dentista, podólogo, sala de línguas, tudo que o menino da vila precisa pra se desenvolver e virar um atleta de futebol. Na parte de metodologia, vamos nos reunir com a comissão técnica e falar para eles mudarem a chave do conceito de categoria de base. A base não precisa ganhar jogo e nem ganhar campeonato. Ela precisa formar os atletas, para se tornar um jogador do profissional. Ganhar títulos vai ser uma consequência natural. O mais importante é formar e entregar ao time principal. Principalmente pela condição financeira que o time se encontra hoje, que não será sanada em dois anos. Vai ser preciso, pelo menos, duas gestões para isso.

Como o senhor enxerga e pretende lidar com o futebol feminino do Santos, se eleito?

O futebol feminino é uma verdade hoje em dia no futebol brasileiro e precisa ser tratado da mesma forma que o futebol profissional masculino é tratado. Todos os candidatos falam nas campanhas que vão dar esse tratamento para as Sereias da Vila, mas na prática nunca fazem. Nós temos um projeto para a construção de dois campos na cidade de Cubatão, como uma estrutura exclusiva dedicada às sereias. Já temos alinhado com o prefeito de Cubatão, para dar toda a condição e estrutura para as meninas. Elas vão parar de dividir campo com outras categorias.

Como o senhor enxerga a possibilidade de inclusão de outras práticas esportivas no Santos FC?

É importante e é possível também. Eu conversei com o presidente Orlando sobra a vaga conquistada na NBB. Essa é uma vaga que o Santos teve no começo da gestão e perdeu, pelo descaso do presidente impichado. Agora, pro ano que vem, essa vaga foi aberta novamente. O Santos tem sempre procura de investidores para montar times de modalidades olímpicas, então não vai ser diferente. O Santos vai sim montar um time para jogar a NBB. Isso não está orçado no orçamento do clube, mas certamente aparecerão investimentos de fora, uma vez que a camisa é muito forte. É importante também porque buscam outros públicos, além daquele que é cativo do futebol.

Como o senhor avalia as prioridades de mando de campo de Santos Futebol Clube e o projeto de retrofit da Vila Belmiro?

Como introdução dessa resposta eu vou lembrar e saudar um grande amigo meu, que é um dos maiores apoiadores dessa campanha, que é o Júnior lá de São Vicente. Isso porque quando eu estou com ele, a cada meia hora ele canta vinte vezes “Só o Santos parou a guerra”, que é o grito da torcida. E essa guerra foi parada onde? Foi parada na Vila Belmiro? Foi parada no Pacaembu? No Brasil? Não. O Santos parou uma guerra na África. Ele é do mundo. O Santos foi campeão mundial no Maracanã, da Libertadores no Pacaembu, vice da Libertadores no Morumbi, foi campeão paulista e a taça desceu de helicóptero na Vila Belmiro. Quem conhece um pouco da história do Santos sabe dizer que ele é do mundo. O que acontece é um grande aproveitamento de correntes políticas que querem consolidar alguns apoios em Santos e na capital. O clube que sofre com essa briga política. O Santos é do mundo e encantou por onde jogou. Na minha gestão ele continuará sendo do mundo. Nós vamos jogar por toda parte. O projeto da WTorre é perfeito, mas demoram dois anos para construir. Onde o Santos vai jogar? O Pacaembu está em reformas, a Vila vai estar sendo usada para a construção da arena. Por isso, eu fui atrás do Canindé, já que eu achei perfeito o projeto da arena. Já estamos acertados com o Canindé, as portas da Portuguesa estão totalmente abertas para o Santos. Assumimos em janeiro e esse problema já tem solução, porque temos um estádio que a torcida do Santos gosta muito, inclusive.

Recentemente o atual Comitê Gestor do Santos apontou algumas inconsistências no cadastro de sócios do clube, como você enxerga esse episódio? Você acredita que isso pode interferir no pleito do dia 12 de dezembro?

