Libertadores

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

‘Calote’ do The Strongest em 1969 salvou brasileiro de desastre aéreo

Nilton Pinto foi impedido de viajar com a equipe porque o Tigre não havia pago o dinheiro de sua contratação. Na volta para La Paz, o avião caiu sem deixar sobreviventes<br>

Acidente aéreo&nbsp;que deixou 74 mortos ficou conhecido como 'Tragédia de Viloco' (foto: The Strongest/Divulgação)
Escrito por

— Menina, sabe que eu nem consegui dormir ontem à noite? Depois que eu falei com você sobre o acidente, fiquei lembrando. Toda vez que eu viajo de avião é a mesma coisa. Me preocupo, não consigo parar de pensar no que aconteceu.

Cinco décadas não foram suficientes para amenizar as memórias de Nilton Pinto, o Niltinho, sobre o acidente aéreo que dizimou o elenco do The Strongest em 1969. Ao término daquela temporada, a equipe foi convidada para disputar um amistoso em Santa Cruz de La Sierra, onde perdeu para o Cerro Porteño, do Paraguai. O revés que se seguiu, contudo, foi além de qualquer derrota já enfrentada pelo clube fundado em 1908.

No dia 26 de setembro, na volta a La Paz, o Douglas DC-6 do Lloyd Aéreo Boliviano bateu na região montanhosa de Viloco, a cerca de 100 km de La Paz. Nenhuma das 74 pessoas que estavam a bordo sobreviveu, incluindo 16 jogadores e três membros da comissão técnica do clube.

Na época, Niltinho defendia o boliviano Always Ready, por onde disputou a Libertadores de 1968. Ele havia acertado verbalmente com o Tigre e já estava em La Paz, de onde deveria viajar com o restante do elenco para o amistoso. Estava em casa, arrumando as malas, quando um dirigente do Always telefonou e avisou que ele não poderia ir, pois o novo clube ainda não havia depositado a quantia acertada pela negociação.

— Fui convocado para o jogo, mas não me liberaram. O presidente do Always não me deixou ir porque não tinha sido feita a transferência do dinheiro. Na hora eu xinguei, porque queria ir — contou o ex-jogador ao LANCE!.

A revolta durou pouco. Niltinho desfez as malas e ficou na concentração. Poucos dias depois, recebeu a notícia de que o avião que trazia o time de volta havia se chocado contra a cordilheira. Não havia sobreviventes.

— Quando eu soube, nasci de novo. Fiquei atordoado. Na hora calcule o que passou pela minha cabeça, eu nem sabia o que falar. Todos os meus companheiros, inclusive dois atletas que jogaram no Always comigo (Jorge Tapia e Eduardo Arrigó), haviam falecido. Aquilo me deu um vazio, eu tinha 21 anos. Não fui e o avião caiu. Como é que a gente fica? — contou.

O brasileiro não foi o único a se salvar. Três jogadores do Tigre também não embarcaram: Luis Gini, por motivo de lesão; Marco Antonio Velasco, que chegou a ir a Santa Cruz de la Sierra, mas optou por ficar mais uns dias para visitar sua família; e o capitão Rolando Vargas, que estava gripado. Padrinho do filho de Nilton, o boliviano diz que sua salvação foi "obra do destino".

A tragédia causou grande comoção na Bolívia e em toda a América do Sul. O presidente do clube na época, Rafael Mendoza, foi responsável por reerguer a equipe e contou com muita colaboração. Como estava praticamente acertado, Niltinho foi o primeiro a se apresentar. Depois vieram os outros. O arquirrival Bolívar e outros times locais emprestaram jogadores para que o Strongest pudesse fazer uma excursão para arrecadar fundos.

O Brasil também participou. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), então presidida por João Havelange, organizou um Fla-Flu no Rio de Janeiro e doou toda a renda para o clube de La Paz. O Boca Juniors repetiu o gesto e ainda cedeu dois jogadores de sua base - Luis Fernando Bastida e Víctor Hugo Romero - que vieram a ser destaques na Bolívia. Já o presidente da Conmebol, Teófilo Salinas, colaborou com 20 mil dólares.

