Extremamente boa praça, Gilson Kleina não nega as suas origens de Curitiba (PR), onde o Palmeiras decide às 21h50 desta quarta, contra o Atlético-PR, no Durival Britto, a vaga nas quartas de final da Copa do Brasil. O técnico está em casa.
Da infância como torcedor do Furacão, passando por diversas histórias hilárias da juventude, como a idolatria por Michael Jackson, astro que o técnico imitava fantasiado. Do drama da perda do pai Izaltino e do irmão Sergio na adolescência, até a amizade verdadeira e duradoura até hoje entre os vizinhos, que se falam frequentemente por telefone.
Na capital paranaense, o LANCE!Net conversou, por mais de uma hora, com dois grandes amigos do treinador: João Luiz Herold, o Kanga, técnico de segurança do trabalho, e Marcio Ricardo Chagas Lima, administrador. Amizade de 30 anos. E a dupla, com a mesma idade (45) do técnico, contou (quase) tudo sobre Gilson, como eles o chamam.
- Quando ele vem para cá, ele já liga e avisa: "estou na estrada e daqui a duas horas estou estourando aí. Preparem a carne e a cerveja, e vamos lá para casa" - contou Kanga, sobre a alegria que amigo-irmão sente ao reunir os mais próximos.
Gilson Kleina estabeleceu esta relação genuína no bairro Mercês, hoje Vista Alegre, de classe média. Estudou em colégio estadual com Marcio, que revela que o camarada não era um aluno excepcional, mas sempre levou os estudos a sério.
Gilson Kleina, magro, fazendo churrasco na casa da sogra (FOTO: Arquivo Pessoal)
Antes de se formar em educação física pela PUC-PR e começar a traçar os passos no futebol como preparador físico na base do Coritiba, no fim dos anos 90, Kleina foi bancário - tinha afeição à contabilidade. Nesta época, frequentava a então Baixada, antigo estádio do Atlético-PR. E até vibrou com uma vitória do seu time sobre o Palmeiras de Djalminha, no Brasileiro de 1996, por 2 a 0.
- O bicho era muito atleticano, fazia uma baita festa com o Atlético-PR. Depois virou profissional, ele tem muito caráter. Agora ele é Palmeiras e acabou - disse Marcio.
Torcedor rubro-negro, o engraçadíssimo Kanga abre o coração sobre como vai encarar o jogo desta noite:
- Sou Gilson Kleina Futebol Clube. O Atlético-PR é o meu time do coração, mas em primeiro lugar vem a amizade. O Atlético-PR não me chama para tomar uma cerveja e comer uma carne. Gilson chama!
Conheça algumas histórias de Gilson Kleina em Curitiba:
Gilson do Pop
Troque o apito do treino, a prancheta e o uniforme do Palmeiras por sapato dockside, chapéu e luvas brancas à la Michael Jackson. Na adolescência, Kleina era grande fã do Astro do Pop, que morreu em 2009. Nos bailes de Curitiba, ele imitava dos passos à vestimenta. E se dava bem. "Fazia Moon Walk, Billie Jean, Thriller...O bicho era bom!", diz Marcio. "Ele até entrava em competição nas danceterias", revela Kanga.
Conquistador?
Kleina tinha fama de galanteador na puberdade. Costumava ter sucesso nas investidas amorosas na capital paranaense, mas mal sabia ele da surpresa que o esperava um dia. Os amigos Marcio e Kanga lhe apresentaram Malu, que era vizinha deles e um pouco mais nova. Gilson se interessou pela garota e os dois saíram para um passeio de bicicleta. Na volta, ao avistarem o conquistador, os amigos caíram na gargalhada. "Ela nunca tinha beijado e ainda usa aparelho. Arrebentou a minha boca", disse o galã, mostrando os lábios ensanguentados. Não bastasse o machucado, a menina voltou a procurá-lo dias depois, desesperada. "Minha mãe falou que beijar engravida!".
Toleman na fossa
Feliz com o tênis novinho, branco, que acabara de ganhar da mãe, Gilson logo calçou o presente e saiu para dar uma volta de bicicleta. A magrela dele era carinhosamente apelidada pelos amigos como Toleman, em alusão à equipe de Fórmula 1 da época que não protagonizava grandes resultados – os amigos dizem que o garoto sempre ficava por último entre os colegas. Naquela tarde, ele se ofereceu para ajudar a rebocar a bicicleta de um colega, que estava com problema. Pedalando a sua e conduzindo a do amigo paralelamente, Kleina perdeu o controle e caiu dentro de uma fossa. "O tênis dele, que era branco, ficou marrom. Rapaz, não dava para aguentar o cheiro!", gargalha Kanga.
Kleina, o quinto em pé da esquerda para a direita, jogava futebol (FOTO: Acervo Pessoal)
Marrentinho do balão
A galera também gostava de soltar balão pelas ruas do bairro. Gilson não era diferente. Certa vez, a missão não saiu como planejado. Ele viu um balão caindo em uma rua próxima da sua e chamou os amigos para buscá-lo. "Ele era marrentinho, não fugia de briga", relata Marcio. Só o colega Zebrinha o acompanhou. A brincadeira virou problema quando Kleina, o primeiro a encontrar o objeto, foi cercado por outros meninos que exigiram que ele entregasse o brinquedo. "Se esse balão não é meu, também não vai ser de vocês”, ele respondeu, e furou o artefato. “Daí a turma pegou a bucha do balão e esfregou no Gilson, que ficou com a cara preta".
Oitentinha "véia" de guerra
Surgiu a oportunidade, e Kleina comprou uma moto de 80 cilindradas. "Nós só não morremos com ela, a oitentinha, porque não era a hora (risos)", conta o aliviado Marcio. Como de costume, Gilson levou a pior. Kanga estava como piloto, e o proprietário na garupa. "Entrei na curva, e a moto desengatou a marcha. No que eu fui engatar de novo, entrou a primeira e empinou. Ele se estatelou no chão e eu parecia que estava em cima de um cavalo xucro tentando segurar aquela moto para tudo quanto é lado, até que caí na valeta".
Toleman 2 , o retorno
A residência dos Kleina situava-se em uma ladeira de Mercês. Pior para o menino Gilson, que acabou perdendo freio da bicicleta e se esfolou no barranco, o único jeito de pará-lo. “Ele se arrebentou (risos). Ele veio berrando lá de cima ‘Saaaaaaaaaai!’. Depois, a mãe dele falou que iria comprar outra bicicleta para ele, porque aquela não dava mais”, diz Kanga.
Samba da Xuxa
Fã de samba, Gilson sempre se destacou nos churrascos dos amigos por tocar alguns instrumentos de percussão. A sua turma era chamada para animar festas de faculdade de Curitiba. Em uma delas, os planos desafinaram. Convidados para mais um evento, Kleina e os amigos se entusiasmaram com a possibilidade de novas conquistas amorosas nos primeiros meses na universidade. "Só que chegamos no lugar e era uma festa infantil, cara (risos)", relembra Marcio. "Passamos horas tocando músicas da Xuxa".