O zagueiro Paulo André publicou um longo texto em sua rede social para falar sobre sua participação no movimento Bom Senso FC. O grupo não deve contar mais com a participação de jogadores e até o nome da organização pode ser alterado, conforme comentou o diretor-executivo Enrico Ambrogini ao LANCE! no último sábado.
A expectativa é que o grupo centre suas ações em propostas de melhorias para o futebol brasileiro e na articulação e discussão em Brasília de projetos voltado ao esporte tendo à frente Ambrogini e Ricardo Borges, também diretor-executivo do movimento.
Por conta dessas mudanças, Paulo André diz que “cumpriu seu dever” mas que agora “é hora de outros assumirem o movimento e questionarem os rumos que toma o nosso esporte”. E apontou “agora o movimento deixa seu lado mais combativo e passa a ser um centro de pesquisa, de projetos e de articulação entre os entes do esporte”.
Veja abaixo o texto do zagueiro na íntegra.
O Bom Senso acabou?” é a pergunta que pipocou no meu celular nos últimos dias por causa de uma matéria do Painel da Folha de S.Paulo. A resposta é simples, mas a explicação nem tanto, por isso vim me posicionar em respeito aos amigos do futebol, da imprensa e a todos que me leem e têm acompanhado minha jornada.
Durante os últimos 6 ou 7 anos muita coisa aconteceu. Entre o blog, o livro, a ONG, os eventos beneficentes e os títulos, conheci pessoas incríveis que, assim como eu, acreditam que o futebol é mais do que uma paixão, é uma ferramenta de transformação social e um patrimônio cultural do nosso país.
Quem me conhece sabe que sou um sonhador e de certa forma um maluco que vai atrás dos sonhos. Essa maluquice me levou por caminhos fantásticos e também me rendeu boas brigas e debates. Em determinado momento, as porradas ficaram mais fortes do que o apoio que eu recebia e por isso optei por me recolher e esperar a tormenta passar. Tentei viver uma vida tranquila, focada só no futebol, mas ainda acho que é muito pouco para qualquer um viver apenas de uma coisa só. Vivo de desafios, de realizações, de desafios, de sonhos e de paixões.
Aquele histórico Bom Senso de 2013, sentado no gramado, de braços cruzados, já não existe mais. Um outro, mais organizado, com pautas definidas e equipe de trabalho, funciona desde 2014, com menos holofotes e mais resultados práticos, como o Profut em 2015. Mas o segundo, sem a participação dos principais atletas do país, não faz nenhum sentido, não tem razão de prosseguir.
Sempre entendi que o Bom Senso serve como um meio para influenciar e exercer pressão sobre quem toma as decisões no nosso futebol. Ele nunca foi um fim. Os atletas renomados que fizeram parte do movimento nunca quiseram usar sua estrutura e visibilidade para defender causas próprias ou preparar o pós carreira, pelo contrário, colocaram em risco muita coisa para enfrentar quem está no poder. E obtivemos sucesso, sem dúvida.
Só que para continuar existindo, é preciso renovar suas lideranças, é preciso que surjam novos sonhadores, assim como nos movimentos estudantis que tão bem fazem ao país. Por diversas vezes já lamentamos a falta de engajamento dos atletas de destaque do futebol nacional e a falta de interesse dos "nossos" atuais ídolos, tão preocupados com suas redes sociais.
Havia um vácuo de oposição propositiva nos debates com as entidades que administram o futebol, assim como sobre legislação e políticas públicas do esporte e o Bom Senso ocupou esse espaço, não pode fugir dessa responsabilidade.
Porém, a partir de agora o movimento deixa seu lado mais combativo e passa a ser um centro de pesquisa, de projetos e de articulação (think and do tank) entre os entes do esporte, mantendo seu representante na APFUT e seguindo seu trabalho nas comissões de futebol da Câmara e do Senado em Brasília por meio de sua equipe de trabalho. Sua vocação ainda é mobilizar jogadores e criar um ambiente propício para mudanças.
Honestamente, tenho a sensação de que cumpri meu dever nesta etapa da vida, repleto de orgulho por ter feito parte do maior movimento de atletas da história do futebol brasileiro. É hora de outros assumirem o movimento e questionarem os rumos que toma o nosso esporte.
Minha vida seguirá e com ela novos desafios e lutas virão. Não abrirei mão do meu lado crítico, nem de participar de iniciativas que trabalhem por um futebol e um país melhor. Ainda há muito a se fazer dentro do nosso futebol, por vários caminhos, e, infelizmente, há pouca gente capaz ou interessada em assumir essa responsabilidade. As mudanças estruturais não acontecerão do dia para a noite, levarão anos para acontecer, seja por meio do Bom Senso, de outros movimentos ou de entidades, mas é preciso que mais pessoas saiam de suas zonas de conforto para pavimentarmos a via que devemos seguir.
Um abraço,
P.A