Todo o apoio fez com que o The Strongest se recuperasse rapidamente. Já na temporada seguinte, ergueu o troféu do Campeonato da Liga de La Paz - o futebol boliviano ainda não tinha uma liga unificada. A equipe foi campeã também em 1971 e 1974, além de ter vencido a Copa Simón Bolívar em 74.

— A ideia de fechar o clube sequer foi cogitada, porque embora tenha sido uma marca terrível na Bolívia, o Strongest já era muito grande e querido. O time se reergueu porque todo mundo queria ajudar. Foi uma coisa monstruosa, o país inteiro parou. Todos se comoveram — explicou o ex-jogador, que deixou o clube amarelo e preto em 1973.

O The Strongest receberá o São Paulo nesta quinta-feira, às 21h45 (de Brasília), pela última e decisiva rodada da fase de grupos da Libertadores. Para avançar às oitavas de final, o Tricolor terá que enfrentar, além da altitude de La Paz, uma equipe marcada pela superação.

Relembre outros acidentes aéreos envolvendo clubes de futebol: 

Torino
No dia 4 de maio de 1949, o Torino retornava de Lisboa após uma partida amistosa com o Benfica. Já próximo de aterrissar em Turim, o Fiat G.212 da Avio Linee Italiane se chocou contra a Basílica de Superga. 31 pessoas morreram, sendo 18 jogadores e cinco membros da comissão técnica. Faltavam quatro rodadas para o fim do Italiano e o clube, que liderava com folga, estava prestes a ser campeão. 

Manchester United
​​
Em 6 de fevereiro de 1958, o Manchester United perdeu oito jogadores no "Desastre de Munique". O Airspeed AS-57 Ambassador da British European Airways caiu na decolagem de Munique para Manchester e vitimou 20 das 44 pessoas que estavam a bordo, sendo oito jogadores da equipe. Os atletas voltavam da Iugoslávia após enfrentar o Estrela Vermelha. 

Seleção olímpica da Dinamarca
No dia 16 de junho de 1960, o e Havilland Dragon Rapide fretada pela Associação Dinamarquesa de Futebol caiu em Oresund logo após decolar em Copenhague. Todos os oito atletas que estavam a caminho dos Jogos Olímpicos de Roma morreram. Apenas o piloto sobreviveu. 

Green Cross
Em 3 de abril de 1961, o Green Cross, do Chile, perdeu oito jogadores, o técnico e o fisioterapeuta quando o Douglas DC-3 (mesmo modelo do desastre com o The Strongest) bateu na Cordilheira dos Andes a caminho de Santiago. Foram 24 vítimas no total. O local exato do acidente só foi descoberto no ano passado.

Pakhtakor Tashkent
Em 11 de agosto de 1979, a equipe do Uzbequistão viajava para Minsk para enfrentar o Dinamo Misnk. Porém o Tupolev Tu-134 da Aeroflot se chocou com outro avião do mesmo modelo e vitimou todas os 178 passageiros das duas aeronaves, sendo 14 jogadores e três membros da comissão técnica. 

Alianza Lima

No dia 8 de dezembro de 1987, o Fokker F27 da Servicio Aeronaval de La Marina del Peru que trazia a equipe de Pucallpa para Lima caiu no Oceano Pacífico. Morreram 43 pessoas, incluindo 16 jogadores e toda a comissão técnica do clube. Somente o piloto sobreviveu. 

Colorful 11

Em 7 de junho de 1989, DC-8 da Surinam Airways que levava o Colorful 11 - time formado por descendentes de surinameses que jogavam na Holanda - caiu na capital Parimbo. Dos 178 passageiros, 11 sobreviveram, sendo três jogadores. Porém outros 15 não resistiram. 

Seleção da Zâmbia

Em 27 de abril de 1993, o De Havilland DHC-5D da Força Aérea da Zâmbia estava a caminho de Dakar para um jogo contra o Senegal, válido pelas Eliminatórias da Copa de 1994. O avião caiu em Gabão e matou todas as 30 pessoas a bordo, incluindo 18 jogadores e membros da comissão técnica.