Olhar do Porco

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Entenda a importância histórica do Mundial de 1951 conquistado pelo Palmeiras

Invariavelmente, a Fifa reconhece a competição como o primeiro Mundial de Clubes, organizado por membros da própria entidade. LANCE! falou com historiador do Verdão

Time do Palmeiras posa com a faixa pela conquista da Copa Rio de 1951 (Foto: Reprodução/Palmeiras)
Escrito por

Neste sábado, o Palmeiras enfrenta o Chelsea na briga pelo título do Mundial de Clubes. Para o torcedor alviverde, trata-se da busca pelo bicampeonato por conta da conquista do Torneio Internacional de Clubes Campeões de 1951. Acontece que a alcunha de "Mundial" para a competição é contestada por rivais e esclarecida de forma atabalhoada pela Fifa. Independentemente disso, é inegável que a disputa teve um enorme valor histórico e precursor.

TABELA
> Veja tabela e simulador do Mundial de Clubes-2021 clicando aqui
> Conheça o aplicativo de resultados do LANCE!

GALERIA
> Vem aí a taça do Mundial 2021? Lembre os títulos internacionais do Palmeiras

Para entender melhor o que foi essa competição que também é chamada de Copa Rio, o LANCE! foi atrás de Fernando Galuppo, historiador e assessor de comunicação do Verdão, que contextualizou o momento do país, do mundo, e a importância daquele evento tanto para o clube quanto para o futebol brasileiro, que tinha acabado de sofrer a derrota em casa para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950, no que ficou conhecido como "Maracanazzo".

- Era um momento de reabertura do mundo em todos os setores, era um momento de pós-guerra, era um momento em que o mundo se abria em todos os níveis, nas artes, na música, e o futebol propriamente dito. E num recorte especifico do Brasil, tinha também a simbologia da construção e idealização do estádio do Maracanã como grande palco, como maior palco do futebol até então naquele momento, a euforia pela realização de uma Copa do Mundo pós-guerra, quer dizer, que traria um alento para toda a população depois de um momento tão traumático, da vida, do mundo.

- Então o futebol ele traz essa simbologia de união de povos e é o primeiro evento do pós-guerra, de grande impacto. Obviamente no plano específico do ponto de vista do povo brasileiro, você tem aí o trauma do desfecho, entre aspas, inesperado, da derrota na final para os uruguaios diante de duzentas mil pessoas que ficou conhecido como o “Maracanazzo” - contou Galuppo.

Na última quinta-feira, em mais uma referência ao Mundial de 1951, a Fifa citou a competição como o primeiro campeonato mundial interclubes, que "foi sonhado e discutido por anos pelos maiores dirigentes do futebol da época e finalmente foi agendado para 1951". A citação corrobora com o que Fernando Galuppo relatou à reportagem sobre a participação direta da entidade, que havia acabado de realizar com êxito a Copa do Mundo de 1950 no Brasil.

- Desde que ela é concebida, o grande sonho da Fifa era a realização de um torneio interclubes e ele não acabou sendo concretizado antes, por conta de questões logísticas e, até então, substituído por uma competição de seleções, e aí é o nascimento da Copa do Mundo. A Fifa vê a oportunidade logística do êxito que se teve com a questão da Copa do Mundo de seleções de 50 e ela reproduz isso por meio dos clubes.

- A Fifa formou comissões esportivas com todo seu staff técnico, mesmo staff técnico que organizou e que participou da Copa do Mundo de seleções. Quer dizer, mostra a importância e o contexto do Torneio Internacional de Clubes Campeões, que popularmente as pessoas abordam como a Copa Rio, nome da taça em si, do troféu físico é Copa Rio porque é uma cessão do Governo do Rio de Janeiro, um dos promotores também do evento junto com a CBD (Confederação Brasileira de Desportes), a atual CBF, e amparado pelos órgãos da Fifa e pelos seus comitês, inclusive árbitros, a bola, regulamentos, enfim, toda a estrutura que a entidade utilizou um ano antes para a concessão da Copa do Mundo de seleções.

Ao longo dos anos, no entanto, a Fifa deixou no esquecimento esse projeto e não citava esse marco em competições de intercontinentais. Foi aí que o Palmeiras preparou um dossiê, já no século XXI, para atestar e resgatar a importância histórica do evento. Segundo Galuppo, autor do livro "Palmeiras Campeão do Mundo 1951", isso traz para a luz um sonho antigo da entidade.

- Essa exaltação (atual) da Fifa pela competição é de fato um reconhecimento de um torneio ambicionado pela própria entidade que até então, ela mesmo, não tinha um amplo conhecimento da sua própria história, ela acabou participando de toda a elaboração do torneio, mas efetivamente ao longo do tempo ela foi, vamos dizer assim, usando um termo até forte, mas negligenciando a sua própria história.

