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Ginasta Angelo Assumpção afirma ter sido alvo de racismo em clube

Auditoria interna do Pinheiros apontou atos de assédio moral e injúrias contra atletas

Desempregado, Angelo Assumpção acusa o Pinheiros de racismo (Foto: Ricardo Bufolin/CBG)
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O resultado de uma auditoria interna do Pinheiros apontou práticas de assédio moral e racismo de treinadores contra atletas nos últimos anos, entre eles o ginasta Angelo Assumpção, de 24 anos, que chegou a ser considerado uma promessa da modalidade. O caso foi revelado pelo Esporte Espetacular, da "Globo".

Demitido do clube em dezembro do ano passado, ele afirmou não compreender as razões de seu desligamento e disse ter se machucado com situações protagonizadas por profissionais do clube.

- Quando eu comecei a fazer trança, ouvi discurso de que aquilo atrapalhava meu desempenho. Minha trança atrapalhava meu desempenho. Eu escutei isso dentro do Pinheiros. É muito complicado você estar se conectando, estar entendendo quem você é, e você recebe isso. Teve uma situação que eu estava todo de laycra preta e de shorts branco, e eventualmente uma pessoa disse que eu estava só de bermuda, entendeu? Então, são situações assim que para as pessoas são despretensiosas, não veem maldade, mas para a gente que vive isso todos os dias, que entende o que é um racismo estrutural, a gente se machuca demais - contou Angelo.

O atleta chegou ao Pinheiros quando tinha oito anos e se tornou uma das promessas da ginástica artística brasileira. Em 2015, virou notícia ao ter sido vítima de racismo em um vídeo gravado por seus colegas Fellipe Arakawa, Henrique Flores e Arthur Nory, dias depois de Angelo ter levado o ouro na prova de salto da etapa de São Paulo da Copa do Mundo. 

“Seu celular quebrou: a tela quando funciona é branca… Quando ele estraga é de que cor? (risos)”, pergunta Arthur Nory, com Angelo constrangido próximo a ele. “Preto!”, respondem os outros. “O saquinho do supermercado é branco. E o do lixo? É preto!”.

- Quando aquilo tudo foi acontecendo na mesa, para mim senti que eu era inferior. Eu falei: "Caraca, eu não tenho resposta, não tenho saída". Como essas pessoas próximas de mim, que de alguma maneira sabem a minha história, sabem a dificuldade que foi passar por todos esses racismos dentro da modalidade, como essas pessoas fazem isso? O meu maior medo quando tudo isso estava acontecendo era de eu perder o meu espaço. Eu falei assim: "Cara, se eu expor isso realmente, eles podem tirar o lugar que eu estou?" Então fiquei quieto por querer continuar exercendo a minha função - disse Angelo, que teve uma queda de rendimento após o episódio e entrou em depressão.

- O que eu vejo é que foi uma coisa crucial foi o racismo. Não tem uma outra explicação que eu veja para isso. Como isso realmente foi decisivo para eu estar ou não estar nas Olimpíadas. Então eu acho que é um trabalho que precisava ser feito de uma maneira diferente, e assim as chances de eu estar lá são muito maiores e concretas - disse Angelo, que pela primeira vez tornou pública sua insatisfação com o problema.

- Por muito tempo eu fui o único negro ocupando aquele espaço. É muito complicado, porque você olha para o lado e você só vê pessoas brancas praticando o esporte e como que isso dificuldade a gente ter resultados, né!? - disse Angelo.

Ele e Nory, que eram próximos até então, se distanciaram, e o atual campeão mundial da barra fixa mostrou arrependimento pelo episódio.

- Foi uma atitude repugnante inaceitável que hoje não pode acontecer mais. A gente não pode ser conivente com uma situação como essa - afirmou Nory.

A autoria reuniu relatos de atletas da ginástica artística e concluiu que houve caracterizado assédio moral praticado pelos técnicos Hilton Dichelli, Cristiano Albino, Lourenço Ritli e ainda, em proporções menores, mas ainda mencionados: Felipe Polato e Danilo Bornea.

Outro caso apontado pelo Esporte Espetacular foi de assédio moral contra a atleta Jackelyne Silva, que foi ginasta do Pinheiros. Ela morreu em janeiro de 2019 aos 17 anos vítima de uma infecção pulmonar. Era negra, da Zona Leste de São Paulo e estava no clube desde pequena.

- Eles pegam mais no pé do bolsista do que do sócio. Isso é fato. Se o sócio machucar o dedinho do pé, pode ficar uma semana. O bolsista tem que estar lá treinando, querendo ou não - disse Marco Antonio Gomes da Silva, pai da Jacke.

Os pais pedem uma indenização por danos morais ao Pinheiros em um processo extrajudicial.

O Pinheiros é o clube que mais investe no esporte olímpico no Brasil. Em mais de 100 anos, foram 12 medalhas conquistadas em Jogos Olímpicos. Porém, desde antes da pandemia, a diretoria já vinha realizando cortes nos investimentos. 

Em nota, o clube afirmou que "diversos fatores levaram ao rompimento do contrato, dentre eles: calendário desportivo, desempenho técnico e comportamento disciplinar."

"Todos os atletas passam por avaliações periódicas de desempenho técnico e comportamental. No caso do Angelo há registros documentais de prática constante de indisciplina, tais como atrasos a treinos e demais atividades, insubordinação com a equipe técnica e atrito com os demais integrantes de equipe, acarretando inicialmente em advertências verbais que culminaram na suspensão do atleta, na forma de seu contrato desportivo, então vigente", informou a diretoria.

O clube disse ainda que "repudia e se posiciona contra qualquer atitude racista e que todos os relatos recebidos pelo clube são averiguados e documentados. Quanto ao caso citado, não há evidências fáticas que o referido atleta tenha sofrido qualquer ato discriminatório nas dependências do clube ou fora delas".

Angelo dá outra versão.

- Nunca tive má conduta dentro do Pinheiros, não recebi aviso nenhum. Eu procurei (a diretoria) e eu fui punido. Explica! Eu quero que explique - disse.