A Fórmula 1 (F1) registrou um aumento no público feminino que acompanha a categoria. Segundo a Pesquisa Global de Fãs da F1, 3 a cada 4 novos torcedores da categoria são mulheres. No GP de São Paulo, a presença feminina saltou de 5% em 2004 para 37% em 2024. Mesmo com maior presença, as mulheres ainda se sentem inseguras no autódromo de Interlagos.
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A ferrarista Giuliana Cardoso, de 24 anos e torcedora de Lewis Hamilton, é um exemplo do novo público da principal categoria automobilística do mundo. Ela começou a acompanhar em 2024, motivada pelas notícias que chegavam até ela pelas redes sociais.
— Começou a aparecer muita coisa sobre a F1 no feed das minhas redes sociais, sobre as corridas, sobre os pilotos. Achei curioso, eu já conhecia a F1, já assisti quando criança com o meu pai, mas nunca fui muito próxima dela — explicou Giuliana sobre o início do interesse na F1 para a reportagem do Lance!.
A torcedora do heptacampeão irá pela primeira vez ao Grande Prêmio de São Paulo para acompanhar a F1 de perto. Mesmo ansiosa para estar mais próxima da categoria, a jovem se preocupa com a insegurança que pode sentir em um ambiente majoritariamente masculino.
— Vou com um grupo formado só por mulheres, para a gente não se sentir sozinhas. Não sinto medo por ser um ambiente machista ou algo do tipo, ou por ser um ambiente da F1. Em qualquer lugar que vou, sempre terei essa insegurança em relação aos homens. A maioria das mulheres vai ter esse receio por sempre ter sido um esporte majoritariamente masculino.
A jovem acredita que a F1 se tornará, cada vez mais, um ambiente feminino. Ainda que ache importante mais mulheres acompanhando a categoria, Giuliana sente falta da presença feminina nos cargos de liderança da modalidade.
— O público mudou tanto. Atualmente, tem muita menina. Acho que está começando a equilibrar um pouco. O pessoal está entendendo que esse é o nosso espaço e que a gente vai reivindicar ele. Uma coisa que eu realmente sinto falta é ver mais mulheres na linha de frente de exposição da F1.
Segurança para as mulheres ainda é um problema em Interlagos
Beatriz Rosenburg frequenta o autódromo desde 2012 e, em 2013, foi vítima de um caso de assédio em Interlagos. Por observar não se tratar de uma situação isolada, além de identificar que ocorria em outros setores, ela decidiu criar o Respect Woman, em 2018.
— Em 2013, um cara esperou a minha prima, que estava comigo, descer para pegar comida e me abordou dizendo que eu era muito bonita e disse para eu dar um beijo nele. E aí eu me virei e ele puxou o meu braço. Fiquei em choque porque não esperava que aquilo acontecesse comigo no autódromo — relatou Beatriz.
O projeto busca chamar atenção para casos de desrespeito às mulheres que acontecem no autódromo, além de ser uma rede de apoio para que o público feminino se sinta seguro no fim de semana das corridas.
A campanha é espalhada por Interlagos por meio de adesivos e também divulgada no Instagram @TheLap1. O projeto começou com a produção de 30 adesivos, em 2018, e saltou para mais de quatro mil para a edição de 2025 do GP de São Paulo.
Isabela Marques é braço direito de Beatriz no projeto. Ela conheceu o Respect Woman em 2019, quando foi ao GP de São Paulo pela primeira vez. Na sexta-feira, primeiro dia de ação na pista, Isabela presenciou diversos casos de assédio no setor G. Além disso, foi uma das vítimas, o que só percebeu tempos depois.
— Se você não fala que as mulheres nas arquibancadas de Interlagos estão sofrendo assédio, as mulheres das arquibancadas não vão entender aquilo como assédio. Elas vão entender como uma brincadeira de mau gosto, como uma inconveniência. A gente precisa começar a nomear. E, graças a essa campanha, eu entendi que sofri assédio — relatou Isabela.
Desde 2022, o "Respect Woman" tem um grupo de WhatsApp para as mulheres compartilharem informações e irem em grupo para Interlagos. Há também grupos específicos para cada setor do autódromo. Para este ano, o projeto mobilizará mais de 700 mulheres.
— Essa campanha é de todas as mulheres, não só as que estão ali no grupo. Formamos o grupo por consequência do que estávamos vendo. Em 2022, muitas meninas falavam que estavam com medo de ir ao GP, por conta dos relatos que escutaram. E a gente conversava com elas para não deixarem de ir — explicou Beatriz.
Beatriz e Isabela perceberam o crescente número de mulheres nas arquibancadas de Interlagos. Para elas, quanto maior a presença feminina, mais segurança haverá, principalmente por não estarem mais sozinhas. Entretanto, elas sentiram falta de ações da organização da prova e do poder público para conter casos de assédio e facilitar as denúncias.
Onde procurar apoio?
Para este ano, o Grande Prêmio de São Paulo terá uma parceria com o Instituto Gloria para atendimento de pessoas que sofrerem discriminações em geral. Serão oito pontos de atendimento e 24 profissionais — entre psicólogos e assistentes sociais — no Autódromo de Interlagos.
Segundo a organização, equipes da Secretaria de Direitos Humanos da Cidade de São Paulo e da Secretaria Estadual da Mulher estarão se movimentando por todas as áreas. Além disso, os banheiros femininos terão um QR code para um canal de denúncias, onde as mulheres poderão pedir ajuda. Segundo o GP de São Paulo, essa tecnologia do Instituto Gloria permitirá acesso ao local da vítima com rapidez.
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Já a Secretaria Estadual de Políticas Públicas para a Mulher (SPM) possui o "Protocolo Não se cale", em que os estabelecimentos têm diretrizes e cursos para que seus colaboradores saibam prestar auxílio adequado às vítimas de assédio.
— As leis e nosso protocolo estabelecem uma série de diretrizes a serem adotadas por bares, restaurantes, casas noturnas e organizadores de eventos para auxiliar mulheres que se sintam em situação de risco. Eles determinam a capacitação anual dos trabalhadores do setor, por meio de cursos online, para poderem identificar e prestar auxílio adequado às vítimas de assédio, abuso, violência e importunação — disse Soraya Romina, diretora de Políticas Públicas da SPM ao Lance!.