Futebol Nacional

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Romário, ao LANCE!: ‘Não basta a CBF dar dinheiro. Ela tem que cobrar dos clubes a sua correta aplicação’

Senador aponta a entidade como fundamental para reestruturar o futebol em meio à pandemia do novo coronavírus. Além disto, cobra união entre clubes e gestão profissional

'A CBF tem de liderar um processo de mudança nesse ambiente de gestão coletiva e individual dos clubes', declara Romário (Divulgação)
Escrito por

A vivência no futebol dá a Romário a certeza de que os clubes terão de percorrer um caminho tortuoso até driblarem os impactos causados pela pandemia do novo coronavírus. Aos seus olhos, o "socorro financeiro" dado pela CBF deve ser apenas o pontapé inicial para que as equipes saibam apresentar o esperado poder de reação em suas gestões.  

- A solução não está apenas em dar recursos, mas fomentar e desenvolver novos parâmetros de gestão para os clubes - afirmou o ex-jogador, em entrevista por e-mail ao LANCE!.

Senador pelo PODE-RJ, o Baixinho acredita que a entidade máxima do futebol brasileiro tem um "importante papel nesta retomada", pede modernização de gestão e, em especial, maior união entre os cartolas.

LANCE!: Quais são os caminhos para os clubes brasileiros voltarem a se estruturar diante dos tempos difíceis da pandemia do novo coronavírus?

Romário: A pandemia afeta a todos, sem exceção, mas trará mais problemas para aqueles que já estavam com suas contas desestruturadas. Ficará mais evidente a necessidade de uma reformulação na gestão de vários desses clubes e uma definitiva profissionalização. Não dá mais para orçamentos de R$ 300 ou 400 milhões serem geridos por amadores, que nem dedicação exclusiva dão ao clube. Fica cada vez mais importante também os clubes se unirem em torno de seus interesses e do futebol brasileiro como um todo, e parar de cada um agir de maneira egoísta. Ao contrário do campo, fora dele, não basta ter apenas um vencedor. O sucesso é conjunto.

L!: O senhor destacou a postura recente da CBF ao suspender taxas de registro e transferência de jogadores por tempo indeterminado para clubes de menor investimento. Quais outros caminhos a entidade pode seguir para dar um amparo maior a estes clubes?

A CBF tem um importante papel nesse processo de retomada. Como gestora máxima da modalidade, tem estrutura e caixa para ajudar o sistema do futebol nesse momento de grave crise, como vem fazendo. O presidente (Rogério) Caboclo tem se mostrado sensível a isso. Mas não basta dar dinheiro. Tem de cobrar sua correta aplicação, senão vai ser aquela história da torneira e do ralo. Soubemos nessa semana que o time do Audax, que faz parte da série A1 do Campeonato Brasileiro feminino, recebeu os R$ 120 mil de ajuda e não pagou suas atletas. Isso é um absurdo!

'É importante que os clubes se unam em torno de seus interesses e do futebol brasileiro, e parem de agir de maneira egoísta', diz o ex-atacante


L!: Alguns clubes das Séries A e B também já apresentavam problemas financeiros antes da pandemia. Acredita que devam receber suporte financeiro da CBF de que maneira? Crê que as agremiações possam se reerguer e sanar suas dívidas futuramente?

Os clubes precisam, definitivamente, se erguer e se estabelecer com suas próprias pernas. É claro que, num momento de grave crise como o que estamos vivendo, alguma ações de ajuda financeira são necessárias, sobretudo para os pequenos. Já me manifestei sobre isso, inclusive. É como o paciente que vai para o hospital e precisa de uma injeção, para combater uma doença. Depois, volta pra casa com a recomendação médica de mudar alguns hábitos de vida, ou voltará a ficar doente. Os clubes ( não todos, mas uma boa parte deles) são estes pacientes que continuam bebendo muito, fumando, sem fazer exercício físico e que, quando a doença aperta, vão logo pedir um socorro. A CBF, nesse sentido, tem de liderar um processo de mudança nesse ambiente de gestão coletiva e individual dos clubes.


L!: Além de uma presença mais incisiva da CBF, crê que seja o momento do Estado intervir de alguma forma para "socorrer" o futebol brasileiro?

Em termos de recursos, não. O dinheiro público tem outras prioridades, como saúde, educação, segurança pública. Os inúmeros refinanciamentos das dívidas fiscais demonstraram que não são suficientes, e acabam “viciando” os clubes. Mas acho, sim, que podemos contribuir com alguns aperfeiçoamentos na legislação para que criemos um ambiente estruturado e saneador para o futebol, que hoje ainda vive de alguns poucos clubes com uma gestão competente e transparente, mas cuja maioria ainda não se modernizou e se profissionalizou.

'Podemos contribuir com alguns aperfeiçoamentos na legislação para que criemos um ambiente estruturado e saneador para o futebol', afirma Romário, sobre forma do Estado ajudar os clubes brasileiros


L!: O que acha dos projetos do clube-empresa e da Sociedade Anônima do Futebol (SAF)?

Acho extremamente importante debatermos e discutirmos esse tema no Parlamento, junto com toda a sociedade e os atores do futebol envolvidos. Como já mencionei, precisamos criar um ambiente favorável de gestão dentro do futebol. Não creio que tenha fórmula mágica e universal. Temos estudado modelos de diversos países para buscar o nosso, de acordo com as nossas características. Tanto o projeto que veio da Câmara, do deputado Pedro Paulo, quanto o do senador Rodrigo Pacheco tem seus méritos. Temos de buscar um entendimento lá adiante sobre o modelo que precisamos, sem imposições ou novo derrame de dinheiro público. A prioridade do país agora é combater a pandemia. Mas, certamente, essa questão entrará na agenda do Parlamento mais adiante.

L!: O senhor fez um projeto de lei para que a Seleção Brasileira se tornasse um patrimônio cultural. Como fazer com que o futebol nacional volte a ser mais atrativo, seja em jogos da Seleção ou em competições nacionais?

Com mais transparência e gestão profissional, seja nas entidades de prática quanto nas de comando e administração. Isso trará naturalmente mais organização e recursos para o futebol brasileiro, e conseguiremos manter a maior parte de nossos craques jogando aqui, criando raízes com a torcida e desenvolvendo a nossa técnica. Antigamente, bastavam o improviso e o talento natural de nossos jogadores para encantarmos o mundo. Talentos, ainda temos. Mas falta gestão para mantê-los aqui e desenvolvê-los com o nosso estilo de jogo, dentro de um futebol mais moderno e ágil. A Seleção Brasileira será consequência disso.