0b4d39c1-0cb5-4d31-a32c-7e9a8a96e1c1_Avatar GP
Grande Premio
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 25/08/2025
08:00
Compartilhar

Fernando Alonso tem, sim, a sua razão ao protestar contra o fato de a mídia internacional — sobretudo a britânica — não ter dado o devido destaque a Gabriel Bortoleto nas últimas corridas. Por muito menos, por exemplo, os italianos se derretem por Andrea Kimi Antonelli, que hoje vive espiral negativa com a Mercedes desde que a Fórmula 1 desembarcou nos circuitos permanentes pela Europa. Mas se Kimi leva vantagem por estar em uma das quatro atuais equipes de ponta, Bortoleto precisou roer o osso nas primeiras etapas com uma Sauber que partiu da rabeira da tabela, por isso há de se louvar (e muito!) o brasileiro terminando nos pontos em três dos últimos quatro GPs realizados em 2025.

➡️ Siga o Lance! no WhatsApp e acompanhe em tempo real as principais notícias do esporte

Aqui, claro, é preciso pontuar a nítida evolução do carro verde e preto desde Barcelona, quando introduziu um assoalho revisado que, nas palavras do diretor-esportivo, Iñaki Rueda, foi pensado para deixar o carro “mais fácil de pilotar”. Essa, aliás, era uma urgência, já que a dificuldade tanto de Bortoleto quanto do experiente Nico Hülkenberg com a direção era evidente, e o alemão usou bastante do vasto repertório para avançar ao Q2 e começar a flertar mais fortemente com o top-10, mesmo apanhando ao volante.

Gabriel, por sua vez, precisou de um pouco mais de paciência em um ano típico de novato, com muito aprendizado e erros até previsíveis, mas sem passar a impressão de que estar ali era um movimento precipitado. A sensação, na verdade, era de que faltava apenas um ajuste fino no equipamento para que a pilotagem destravasse de vez e ele começasse a buscar os mesmos resultados, ousando ir além.

Chama atenção, contudo, o fato de Bortoleto ter sempre se apresentado muito consciente de todo o árduo caminho a ser percorrido na F1, sem deixar que o óbvio abatimento diante de um resultado ruim o dominasse por completo a ponto de mudar a própria perspectiva de si (sim, Lewis Hamilton, essa foi para você). E tal visão gerada do lado de cá também era compartilhada por Hülkenberg e principalmente por Jonathan Wheatley, chefe da Sauber.

Fernando Alonso e Gabriel Bortoleto (Foto: Reprodução)

Mas para quem acompanhou a Fórmula 2 no ano passado, isso não era novidade. É possível facilmente identificar essa mesma característica na forma como o brasileiro conduz o próprio campeonato na F1. Uma qualidade notável é o rápido desenvolvimento diante de uma nova lição, mas a segurança foi um ponto que sobressaiu na Áustria. Em um dos circuitos favoritos, soube ser frio e arrojado na mesma proporção para levar a Sauber ao Q3 e também aos pontos, mantendo a boa sequência iniciada por Hülkenberg na Espanha.

Veio, então, o GP da Inglaterra, e o noviciado gritou com força ao se deixar levar pela decisão de George Russell e Charles Leclerc, mais experientes, que acharam por bem colocar pneus slicks quando o veloz asfalto de Silverstone ainda estava molhado. A aposta parou na primeira volta, um abandono dolorido, mas que trouxe enorme ensino sobre confiar no próprio instinto na próxima. Aqui, aliás, mais uma vez vale destacar a postura de Bortoleto ao bater no peito e assumir a jogada totalmente equivocada e não permitir que a frustração reinasse.

A Sauber seguiu trabalhando em melhorias e proporcionando aos pilotos chance de buscar por mais. Difícil, claro, imaginar que mais seria esse para uma equipe que começou a temporada como última força e saiu da Inglaterra com um belíssimo pódio na conta, cortesia de um aguerrido Hülkenberg. Faltava, contudo, a estabilidade para dar a garantia necessária de que sonhar com outros pódios, ainda que não este ano, também era possível.

E veio justamente de Bortoleto a confirmação de que, sim, o trem estava de volta aos trilhos. Após mais algumas atualizações, Gabriel foi ao Q3 na Bélgica e na Hungria, corridas sequenciais realizadas em condições climáticas distintas. E lembram a lição tirada lá na Inglaterra? Pois serviu muito bem em Spa-Francorchamps, ainda que a maior parte da corrida tenha sido realizada já com trilho. Porém o que realmente se destacou foi o ritmo de corrida. Depois do nono na Bélgica, conquistou no Hungaroring o melhor resultado até aqui ao cruzar a linha de chegada em sexto — e com chances de brigar pelo quinto contra Liam Lawson.

Foi este resultado que levou Alonso ao protesto que abre esse texto. Um novato levando uma Sauber ao top-6 da F1 não é algo que se vê todo dia, pelo contrário. Bortoleto é, sem dúvida, o que mais apresenta evolução, e isso é dito se levarmos em conta que Antonelli, por exemplo, corre em uma equipe de ponta e Isack Hadjar, outro estreante de saltar os olhos, sempre teve nas mãos um carro melhor. Por isso, é justo dizer, sem o menor pachequismo, que Gabriel é o melhor novato de 2025, passadas 14 etapas.

Restam mais dez pela frente, e será um desafio e tanto: circuitos novos, alguns urbanos e que sempre escondem armadilhas, mas também será na segunda metade do ano que ele estará correndo em casa como um dos 20 pilotos do grid da maior categoria do automobilismo mundial. Bortoleto tem condições de alçar voos muito mais altos, e não há dúvidas de que poderá fazer isso, pois já entendeu que só se chega ao topo da escada subindo um degrau por vez.

Fórmula 1 volta às pistas após o recesso de verão, entre os dias 29 e 31 de agosto, para o GP dos Países Baixos, em Zandvoort.

▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
▶️ LEIA TAMBÉM: Hamilton vira pôster de desânimo em caixa de cigarro, e Ferrari devolve com fracasso na F1

Siga o Lance! no Google News