- Quando o Palmeiras traz à luz mais efetivamente a importância dessa
competição, o clube faz um movimento de trazer à tona parte importante da história da própria entidade que a entidade mesmo, ao passar do tempo, desconhecia e ignorava. Então, para nós, esportistas de uma maneira geral, para a entidade de uma maneira geral, para quem vive imerso nas questões do futebol, o pertencimento dessa competição ela traz um sonho ambicionado pela entidade desde a sua existência e materializado num momento de euforia, de pós-guerra, em que o mundo se abria para o novo e traz parâmetros para aquilo que a Fifa mesmo reproduz nas competições que ela idealiza.

A COMPETIÇÃO E A PARTICIPAÇÃO DO PALMEIRAS

O formato da competição que ocorreu entre 30 de junho e 22 de julho, era o seguinte: oito equipes foram divididas em dois grupos de quatro e se enfrentaram entre si. Os dois primeiros de cada grupo se classificaram para a semifinal, disputada em ida e volta. O primeiro de uma chave, pegou o segundo da outra, e o vencedor garantiu vaga na final, também decidida em dois jogos. As sedes foram: Pacaembu, em São Paulo, e Maracanã, no Rio de Janeiro.

No Grupo do Rio, Vasco (campeão carioca de 1950) e Áustria Viena (campeão austríaco de 1949/50) se classificaram para a semifinal eliminando Nacional-URU (campeão uruguaio de 1950) e Sporting (campeão português de 1950/51).

Já no Grupo São Paulo, Juventus (campeã italiana de 1949/50) e Palmeiras (campeão paulista de 1950) foram os classificados eliminando Estrela Vermelha (campeão iugoslavo em 1950) e Nice (campeão francês de 1950/51).

- O status do Palmeiras era de atual campeão paulista de 1950, o atual campeão do torneio Rio-São Paulo. Interestadual mais importante que até então existia no Brasil. Era um time de respeito, mas não eram favoritos, longe de ser o favorito. O Vasco da Gama estava entre as equipes favoritas até por ser a base da Seleção Brasileira de 1950. Como o time ia ser mantido, era o time a ser batido.

- O Palmeiras entra obviamente com a sua condição de um time de camisa, um time importante, um time que figurava ali como uma boa possibilidade, mas não com uma maior possibilidade. Tanto é que isso fica marcado na própria caminhada do clube na competição. Ele se classifica em segundo lugar da sua chave, depois de tomar uma goleada por 4 a 0 da Juventus de Turim e de vencer as duas primeiras partidas frente ao Estrela Vermelha e ao Nice, também com questionamentos da imprensa. O valor da equipe dentro daquela competição, o quanto essa equipe poderia ter chance de título, sempre era visto com ressalvas - explicou Fernando Galuppo.

Nas semifinais, o Palmeiras foi até o Maracanã enfrentar justamente o Vasco, um dos favoritos. No primeiro jogo o Verdão venceu por 2 a 1 e no segundo empatou em 0 a 0, garantindo sua vaga na decisão com grandes atuações do goleiro Fabio Crippa, e mudando seu status no torneio . Ainda assim, sem o cartaz que tinha a Juventus, que eliminou o Áustria Viena, no Pacaembu.

- Depois, nas semifinais contra o Vasco, aí sim é uma grande surpresa, a grande afirmação. Fruto até mesmo da atuação do terceiro goleiro do Palmeiras (Fabio Crippa), que faz uma partida fantástica nos dois jogos. Contra o Vasco da Gama, um empate, uma vitória do Palmeiras, que o eleva à condição de finalista. Mesmo assim, a Juventus era o time invicto na competição.

- Era a equipe mais credenciada durante toda a campanha, durante toda a competição, como o time que era a principal conjunto, vamos dizer assim. Até pelo que ele construiu na campanha durante o torneio nas fases anteriores, era a equipe a ser batida. Então o Palmeiras tinha sim os seus valores, mas não era visto como favorito para aquela competição.

Na final em dois jogos no Maracanã, no tradicional "estilo Palmeiras", contra tudo e contra todos, a equipe Alviverde levou a melhor. Venceu o primeiro por 1 a 0, com gol de Rodrigues e levou a vantagem para o segundo, que foi mais tenso. Para mais de 100 mil pessoas no estádio, o Verdão perdia por 2 a 1 até os 30 minutos da segunda etapa, quando Liminha empatou e garantiu o título.

A zoeira e a contestação não vão deixar de acontecer, assim como a Fifa não parece disposta a encerrar a polêmica que, por muitas vezes, ela mesmo cria. No entanto, para o Palmeiras, não há dúvidas de que se tratou de um Mundial, principalmente levando em conta o contexto da época. Neste sábado, então, o clube terá a chance de conquistar pela segunda vez em sua história, dessa vez em um formato que a entidade comercializa e divulga com tal importância.