SÃO PAULO (SP) - Sentado diante de um delegado da 3ª Delegacia de Fraudes Financeiras, da Polícia Civil de São Paulo, e de um promotor de Justiça do Ministério Público, em 16 de abril de 2025, o então presidente do Corinthians, Augusto Pereira de Melo (afastado do cargo desde 26 de maio de 2025), falou por três horas ininterruptas, em depoimento gravado em vídeo - cuja íntegra o Lance! apresenta com exclusividade.
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Foi a primeira vez em que o dirigente detalhou à Polícia Civil como estruturou sua campanha à presidência do Corinthians, os conflitos com antigos aliados e os bastidores do contrato milionário com a Vai de Bet — hoje alvo de ação penal por suspeitas de intermediação fraudulenta cometida por uma associação criminosa, furto e lavagem de dinheiro (Confira abaixo os trechos dos depoimentos).
Nas imagens inéditas do depoimento, Augusto aparece tenso, vestindo traje formal, alternando entre pausas longas e respostas enfáticas. Ele está acompanhado de Ricardo Cury, seu advogado. O delegado Tiago Fernando Correia e o promotor Juliano Carvalho Atoji, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) são os responsáveis por interrogá-lo.
Em diversos momentos, Augusto repete que não conhecia os supostos intermediários do negócio com a casa de apostas e que o jurídico do clube era o responsável pelos trâmites contratuais. O vídeo revela contradições sutis e tentativas de afastar sua participação direta nos repasses à empresa investigada por receber valores desviados do contrato entre a Vai de Bet e o Corinthians.
O contrato entre o Corinthians e a Vai de Bet, assinado em janeiro de 2024 e avaliado em R$ 360 milhões por três temporadas, foi anunciado como o maior acordo de patrocínio da história do futebol brasileiro. O montante envolvido superava, com folga, os valores pagos por outras grandes marcas no cenário esportivo nacional e era tratado, pela direção do clube, como um marco financeiro e institucional para o time do Parque São Jorge. A grandiosidade do contrato, no entanto, contrastou meses depois com as suspeitas de fraude, intermediações fictícias e lavagem de dinheiro que hoje cercam o negócio, já desfeito.
Alguns destaques do depoimento de Augusto Melo:
Campanha presidencial
Augusto afirmou que sua candidatura à presidência do Corinthians foi construída com apoio de conselheiros e voluntários, sem doações de empresários ou agentes de futebol. Menciona “vaquinha” entre apoiadores, com contribuições de R$ 250 a R$ 300. Diz que o comitê de campanha funcionava em espaço cedido por Rubens Gomes (o Rubão), que mais tarde se tornou diretor de futebol co clube e, tempos depois, com quem rompeu após demiti-lo.
Questionado sobre quanto gastou na campanha para se tornar presidente do Corinthians, Melo respondeu: "Acredito que nem R$ 30 mil”.
Contrato com a Vai de Bet
Diz que tratou diretamente com a casa de apostas Vai de Bet, negociando valores. Segundo ele, sua preocupação sempre foi com o “valor bruto do patrocínio”, sem cuidar dos trâmites jurídicos. A firma Rede Social, que aparece como intermediária e recebeu R$ 1,4 milhão de comissão pelo negócio entre Vai de Bet e Corinthians, seria desconhecida dele.
Conflitos internos e rompimentos após a eleição
Relatou que, após vencer as eleições, rompeu com parte da antiga equipe — como Rubens Gomes e o jornalista Wagner Vilaron — ao tentar implementar uma gestão “mais técnica”, incluindo a nomeação de um executivo de futebol. Alega ter sido acusado de ingratidão por tentar reduzir o espaço de quem havia o ajudado na campanha.
Mello descreveu um "desgaste grande" com Gomes, seu "melhor amigo na campanha", que começou a "fazer essa fogueira" e "criar uma narrativa" sobre irregularidades após ser demitido. Ele acredita que Rubens tenta conquistar diretores para "elege-lo ao próximo presidente".
Participação de Gusttavo Lima
Melo afirmou que foi informado pelo cantor Gusttavo Lima, por telefone, que o contrato com a Vai de Bet estava fechado. Isso em dezembro de 2023, na semana entre o Natal e o Ano Novo.
