Antonio Carlos Barbosa, de 70 anos, é, possivelmente, um dos treinadores mais experientes do basquete feminino brasileiro. Não por acaso, foi chamado em um momento de crise entre a Confederação Brasileira (CBB) e os clubes que disputam a Liga Nacional para comandar a Seleção em busca de uma medalha olímpica na Rio-2016. Mas, esse não será seu único trabalho à frente da equipe, já que precisa “acalmar” o atrito que ele mesmo define como: sem motivo.
Com três passagens pela Seleção (1976 a 1984 , 1996 a 2007 e agora), ele busca ser interlocutor entre os seis times que disputam a LBF e a entidade máxima da modalidade.
Recentemente, os clubes anunciaram um boicote à equipe nacional, enquanto a CBB não entregar a elas o controle do time. O L! procurou Ricardo Molina, presidente do Corinthians/Americana e principal atuante do Colegiado de Clubes, mas ele disse, por meio de sua assessoria, que não se manifestará até a próxima reunião do grupo.
Experiente, conhecido, respeitado e dono de um bronze olímpico, em Sydney (AUS), em 2000, Barbosa tentará ser a ponte entre as duas partes em crise. Tudo isso a menos de oito meses do início da Rio-2016.
Confira abaixo a entrevista exclusiva do treinador ao LANCE!:
'Realmente estamos tendo resultados, internacionalmente, em níveis piores. Mas eu não vejo o basquete mal' - Barbosa
LANCE! - Como surgiu o convite para assumir a Seleção Brasileira?
ACB - Foi feito muito em cima. Ficaram sabendo da saída do (Luiz Augusto) Zanon (na última sexta-feira) e me ligaram fazendo esse convite.
L! - Você estava afastado das quadras. Isso atrapalha?
ACB - Eu estava fora da Seleção há mais de sete anos. Mas sempre estive vinculado ao basquete. Parece que se você está fora da Seleção, está fora do mundo. Em um primeiro momento, não respondi, queria pensar, porque era muito repentino. Na realidade, eu não queria mais ser técnico da Seleção. Eu tinha uma perspectiva de trabalhar com basquete na CBB, mas em uma função mais de supervisão, formação de técnicos e jovens. Analisei e achei que ainda teria condições perfeitas de trabalhar. É um orgulho ser lembrado aos Jogos.
L! - Por que não queria mais ser técnico de basquete?
ACB - Eu não tinha mais intenção a nível de Seleção apenas. Em clubes, tudo bem, mas na Seleção Brasileira eu não pensava mais em trabalhar.
L! - Quais os maiores problemas no basquete feminino no país?
ACB - Em termos de jogadoras, potencial e nível técnico, o problema é muito menor do que está sendo dito. Realmente estamos tendo, internacionalmente, níveis piores em competições. Mas eu não vejo o basquete mal. Talvez não tivemos convocações bem feitas. Perdemos jogos em que não tivemos estrutura emocional. Jogamos com atletas jovens, mais fáceis de desestruturar emocionalmente. Ainda temos uma base de atletas na WNBA. O problema, hoje, é um que sempre tivemos, que é a falta de equipes no cenário nacional.
'Na realidade, eu não queria mais ser técnico da Seleção. Eu tinha uma perspectiva de trabalhar na CBB, mas em uma função mais de supervisão, formação de técnicos e jovens' - Barbosa
L! - O Zanon acreditava que o maior problema era a falta de atletas intermediárias, entre as jovens e as mais experientes. Concorda?
ACB - Não podemos culpar o Zanon por isso, mas estamos em desde 2009, 2010, com a Seleção feminina tendo um técnico por ano. Não há sequência. Talvez, muitas atletas intermediárias foram queimadas, e isso é muito errado. Mas vejo sim jogadoras que possam estar no time.
L! - Acha que pode ajudar na crise entre clubes e CBB?
ACB - Eu sou uma pessoa extremamente ligada ao basquete feminino. Eu faço isso desde muito cedo. Tenho isso no meu sangue. Eu tenho respeito, não caí de paraquedas aqui. Tenho 21 anos de Seleção Brasileira. Isso gera credibilidade. Os técnicos mais antigos da Liga são amigos meus há 50 anos! Tenho amizade com todos eles. Não vejo dificuldades em nada disso.
L! - Era isso que faltava, então? Um técnico experiente para diálogo?
ACB - É uma crise sem um motivo muito firme. Eles (Colegiado de Clubes) alegam desrespeito, falta de apoio, então, isso é algo que deveríamos sentar em uma mesa e conversar. A CBB passa por dificuldades financeiras e isso reflete em todas as Seleções.
'Os resultados que tivemos nos últimos anos, tiram a responsabilidade absoluta' - Barbosa
L! - Qual foi a fase mais difícil na qual você assumiu a Seleção, a primeira, segunda ou terceira?
ACB - Foram três fases diferentes. Na primeira, tive de formar uma Seleção. Levei a Magic Paula com 14 anos, a Hortência com 17, e a Marta com 16. Foi difícil, mas sem cobranças. O basquete masculino tinha uma presença de mídia muito maior. Eles ficavam em hotéis e nós embaixo da arquibancada do Pacaembu. Na segunda, foi uma pressão grande em manter o Brasil em um bom nível no mundo. E conseguimos. Nessa, é claro, é mais uma grande responsabilidade por termos uma Olimpíada no país. Mas os resultados que tivemos nos últimos anos, tiram a responsabilidade absoluta. Mas não vou nessa direção, vou lutar para trazer uma medalha.
L! - Até que ponto a Seleção pode chegar na Rio-2016?
ACB - Eu acho que dá para brigar por medalhas. Não vejo uma equipe que não seja competitiva nos Jogos.
L! - Você planeja algo a longo prazo na Seleção Brasileira?
ACB - A situação atual da CBB não permite fazer uma programação a médio e longo prazo. Só conversamos sobre Olimpíada do Rio de Janeiro.
Quem é ele?
Nome
Antonio Carlos Barbosa
Nascimento
14/04/1945 - Em Bauru (SP)
Último clube
Maranhão Basquete (feminino), na temporada 2013/2014
Barbosa na Seleção feminina:
1976 a 1984
Em sua primeira passagem pela Seleção Brasileira adulta, Antonio Carlos Barbosa levou o time ao nono lugar no Mundial da Coreia do Sul (1979), e à quinta colocação no Brasil (1983). Além disso, foi quarto no Pan-Americano de San Juan (PUR), em 1979, e Caravas, (VEN), em 1983.
1996 a 2007
Nessa passagem, somam-se os trabalhos na Seleção de base. Com ela, Barbosa ficou em quarto no Mundial do Brasil (1997). No time adulto, levou o bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney (AUS), em 2000, e foi quarto em Atenas (GRE), em 2004. No Mundial, ficou em quarto na Alemanha (1998) e no Brasil (2006), e sétimo na China (2002). Além disso, levou o ouro no Pan do Rio (2007).