No final de 2013, uma praça pública em Piratininga, na cidade de Niterói, recebia inúmeras partidas de basquete. Os jogos eram disputados apenas por lazer entre moradores da vizinhança, mas foram a semente de um projeto que cresceu e hoje chegou ao Estadual do Rio: o Niterói Basquete Clube.
Os laços entre os jogadores, em sua maioria de 15 a 18 anos, que jamais tinham jogado basquete fora da escola, foram aumentando e levaram ao surgimento de um time de categorias de base. O objetivo inicial do grupo era a disputa da Liga Super Basketball, uma competição estadual independente e de preço acessível.
Cinco anos e algumas equipes juvenis depois, a semente deu seus primeiros grandes frutos profissionais. Hoje, o Niterói é uma das quatro equipes que disputam o Estadual do Rio de basquete, junto a gigantes do esporte como Botafogo, Flamengo e Vasco.
Niterói precisava de esforços múltiplos para se manter financeiramente
As notícias sobre a criação do time não só foram bem recebidas, como alavancaram também o número de pessoas interessadas em fazer parte do projeto. Na virada para o ano de 2014, o Niterói já tinha uma equipe sub-17, sub-19 e uma profissional para a disputa da temporada de basquete.
O projeto tomou rumos maiores, mas os obstáculos financeiros não deixaram de existir. No início de tudo, os atletas tiravam dinheiro do próprio bolso para pagar taxas de inscrição em campeonatos. Hoje, o panorama já é um pouco diferente, como Thiago Brani - que é presidente, fundador e ala-armador do Niterói Basquete Clube - contou ao LANCE!.
- Esse ano viemos com outra proposta. Como nossa ideia é dar um passo à frente, o primeiro passo era não ter mais esse custo para os atletas. Conseguimos captar alguns patrocínios e geramos receita suficiente para bancar as taxas dos campeonatos. Não temos mais um custo direto do atleta, só não podemos remunerar todos ainda - explicou.
Atualmente, o Niterói contra com quatro patrocinadores para sanar os custos do Estadual. Um deles é o colégio La Salle, que estampa a camisa da equipe em troca da cessão de seu ginásio para os treinos e jogos do Cacique. Além disso, há também uma concessionária de carros, uma firma de assessoria de condomínios e uma corretora de seguros.
Participação no Estadual profissional surge após convite da federação
O planejamento para a temporada adulta do Niterói tinha como objetivo inicial a disputa do Cariocão, uma espécie de estadual amador da própria Federação de Basquetebol do Estado do Rio de Janeiro (FBERJ). O desejo de participar do Estadual do Rio já existia, mas acabou sendo antecipado graças a um convite de própria FBERJ após o bom início do Cacique na temporada.
- Eles viram nossa organização, viram que as coisas estavam tomando um rumo legal e fizeram o convite. Disseram os custos, as normas e começamos a viabilizar nossa participação. Era algo que já estava no planejamento, mas ainda não era concreto. O convite nos animou muito. Chegamos a participar de uma reunião na federação com os outros três grandes, e todos tinham interesse na presença do Niterói no Estadual - completou Thiago.
Amor ao basquete e vida dupla ditam cotidiano da equipe
De 9h às 18h, Rodolfo leva uma vida de escritório coordenando projetos de exportação aérea. Quando o expediente termina, seu foco se direciona para os treinos do Niterói Basquete Clube, onde atua como ala. A vida dupla é algo comum dentre os atletas da equipe - de todo o plantel, Gabriel Andrade é apontado como o único que se dedica ao basquete integralmente; em 2018, ele atuou pelo Brasília Búfalos na Liga Ouro.
O plantel do Cacique é comandado pelo treinador Luiz Otávio Guimarães, o "Mingau", que fez parte do elenco campeão do mundo pelo Flamengo em 2014. A dedicação aos treinos acontece, principalmente, por amor ao esporte. Atualmente, o projeto do Niterói consegue suprir demandas financeiras tais quais taxas de inscrição em torneios, mas os valores ainda não são suficientes para remunerar os atletas. Todavia, a falta de salário não inibe o enorme senso de responsabilidade e cooperação que dita o cotidiano da equipe fluminense.
- É por amor, é por gostar de basquete, é pela paixão de estar dentro de quadra. Estar no Niterói é muito mais pelo prazer que o esporte me traz. Ter o time hoje é bom não só para nós atletas, mas para toda a cidade, para as crianças que podem vir e descobrir um esporte talvez muito mais dinâmico que o próprio futebol. Isso só engrandece nosso projeto. Queremos formar algo que não seja esquecido passado esse ‘boom’ do Estadual - enfatiza o ala.
A equipe do Niterói abre as portas para um promissor futuro esportivo na cidade, tanto dentro quanto fora das quadras. Prova disso é o retorno dado pela torcida local, que encheu o ginásio do La Salle em todas as chances que teve para apoiar a equipe de basquete. Rodolfo destaca, ainda, a reação do público ao tempo técnico pedido pelo treinador Alberto Bial, técnico do Vasco, na estreia do Estadual.
- O que a gente viu aqui contra o Vasco (na estreia) foi muito emocionante. Nunca pude imaginar que tão pouco tempo de trabalho árduo fosse gerar resultados tão positivos. Chegar e ouvir o pessoal gritando ‘vai, Cacique, vai Niterói’ a cada bola que a gente se jogava… Quando o Bial pediu tempo logo que estávamos ganhando o jogo, o ginásio todo estava gritando. Foi uma coisa surreal, a gente não consegue mensurar. Para quem já fez tanto pelo Niterói, ver a torcida se empenhando é muito gratificante - finalizou Rodolfo.
Niterói Basquete sonha com participação no NBB
O sucesso nos últimos cinco anos é notável, mas... passado o Estadual do Rio, o que fica para o futuro do Niterói? Além da exportação do nome da cidade e a esperança de desenvolver a prática esportiva, o plantel do Cacique mira alto: daqui a três ou quatro anos, o objetivo é chegar ao NBB, elite do basquete nacional.
- Com esse Estadual e essa oportunidade batendo na porta, muito do que estava longe para a gente agora está mais perto. Vamos sentar e planejar diversas questões para 2019, já temos alguns campeonatos em mente. A obrigação é disputar novamente o Estadual, mas vamos ver também torneios a nível regional. A ideia é solidificar nossa estrutura para, em 2020, estarmos entrando na Liga Ouro. É a primeira porta que vamos abrir para entramos no NBB daqui a uns anos - finalizou Thiago Brani.
Em busca da primeira vitória, o lanterna Niterói entra em quadra neste sábado, às 14h, para enfrentar o Botafogo. A partida é válida pela segunda rodada do returno do Estadual do Rio. O duelo será no ginásio Oscar Zelaya, em General Severiano.