Intermediários e empresa investigada
Disse que só soube da existência de Alex Fernando André (Cassundé), dono da Rede Social, após a assinatura do contrato. A empresa, apontada pelo Ministério Público como “de fachada”, foi registrada para receber comissões mensais de 7% (até R$ 25,2 milhões ao fim do vínculo).
Delegação das decisões jurídicas
Reforçou que todas as decisões técnicas e contratuais passavam pelo departamento jurídico do clube, especialmente com a vice-presidência administrativa e a diretoria jurídica. Disse que sua função era apenas negociar valores, e que os detalhes de contratos, cláusulas e intermediários cabiam a outros setores.
Relato sobre valores e cifras milionárias
Augusto mencionou, com ênfase, que havia fechado “mais de R$ 3 bilhões” em negociações como presidente, tentando reforçar sua atuação como gestor. Ele afirmou que o contrato com a Vai de Bet era o maior do futebol brasileiro, e insistiu que sua preocupação era garantir cifras altas, delegando as análises jurídicas e contratuais.
— Minha preocupação não é mais do que negociar o valor, assim... Eu não tinha preocupação com o intermediário, nem com outra situação. A minha preocupação sempre foi essa: intermediário é com o jurídico, são eles que identificam as situações. A minha função é só fechar o valor, que é o que eu faço. Já negociei R$ 3 bilhões, e estou fechando mais R$ 1 bilhão e 200 agora. Toda a minha preocupação é essa: eu fecho a negociação, e o jurídico toma conta, junto com os outros departamentos responsáveis por propriedades — disse Melo, quando questionado sobre sua preocupações ao fazer o negócio milionário.
Tentativa de se desvincular da intermediação
Ele insistiu diversas vezes que não conhecia os intermediários, principalmente Cassundé (Alex Fernando André), e tenta responsabilizar a área jurídica e outros departamentos do clube pela inclusão da empresa Rede Social no contrato.
Relação com figuras-chave da campanha
Augusto detalhou sua proximidade com nomes como Marcelo Mariano dos Santos, Sérgio Muzel e Rubens Gomes, que depois assumiram funções estratégicas no clube. Ele admitiu que muitos dos envolvidos no caso participaram ativamente da campanha — inclusive em reuniões com a Vai de Bet —, o que pode indicar continuidade entre a campanha e a gestão administrativa no clube.
Críticas à imprensa e sensação de perseguição
Melo atacou a cobertura jornalística do caso, dizendo ser vítima de campanha difamatória. Acusou ex-aliados e conselheiros opositores de alimentarem a imprensa com informações distorcidas. Afirmou não ter recebido qualquer valor ilícito, e que tudo se trata de “perseguição política”.
Ele se refere à imprensa como parte de uma "guerra política", mencionando que apanha "todo dia" por conta de "mentiras" e "vazamentos sistemáticos" no Corinthians. Um exemplo é o depoimento de Cassundé, que vazou.
Nessa "guerra política”, Melo também descreveu aquilo que entendeu como dificuldades enfrentadas por sua gestão.
Oposição e transição
Relatou que, após sua eleição, a transição com a gestão anterior foi difícil devido a uma "política muito de oposição" e um "clima meio tal", com alguns diretores não colaborando. Ele e Rubens Gomes ficaram à frente dessa transição.
Resistência a mudanças
Mello enfrentou resistência ao tentar implementar mudanças e profissionalizar o clube, como a contratação de um diretor executivo de futebol, que era contra o desejo de Rubens Gomes.
Incomodando interesses
Ele acredita que sua gestão estava"incomodando" ao trocar contratos que não davam retorno ao Corinthians, como o estacionamento e o Fiel Torcedor, e ao cortar custos. Ele descreveu isso como "quebrando o bloco", referindo-se aos "bloqueios" e à resistência que enfrenta.
Juíza do caso: “Abuso de confiança e fraude”
A denúncia aceita pela Justiça sustenta que Augusto Melo e outros dirigentes e empresários se associaram para desviar recursos do contrato de patrocínio firmado com a casa de apostas. O esquema consistia em inserir, de maneira fraudulenta, uma empresa de fachada — a Rede Social Media Design, pertencente a Alex Fernando André (Cassundé) — como suposta intermediária do negócio. O contrato previa que essa empresa receberia 7% do valor total acertado com a patrocinadora, o equivalente a R$ 700 mil por mês, o que poderia totalizar R$ 25,2 milhões ao fim do vínculo. Parte dessa quantia — R$ 1,4 milhão — chegou a ser paga e, segundo a acusação, foi imediatamente lavada em uma cadeia de transferências entre empresas de fachada.
