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Vinte anos sem Didi: quem conviveu, quem jogou e quem viu lembram o gênio, o mestre, o príncipe

Péris Ribeiro, amigo e biógrafo; Amarildo, companheiro de time e Seleção Brasileira; José Inácio Werneck, jornalista: trio dimensiona o ex-meia, que morreu há duas décadas

Didi já era considerado gênio no Brasil. Após o Mundial da Suécia, a Europa lhe reverenciou (Foto: Reprodução)
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Naquele dia seguinte, a Folha de São Paulo o definiu como "um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos". A Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS) o coloca na seleção da América do Sul no Século XX e como o sétimo maior jogador brasileiro do século passado. Num 12 de maio como este, mas em 2001, Didi nos deixava. E levava com ele muito mais do que sua "folha seca".

Cada adjetivo é pouco para um craque de um tempo em que havia pouca tecnologia para disseminar os lances e feitos do ex-meio-campista. E como ele se foi no início do milênio, viveu pouco da época atual, na qual tantos registros são feitos espontaneamente. Foram 72 anos de vida, mas uma vida para a história. História contada também e tão bem por quem jogou com ele.

- Não penso que teve outro, na posição dele, que fez coisas melhores do que as que ele fazia. Pode ser identificado como um dos melhores jogadores com quem eu joguei e um dos melhores que vi. A técnica e inteligência que ele tinha, ele usava ao máximo. Sempre foi positivo que ele foi participante de um futebol maravilhoso. E quando ele deixou de jogar, deixou uma falta muito grande - revela, ao LANCE!, Amarildo, o Possesso.

Didi nasceu Waldir Pereira, em Campos dos Goytacazes, no Norte do estado do Rio, e se tornou ídolo do Fluminense. Teve três passagens pelo Botafogo, onde também é ídolo, e ainda passou pelo Real Madrid. Na Espanha, a ciumeira de Alfredo Di Stéfano lhe impediu vida longa. Mesmo assim, foram mais de 15 anos no mais alto nível possível. Três Copas do Mundo, dois títulos de Mundial e prêmio de melhor jogador do primeiro vencido pelo Brasil, o de 1958.

- Para se ter uma ideia, ele conseguia se destacar numa época (na Seleção Brasileira) de Pelé e Garrincha, e no Botafogo também. No meio de toda uma constelação, ele se impunha com a personalidade e pelo estilo, elegância e visão de jogo... lançamentos de bolas de 40, 50 metros. O Gerson teve em quem se inspirar - revela, também ao L!, José Inácio Werneck, jornalista que viu Didi jogar.

Gerson, citado acima, é o Canhotinha de Ouro, que sempre se levanta quando fala de seu professor. Não é pouco ter visto Didi jogar, como Werkeck viu. É um privilégio tamanha a elegância com a qual Didi desfilava em campo. Nelson Rodrigues o descrevia como um Príncipe Etíope. Aliás, o mesmo Nelson usava de suas metáforas rodrigueanas para exaltar o meio-campista. Quem lembra é Péris Ribeiro, jornalista, amigo e biógrafo de Didi.

- No Brasil, ele chegou a ser o jogador de maior salário. Tanto é que o Nelson Rodrigues constantemente colocava que o Didi tomava banho numa banheira de leite de cabra, como se fosse Cleópatra, e que o salário dele era maior que o salário do presidente da república, que era o nosso JK, o Juscelino Kubitschek -  recordou, ao LANCE!.

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Chamado de "Mestre" desde os tempos de jogador, teve na carreira de treinador o momento de grande ganho financeiro. Levou - ou quase que ensinou - o bom futebol por países como Turquia e Arábia Saudita. Fora o Peru, onde se tornou "praticamente um Deus", de acordo com Péris Ribeiro. Levou, inclusive, a seleção local a uma Copa do Mundo após 40 anos. A eliminação foi para o Brasil. O Brasil de 1970.

Amarildo é 11 anos mais novo do que Didi. Bebeu bastante da fonte e, por isso, entende que o sucesso à beira do gramado foi uma consequência.

- Não poderia ser outra coisa. A inteligência que ele tinha no futebol, como jogador... ele era um conhecedor de qualidades - resumiu o Possesso.

Já o "folha seca" é o chute que foi batizado e virou marca. A bola sobe e, com efeito, desce, como uma folha caindo de uma árvore. Efeito que se tenta repetir hoje em dia corriqueiramente. E foi dele também o primeiro gol do Maracanã. 

Simples, elegante e soberano, o "príncipe" de Nelson Rodrigues era amigo de gente importante, como João Havelange e o próprio JK. Péris Ribeiro, que escreveu "Didi: o gênio da folha seca" (está na terceira edição), entende que, se fosse vivo, Didi lamentaria mais do que veria beleza no mundo da bola e no Planeta Terra.

- Acho que ele teria decepções com o mundo de maneira geral. Com relação ao futebol, sim, e as exceções seriam o Zidane - ele sempre achava o Zidane muito inteligente, um jogador altamente elegante, cerebral. Talvez não o visse, hoje, como um grande técnico, mas, sim, aquele jogador que levou a experiência do campo para o vestiário e tudo mais. E o Pep Guardiola, esse sim, um grande treinador - avalia Péris. E completa:

- Jogador (atual) eu creio que ele se limitaria a (gostar do) Messi. E a situação do mundo, hoje, seria de alta decepção e muita preocupação com relação ao caos que a gente passa, em todos os sentidos - pondera.

Em 1962, Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo (Foto: Reprodução)

Meia de um tempo com mais espaço para a arte, Didi vestiu muitas vezes a camisa 8. Lançava mais do que fazia ele os gols. Mais atrás no caminho do gol, lhe cabia por vezes o combate. Mas Amarildo alerta.

- O Didi não precisava ser marcador. Ele que era marcado. Porque eu penso que, pela qualidade que o time também tinha, essa coisa de marcação... mas ele estava sempre no posto justo, sem ter que dar paulada, fazer falta. Ele jogava. Os outros é que tinham preocupação - lembrou o ex-atacante.

Entendedor de vinho, fã do poeta chileno Pablo Neruda, com quem chegou a conversar. Era a excelência personificada. Quando se foi, Didi deixou Guiomar às vésperas dos 50 anos de casamento do casal. Ela se juntou a ele um mês depois.