Esse problema da secretária social eu posso falar porque eu fiz parte enquanto conselheiro da comissão que apurou erros cadastrais, que foram apresentados para o conselho deliberativo. O conselho determinou que contratasse uma empresa de auditoria externa, para fazer uma apuração minuciosa. Esse trabalho foi entregue ontem para o presidente do conselho. Vamos pra eleição dia 12 mais tranquilo, com um cadastro mais seguro e torcendo para que dessa vez não tenhamos uma eleição maculada, com essas dúvidas. Sou muito orgulhoso de ter feito parte desse trabalho e dia 12 vamos ter uma festa da democracia. Nós da chapa cinco somos totalmente a favor do voto a distância. Vai ser uma festa da democracia e vai dar tudo certo.

Você acredita que a inconsistência nos dados dos sócios, bem como algumas contrariedades ao voto à distância, poderá dar brechas para que chapas derrotadas tentem a anulação do pleito?

Não tenha dúvida que esse é um temor não só meu como candidato, mas de todo o associado do Santos que estará envolvido no dia 12. Não é o que os torcedores esperam, que o Santos tenha seu nome manchado mais uma vez. Não tem dúvida que temos esse temor por ser a primeira vez que vai funcionar dessa maneira, mas acredito que o conselho está tomando todas as medidas para que isso não aconteça e que o grande vitorioso disso seja o Santos Futebol Clube.

Como você avalia o atual Conselho Deliberativo do Santos e como pretende formar o seu, caso consiga o número necessário de votos para constituir cadeiras?

Conselho Deliberativo do Santos é um órgão necessário e vital. Eu digo isso porque nos últimos 10 anos, com as gestões temerárias que se sucederam, o conselho é que salvou o Santos, apurando e punindo os presidentes que agiram de forma temerária. O clube precisa que o presidente esteja muito perto do torcedor, do seu associado e do conselho. Então, o presidente que assumir a cadeira tem de estar disposto a ter um diálogo aberto e mostrar todas as ações para os conselheiros, mostrar a realidade do clube. Fazer a gestão do clube colegiada não só com o seu comitê de gestão, mas com o conselho também.

Comitê de Gestão: necessário, desnecessário ou mal necessário?

Eu vou anunciar o meu comitê de gestão amanhã, os dois primeiros nomes, e vou anunciando. Não sei se anuncio todos até a eleição ou não, mas vamos anunciado. Nem eu e nem nenhum candidato consegue fazer a gestão do clube sozinho. Toda embarcação precisa de um comandante, mas todo comandante precisa de uma guarnição. Então, claro que o comitê é muito importante. O meu comitê de gestão eu estou montando de maneira muito técnica, com santistas com muito conhecimento de clube. Hoje o integrante do comitê precisa ter aquela disponibilidade de ajudar e dedicar seu tempo ao clube. Esses dois nomes que eu vou anunciar amanhã são grandes santistas, de grande relevância dentro do clube, que vão ser de grande família nessa arrancada.

Como você analisa a “Gestão de Transição”, do presidente Orlando Rollo e o “Comitê de Transição” montado para esse período?

O Rollo foi muito democrático e assertivo quando criou esse comitê de transição. Ele permitiu que cada candidato colocasse um representante seu dentro do clube e fazer uma transição de três meses. Todos os candidatos estão tendo a chance de conhecer a situação do clube nesse período. Quando o candidato novo assumir o clube, ele saberá exatamente o que está enfrentando. Eu avalio que foi muito bom e de muita valia essa iniciativa.

Consideração final

Primeiro, eu quero agradecer a oportunidade, dizer que a audiência é muito grande e isso é importante. Ao associado que está assistindo, queria dizer que no dia 12 temos mais uma vez um encontro com a história do Santos. Mais uma oportunidade de começar de novo. Esquecer essa gestão passada que foi temerária e começar uma nova história. Uma história mais nova, com outra cabeça, uma história de um santista que está no clube há 43 anos. Então, eu deixo para o torcedor um apelo que olhem a proposta de cada candidatos e a maneira que eles pretendem realizar o que eles estão se propondo. Comparem as propostas e no dia 12 exerçam o sagrado direito do voto democrático e escolham o melhor para comandar o Santos nos próximos três anos.

* Sob supervisão de Vinícius Perazzini

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