A Justiça afirma que os pagamentos foram repassados em sequência para as seguintes empresas: da Rede Social para a Neoway Soluções Integradas; da Neoway para a Wave Intermediações e Tecnologias; e, da Wave, para duas empresas envolvidas diretamente no processo: a Victory Trading Intermediação, de Victor Shimada, e a UJ Football Talent, de Ulisses Jorge.
A juíza Márcia Mayumi Okoda Oshiro, da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro da Capital, do Tribunal de Justiça de São Paulo, apontou que a operação visava inicialmente o pagamento de dívidas de campanha de Augusto Melo e, posteriormente, o enriquecimento ilícito do grupo, em prejuízo direto ao Sport Club Corinthians Paulista. A manobra foi qualificada pela magistrada como furto duplamente qualificado, com abuso de confiança e fraude, além de lavagem de dinheiro.
— Consta, ainda, que entre os dias 18 e 21 de março de 2024, em horário incerto, Rua São Jorge, 777, no bairro do Tatuapé, na cidade de São Paulo, Augusto Pereira de Melo, Marcelo Mariano dos Santos, Sérgio Lara Museu de Moura e Alex Fernando André, agindo em concurso de agentes, evidenciados pela unidade de desígnios e identidade de propósitos, subtraíram, para si e para outrem, mediante fraude e com abuso de confiança, a quantia de R$ 1.400.000,00 (um milhão e quatrocentos mil reais) da entidade associativa Sport Club Corinthians Paulista, associação civil sem fins lucrativos, CNPJ n. 61.902.722/0001-26 — escreveu a magistrada.
O recebimento da denúncia do Ministério Público contra os seis réus aconteceu em 21 de julho de 2025 e concluiu que há “indícios de materialidade e autoria” com base em oitivas policiais, quebras de sigilo bancário, fiscal e telemático, relatórios de inteligência e cruzamento de dados financeiros. O Ministério Público também requereu que os acusados sejam condenados a pagar R$ 40 milhões ao Corinthians, como reparação mínima pelos prejuízos causados.
— A prova da materialidade dos crimes e os indícios de autoria restaram demonstrados pelas oitivas realizadas em sede policial, quebras de sigilos bancário, fiscal e telemática em desfavor dos investigados, além de outras diligências descritas no Relatório de Análise de Evidências e de Investigação (AMSA 01/25), Relatório Técnico Parcial de Análise de Dados Financeiros e Bancários, Relatório Técnico Parcial de Análise de Dados Financeiros e Bancários e Conclusões Inferenciais, Relatório de Inteligência (RELINT), além dos Relatórios de Inteligência Financeira do COAF — concluiu a juíza Márcia Oshiro.
A magistrada também determinou que os seis réus sejam oficialmente comunicados, pessoalmente, sobre o recebimento da denúncia contra eles. A partir do momento em que forem citados, terão um prazo de dez dias para apresentar sua defesa por escrito. Nesse período, poderão levantar questionamentos legais, apresentar argumentos, entregar documentos, explicar sua versão dos fatos, indicar quais provas pretendem produzir e listar até oito testemunhas por acusação.
Os seis réus do caso Vai de Net x Corinthians
A ação penal foi aberta, em 21 de julho de 2025, após a juíza concluir que havia base suficiente para transformar os seis investigados em réus. Abaixo, veja quem são eles e do que são acusados:
Augusto Pereira de Melo
Réu por furto qualificado, lavagem de dinheiro e associação criminosa. A acusação afirma que ele participou da inserção da empresa de fachada no contrato.
Marcelo Mariano dos Santos
Também réu por furto qualificado, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Operou os pagamentos à intermediária.
