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João Pedro Sabadini
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 14/06/2025
16:15
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O atacante espanhol Álvaro Morata, hoje no Galatasaray, da Turquia, emprestado pelo Milan, cogitou fingir uma lesão para não jogar a Eurocopa de 2024 pela sua seleção, conforme o próprio jogador. Segundo Morata, o acúmulo de críticas ao longo de sua carreira – especialmente quando o Atlético de Madrid, time que atuava à época, foi eliminado nas quartas de final da Champions League, em abril de 2024 – o deixou "mentalmente destruído".

Além disso, ele também abordou as consequências da doença na sua rotina, quando vivia constantemente com medo, dentro e fora de campo. As revelações foram feitas no documentário "Morata: Eles Não Sabem Quem Eu Sou".

– Você começa a sentir muitas coisas no seu corpo e não sabe o porquê ou como. Suas pernas doem, seu peito fecha, você não consegue respirar. Eu tinha medo de dormir e não acordar. Eu tinha medo de tudo. Tive muitos pensamentos horríveis, autodestrutivos. Passou pela minha cabeça fingir uma lesão para não ter que ir (à Eurocopa, que acabou sendo vencida pela Espanha) – desabafou Morata.

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Álvaro Morata celebra gol pelo Galatasaray no Campeonato Turco (Foto: Reprodução / Instagram)

Com 32 anos, o atacante relembra o momento decisivo perdido no jogo de ida contra o Borussia Dortmund, pela Champions, e diz que não conseguiu mais concentrar na partida, pois ficou repetindo o lance na sua cabeça:

– Eu não conseguia acompanhar a bola. A gente não estava perdendo o jogo, mas, na sua cabeça, você já tinha jogado fora a chance de chegar a uma final de Champions League com o Atlético. Quando o jogo acabou, fiquei muito tempo sozinho no vestiário. Só queria chorar. Foi ali que tudo começou – disse.

Após esse período, o jogador chamou Oscar Celada, médico da Espanha, para dizer que ele não poderia jogar o torneio, mas foi convencido a falar com Andrés Iniesta, grande meio-campista espanhol campeão da Copa do Mundo de 2010, que também sofreu com depressão ao longo de sua carreira. O craque ajudou Morata a perceber que ajudar a Espanha poderia ajudá-lo a lidar com seus problemas.

O treinador da Espanha, Luis de la Fuente, também diz no documentário que "o time precisava dele". Além deles, os jogadores da seleção Rodri, Dani Olmo, Nico Williams, Mikel Oyarzabal e Alex Remiro também foram entrevistados.

Entre os jogos da Eurocopa, Morata tinha consultas com o psiquiatra Pilar de Castro-Manglano, que aparece no documentário:

– (Álvaro) está agora em um processo de reconstrução. É como se um ligamento tivesse se rompido, e você precisasse aprender a andar de novo, a lidar com as dificuldades da vida de forma saudável. Aprender a gerenciar a vida é difícil, ainda mais para pessoas da elite que vivem sob os olhos do público. – diz o psiquiatra.

A vitória na competição veio e ele descreve o momento como "o mais feliz que teve na carreira", em referência à final vencida contra a Inglaterra, por 2 a 1. Apesar disso, ele não esconde os momentos difíceis tidos também pela seleção espanhola:

– Vale a pena jogar pela Espanha se, em todo lugar que eu vou com a minha família, há incidentes desagradáveis, com pessoas me insultando e zombando de mim? Se você vai aos estádios vestindo a camisa da Espanha, e os torcedores te vaiam e te xingam. Não vale a pena. Há muitos torcedores da Espanha que me apoiam, mas também há muitos outros que não me querem aqui. Mas se eu me aposentar do futebol internacional, eles vão vencer – desabafa, emocionado.

Voltando aos clubes, Morata confessa que a decisão de sair do Atlético de Madrid e ir para o Milan, em 2024, foi para evitar outro momento como o do jogo contra o Borussia Dortmund:

– Eu não podia arriscar outra depressão. Queria ganhar títulos com o Atlético de Madrid, mas não valia a possibilidade de passar por outro momento ruim. Não é fácil dizer isso, mas foi a decisão mais fácil que tomei – conclui.

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