O Chelsea vive uma das melhores fases de sua história após tornar-se o primeiro campeão da história do novo formato do Mundial de Clubes. A imponente final contra o PSG coroa uma excelente campanha da equipe de Enzo Maresca no torneio intercontinental. A glória internacional, no entanto, só foi possível graças a um nome: João Pedro, que deu sequência ao seu estrelato no futebol inglês.
Sua trajetória, marcada por impacto precoce e escolhas estratégicas, reflete um processo evolutivo guiado por paciência e inteligência. Sem queimar etapas, João Pedro saiu do Fluminense para construir, passo a passo, uma trajetória sólida até alcançar o Chelsea em 2025.
Os primeiros degraus 🟢⚪🔴
Filho de ex-jogador, João Pedro Junqueira Jesus carregava no sangue a paixão pelo esporte mais popular do Brasil. O jovem deu seus primeiros chutes em Ribeirão Preto, na escolinha do Botafogo-SP. Contudo, o pontapé rumo ao protagonismo aconteceu em 2011, aos 10 anos, a mais de 700 quilômetros de casa. O destino era Xerém, bairro de Duque de Caxias (RJ), para integrar as categorias de base do Fluminense.
No clube, cada passo era uma posição mais próxima do gol; evoluiu de volante a meia-atacante, até encontrar sua vocação como centroavante. Mais do que ter sido criado no Tricolor, ele fez parte de uma das melhores gerações recentes do Vale das Laranjeiras. Ao lado de nomes como André, Martinelli, Luiz Henrique, João formou o elenco que foi campeão carioca e chegou às finais da Copa do Brasil e da Taça BH em 2018. Individualmente, era o principal pilar ofensivo da equipe.
Sob comando de Fernando Diniz, a promessa subiu aos profissionais no ano seguinte, ainda com 17 anos. A promoção prematura havia motivo: antes mesmo de estrear profissionalmente, a joia já havia sido negociada com o Watford, da Inglaterra. O acordo foi finalizado em outubro de 2018, por 11,5 milhões de euros à época, uma das maiores vendas da história do Fluminense.
Cabia ao moleque de Xerém desafiar o tempo e causar impacto na equipe do autêntico técnico. E não poderia ser diferente. A estreia no Brasileirão veio em abril de 2019, contra o Goiás, mas o melhor estava guardado para as Copas. Pela Sul-Americana, o camisa 23 marcou um triplete na vitória por 4 a 1 sobre o Atlético Nacional, da Colômbia, em pleno Maracanã. A torcida tricolor pôde observar o nascimento de mais um grande atacante de referência formado no clube.
O início seguiu com estatísticas fulminantes: sete gols nas dez primeiras exibições, números superiores ao começo de carreira de Ronaldo Fenômeno. Ao todo, foram 10 bolas na redes em 36 partidas. A mais bela, sem dúvida, contra o Cruzeiro na Copa do Brasil, quando anotou de bicicleta contra Fábio, atual goleiro do Tricolor.
Metade do caminho 🟡⚽🔵
A transferência para o Watford, oficializada em janeiro de 2020, marcou o início da jornada europeia. O principal obstáculo era se adaptar à intensidade da Premier League e à Championship, a segunda divisão inglesa. Após uma temporada inaugural de poucos jogos, ele se tornou peça-chave em 2020/21, com nove gols marcados e liderando o clube na volta à Premier League.
A experiência na Championship foi fundamental: o ritmo menos frenético permitiu que ele ganhasse físico e entendesse o futebol inglês sem a pressão imediata dos holofotes da elite. Foram três temporadas e meia defendendo as cores do Yellow Army — 24 tentos e oito assistências em 109 oportunidades — além do carinho da torcida do time do ilustre Elton John.
Ao invés de migrar para um gigante do cenário doméstico, João escolheu uma mudança mais discreta. O destino era o Brighton, equipe que havia demonstrado um crescimento exponencial, esportivo e financeiro, no contexto nacional. Não à toa, o clube exerceu a maior compra de sua história pelo brasileiro: 34,2 milhões de euros, em 2023.
A mudança veio no momento ideal: já adaptado à Inglaterra, chegou como titular em um plantel em ascensão. Em 2023/24, brilhou na Europa League, com seis gols em seis jogos; e somou 20 gols e três assistências em 40 partidas na temporada por todas as competições. Terminou a passagem pelos Seagulls com 30 bolas na rede em 70 atuações. Sua versatilidade e mobilidade no período atraiu olhares da Seleção Brasileira, onde estreou em 2023, sob o conhecido Fernando Diniz. Voltou à Canarinho novamente a pedido de Dorival Júnior, em 2024.
No patamar mais alto, sem perder o chão 🦁
O grande salto da carreira de João Pedro até aqui é o Chelsea. Foi refém da hierarquia global do mercado da bola muito jovem, mas conseguiu manter a cabeça no lugar para tomar as melhores decisões possíveis e construir sua história aos poucos.
Em julho de 2025, para a disputa do mata-mata do Mundial de Clubes, os Blues anunciaram a contratação do atacante de 23 anos por 60 milhões de euros. A alta quantia seria facilmente alcançada novamente em pouco tempo, mas nem o mais otimista torcedor do Chelsea esperava um impacto tão grande tão cedo. Para quem já o conhecia desde o futebol brasileiro, sabia da estrela.
Em sua estreia, entrou bem como substituto nas quartas de final do torneio intercontinental, contra o Palmeiras. João mal esperava que, na fase seguinte, o maior momento individual de sua carreira seria realizado. Cria do Fluminense e atacante do Chelsea, o camisa 20 participaria do duelo entre os dois maiores clubes de sua curta jornada.
Nas semis, João viveu o presente sem desonrar o passado. O placar saiu do zero aos 17', quando o recém-chegado aproveitou erro de Germán Cano na saída e tocou para Pedro Neto. O camisa 7 saiu pela esquerda, cruzou na área e Thiago Silva afastou. Todavia, o paulista/fluminense apareceu para finalizar colocado de fora da área e superar Fábio.
Poucos instantes depois, João Pedro reforçou a "lei do ex" no MetLife Stadium: Cole Palmer carregou pelo meio de campo e passou para Enzo Fernández, que acionou o atacante em contra-ataque. O filho da dona Flávia driblou Ignácio e chutou para marcar um belo gol e firmar o time na decisão e brilhar na maior vitrine do futebol mundial. Fim de jogo: 2 a 0 para o Chelsea, finalista do Mundial de Clubes. Nas duas oportunidades, ele não comemorou os gols, por respeito ao Tricolor.
Na final, fez o último gol do imponente 3 a 0 sobre o favorito PSG, com direito à sambada para fechar o caixão francês. João chegou à Copa do Mundo para mudar o rumo do Chelsea e o da sua carreira de uma forma considerável. Precoce sim; inesperada, talvez não.
A trajetória profissional de João Pedro revela uma maturidade incomum para a idade. Emergiu como um fenômeno no Brasil, evoluiu em Watford e Brighton, e alcançou o Chelsea aos 23 anos já com ares de veterano. Essa cadência deliberada no desenvolvimento da carreira — longe das pressões por ascensão imediata — permitiu que crescesse de forma constante, sem tropeçar nas armadilhas da ansiedade do século XXI. Assim, sua gestão de carreira serve de exemplo para milhões de brasileiros, uma aula de como viver entre o limite da entrega rápida de resultados e da tranquilidade de tomar decisões sem pressa.
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