Sérgio Lara Muzel de Moura
Réu pelos mesmos três crimes. Atuava no marketing da campanha de Augusto à presidência do Corinthians. Os advogados de Moura informaram à Justiça que "eventuais apontamentos sobre a inconsistência da peça acusatória serão feitos em momento oportuno, observado o momento processual propício para a análise do mérito e da justa causa da persecução penal". O documento com essa manifestação foi protocolado em 21 de julho de 2025, a mesma data do recebimento da denúncia contra ele e os outros cinco réus.
Alex Fernando André (Cassundé)
Réu por furto qualificado, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Dono da empresa Rede Social, que recebeu R$ 1,4 milhão.
Ulisses de Souza Jorge
Réu por lavagem de dinheiro. É o sócio formal da UJ Football Talent, que recebeu parte dos valores desviados e investigada, há três anos, sob suspeita de ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A reportagem não conseguiu localizar Ulisses nem seus defensores. O espaço para sua manifestação segue aberto.
Victor Henrique de Oliveira Shimada
Réu por lavagem de dinheiro. Sócio da Victory Trading, empresa que transferiu mais de R$ 13 milhões para a Wave Intermediações, usada no esquema de ocultação de recursos. Shimada e seus advogados também não foram localizados, mas uma possível manifestação constará nesta reportagem, caso seja feita.
Augusto Melo contesta denúncia
A defesa de Augusto Melo tentou anular a investigação da Polícia Civil contra ele, em 10 de julho de 2025, mesmo dia em que o Ministério Público o denunciou, ao lado dos outros cinco envolvidos, à Justiça.
Um dos principais argumentos da defesa foi a suposta incompetência da Polícia Civil de São Paulo para conduzir as apurações. Os advogados Ricardo Hasson Sayeg e Rodrigo Campos Hasson Sayeg afirmam que os fatos investigados têm forte componente internacional — especialmente pelo envolvimento da empresa BETPIX N.V., sediada em Curaçao, responsável pela marca Vai de Bet. Por isso, segundo os advogados, exigiria a atuação da Polícia Federal e da Justiça Federal.
Para reforçar esse ponto, a defesa anexou dois laudos técnicos ao processo. O primeiro, elaborado pelo professor Manuel Enríquez Garcia (USP), presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, afirmou que a presença de uma empresa estrangeira no contrato exige o encaminhamento do caso à esfera federal. O segundo, assinado pelo delegado aposentado da Polícia Federal Anderson Souza Daura, questionou a legalidade de procedimentos do inquérito e apontou falhas na tipificação dos crimes investigados.
Outro ponto central do pedido de nulidade foi a suposta obtenção irregular de informações financeiras por meio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A defesa argumentou que não há, nos autos, autorização judicial para o acionamento do Coaf, o que comprometeria a legalidade das provas obtidas a partir desses dados.
Além da anulação do inquérito, os advogados pediram que a Justiça rejeite de imediato a denúncia criminal, com base nos mesmos argumentos. Segundo a defesa, o Ministério Público admitiu que os principais elementos de prova ainda estão pendentes e que persistem lacunas sobre os reais beneficiários do esquema e a empresa que teria intermediado o contrato com a Vai de Bet. Eles sustentaram ainda que Augusto Melo, ao contrário de outros investigados, teria aberto espontaneamente seus sigilos bancário e fiscal, sem que houvesse qualquer elemento concreto de sua participação em atos ilícitos.
Ao receber a denúncia e transformar Melo e outros cinco envolvidos no caso em réus, a juíza Marcia Oshiro, entendeu que não havia nulidade processual evidente que justificasse o trancamento ou anulação do caso nesse momento. Ela destacou que não é o momento processual adequado para essa avaliação e determinou que o questionamento sobre a suposta incompetência da Justiça estadual fosse tratado como “exceção de incompetência”, ou seja, um procedimento separado que ainda será analisado.
A juíza também decidiu pelo prosseguimento da ação penal, rejeitando outras preliminares levantadas pela defesa e confirmando o recebimento da denúncia contra Melo e os demais réus.
A decisão da juíza quanto ao pedido de anulação feito por Melo:
O pedido de nulidade apresentado pela defesa de Melo foi rejeitado “neste momento processual”;
A alegação de que o caso deveria tramitar na Justiça Federal será analisada em incidente separado (exceção de incompetência);
A denúncia foi formalmente recebida, e os réus foram citados para responder à acusação. O processo seguirá seu curso na Justiça estadual.
O labirinto da intermediação com Alex Cassundé
Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, empresário e proprietário da Rede Social Media Design, fez revelações surpreendentes à polícia sobre sua polêmica participação na intermediação do contrato entre o Corinthians e a casa de apostas Vai de Bet. Pela versão dele, o até então "maior patrocínio da história do futebol no Brasil” foi realizado com amadorismo e inexperiência na intermediação de grandes negócios e com o uso de ferramentas digitais como o Google e o ChatGPT para conseguir dicas de como obter contatos e chegar até a Vai de Bet.
Sua participação no Sport Club Corinthians Paulista, segundo ele, começou por indicação de Sérgio Lara Muzel de Moura, a quem conhecia havia cerca de dois anos. Sérgio, da área de comunicação, comentava sobre a campanha de Augusto Melo à presidência do Corinthians e, em certo momento, pediu auxílio a Cassundé para "alavancar a imagem de Augusto nas lives". Esse trabalho, que envolvia a utilização de três colaboradores e a realização de cerca de dez lives – uma ou duas no estúdio de sua empresa, a Rede Social Media Design – não gerou remuneração, apenas a esperança de futuras oportunidades no clube.
A inesperada "indicação" da Vai de Bet
Alex Cassundé, que é formado em Administração e iniciou Marketing, mas não concluiu, admitiu não ter experiência com intermediação, sua única experiência sendo com vendas. Ele relatou que, no início de dezembro de 2023, um amigo chamado Wesley, da Bahia, que possui uma agência digital, comentou que estava "indo atrás de Bet's". A partir daí, Cassundé começou a pesquisar "bet por bet" via Google. Ele disse que conseguiu, com o Chat GPT, algumas dicas de como obter contatos, e através dessas dicas, encontrou o contato de um indivíduo chamado André (um telefone fixo) no LinkedIn ou no Google. Cassundé admitiu que procurou uma patrocinadora "dando um tiro no escuro", afirmando não ser profissional da área de intermediação, mas com a intenção de ingressar no Corinthians.
Ele então contatou André, afirmando ser do Corinthians e perguntando sobre o interesse em patrocinar o time. André respondeu que as tratativas avançariam se Cassundé o colocasse em contato com a diretoria do clube. Cassundé procurou Sérgio Moura via WhatsApp, que demorou a responder e, ao retornar, informou que estaria de folga, orientando-o a procurar "Marcelinho" (Marcelo Mariano), diretor administrativo, no Parque São Jorge.
A visita de Cassundé ao Parque São Jorge ocorreu por volta dos dias 20 ou 21 de dezembro de 2023. Ele se apresentou a Marcelinho, mencionando seu trabalho na campanha de Augusto e o contato que havia conseguido. Notando pouca credibilidade inicial, Cassundé, ainda assim, passou o telefone de André para Marcelo Mariano.
Posteriormente, em contato com Sérgio, Cassundé foi informado que Marcelinho havia marcado uma reunião com os "Andrés" da Bet para os dias 26 ou 27 de dezembro, à qual Cassundé não foi convidado. Ele acreditava que o presidente Augusto Melo, o presidente José André da Rocha Neto, da Vai de Bet, e Marcelo Mariano teriam participado dessa reunião.
A inserção da Rede Social Media Design e a comissão
Por volta dos dias 28 ou 29 de dezembro, Sérgio Moura contatou Cassundé, informando que a negociação com a Vai de Bet "poderia dar certo". Cassundé, então, questionou se ganharia algo, e Sérgio respondeu que "existia uma comissão de intermediação", mencionando um máximo de 10%, mas sem especificar a porcentagem exata.
Cassundé disse à polícia que, ”em nenhum momento exigiu comissão pela intermediação", tendo realizado apenas uma "indicação", como uma "espécie de trabalho de telemarketing". Ele disse que aceitaria trocar a comissão por um contrato de prestação de serviços de marketing com o Corinthians, pois não sabia o valor do patrocínio nem quanto receberia.
Por volta do dia 30 de dezembro, de acordo com a versão do dono da Rede Social, Sérgio ligou novamente para ele, pedindo o CNPJ de sua empresa para constar no contrato de intermediação. A empresa, constituída em 2021 com foco em marketing digital, teve seu objeto social alterado em 18 de janeiro de 2024, após a solicitação do CNPJ para o contrato da Vai de Bet, para incluir a atividade de "intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral". Cassundé afirmou que ninguém o orientou para essa alteração, fazendo-o por iniciativa própria.
Pagamentos e o suposto "Golpe Milionário"
No começo de janeiro, Sérgio informou Cassundé que o contrato estava em seu e-mail para assinatura digital, ressaltando que o anúncio do patrocínio seria feito no dia seguinte. Foi só então que Cassundé teve conhecimento dos termos do contrato e do valor da comissão. Ele não participou do anúncio oficial do patrocínio, mesmo tendo indicado a casa de apostas.
A primeira nota fiscal, no valor de R$ 1.400.000,00, foi emitida por Cassundé em 1º de março de 2024, mesmo com a previsão contratual de que o primeiro pagamento de R$ 20 milhões se daria em 5 de janeiro. Ele alegou que ninguém do clube o orientou e que ficou aguardando um posicionamento oficial. Em 18 de março, R$ 700.000,00 caíram na conta da Rede Social, e no dia seguinte, os outros R$ 700.000,00.
Alex Cassundé afirmou nunca ter transferido valores para qualquer pessoa do Sport Club Corinthians. Sobre a empresa Neoway Soluções Integradas, para onde a Rede Social repassou R$ 1.060.000,00, Cassundé alegou que o valor foi para a aquisição de um sistema de telemedicina para um plano de saúde pet, negociado com um homem chamado Maurício Manfran. Ele disse que Maurício lhe deu 30 dias para entregar o sistema, mas não cumpriu. Cassundé não notificou Maurício formalmente, acreditando ter caído "em um golpe” pelo qual não tomou medidas legais.
Outras relações e desconhecimentos
Cassundé afirmou desconhecer completamente a existência de 73 empresas em seu nome no Ceará e não reconheceu depósitos em espécie em sua conta. Ele também não soube explicar a origem de alguns depósitos significativos em sua conta.
Em relação à presença no Corinthians, Cassundé confirmou que esteve presente na posse de Augusto Melo em 2 de janeiro de 2024, mas não compareceu ao anúncio oficial do patrocínio da Vai de Bet em 7 de janeiro. Para a polícia, essa ausência no evento de anúncio, apesar de ter supostamente intermediado o negócio, é um ponto de estranheza.
O depoimento de Alex Cassundé, repleto de desconhecimentos sobre o mercado de intermediação e transações financeiras, contrasta diretamente com seu papel central no maior patrocínio da história do Corinthians. Suas alegações de ter sido vítima de um golpe e seu distanciamento das negociações subsequentes prometem ser pontos cruciais na ação penal que agora tramita na Justiça. A discrepância entre a grandiosidade do contrato e a aparente falta de profissionalismo e as justificativas dadas por Cassundé são um dos pontos mais importantes da controvérsia no negócio entre a Vai de Bet e o Corinthians.
Marcelo Mariano: a polêmica dos pagamentos
Marcelo Mariano dos Santos, ex-diretor administrativo do Corinthians e um dos seis réus no escândalo envolvendo o patrocínio da casa de apostas Vai de Bet, tem buscado se defender das acusações de participação em organização criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. À Justiça, os advogados de Marcelo contestaram com firmeza o pedido de bloqueio de até R$ 40 milhões em seus bens, apresentado pelo Ministério Público.
A defesa argumenta que esse bloqueio seria exagerado e repetitivo, já que uma ação judicial separada, na área cível, já bloqueou quase R$ 20 milhões relacionados ao mesmo caso. Para os advogados, não faz sentido repetir o bloqueio com valores tão altos, sem que haja provas concretas do prejuízo. Eles afirmam ainda que os R$ 40 milhões pedidos são “desproporcionais” e não têm base sólida.
O papel de Marcelo Mariano no clube
De acordo com o depoimento do ex-presidente Augusto Melo, Marcelo Mariano era uma das pessoas mais próximas dele durante a campanha para a presidência do clube, em 2023, atuando no "núcleo duro de campanha". Era o responsável por cuidar do dinheiro da campanha, recebendo depósitos e pagando contas como aluguel, água e café.