VA

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

O Maracanã é Mário Filho, parte da identidade nacional

Sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rogério Baptistini aborda a mística do estádio dentro da cultura brasileira e reforça a importância do jornalista para a construção

Mário Filho dá nome ao estádio desde 1966 (Foto: Divulgação)
Escrito por

No dia 16 de julho de 1950, diante da incredulidade de quase 200 mil pessoas, o Brasil conheceu a sua maior tragédia esportiva até então: perdeu, em casa, a possibilidade de tornar-se campeão do mundo de futebol. Aos 34 minutos do segundo tempo da partida final, o uruguaio Ghiggia acertou um chute cruzado, rente à trave, e emudeceu o "maior estádio do mundo".

O lance, na descrição do escritor Eduardo Galeano, produziu o "mais estrepitoso silêncio da história do futebol". Depois daquela data, a expressão Maracanazo foi incorporada à mística uruguaia, designando as vitórias que acontecem na adversidade. Um nome, um episódio, um símbolo.

+ Gabriel Menino na mira de clube espanhol, Botafogo encaminha reforço… O Dia do Mercado

Maracanã é uma palavra da língua tupi. Conforme o Dicionário Unesp do Português Contemporâneo, organizado pelo professor Francisco S. Borba, designa um "grande periquito de mais de 30 cm, cor verde e branca na região dos olhos".

Estes, eram encontradas em grande quantidade no local em que foi construído o estádio sede da final da Copa do Mundo, narrada em tons contrastantes por brasileiros e uruguaios: para nós, uma tragédia; para nossos vizinhos do sul, uma verdadeira epopeia. O saldo, na memória coletiva, foi a criação de uma coleção de heróis e vilões. O uruguaio Obdúlio, um condutor; Barbosa e Bigode, os que falharam. Nomes e personagens.

A construção do Maracanã, iniciada em 1948, gerou protestos e acusações. Carlos Lacerda, à época deputado federal, era adversário do prefeito do Rio de Janeiro, então Distrito Federal e capital da República. Seu desejo era que a construção fosse em Jacarepaguá, no terreno do Derby Clube. O custo da obra também mereceu a sua reprovação.

+ A importância de Mário Filho na construção do Maracanã e da memória do futebol brasileiro

E foi graças ao empenho do jornalista Mário Filho, que fez campanha cotidiana a partir do seu Jornal dos Sports, que o palco dos jogos foi afinal construído na zona Norte, em região de fácil acesso por trem, o que permitiu o seu desfrute democrático. No dia 16 de junho de 1950, um jogo entre as seleções paulista e carioca inaugura oficialmente o Estádio Municipal, o maior do mundo! Um mês depois, a tragédia.

O futebol é uma construção coletiva. Sua força reside no imaginário, nas imagens que são criadas a cada jogo e recriadas pelos torcedores a partir de suas visões particulares. É difícil dizer o que cada um faz com as imagens que os habitam. Lugares, eventos, personagens, contudo, compõem narrativas que estruturam algo que é comum e preenche de sentido o mundo, forma uma espécie de consenso. A associação entre nomes e lugares no futebol, por exemplo, em que pese a atual tendência que mercantiliza tudo e todos, alimenta a memória afetiva e, paradoxalmente, mantém a aura do esporte.

O jornalista Mário Filho nasceu em Pernambuco, mas viveu como carioca, intimamente ligado à cidade do Rio de Janeiro. Sua contribuição não se esgotou na campanha para a construção do Maracanã, mas se estendeu à cultura do futebol e ao seu estudo. É notável o seu livro "O negro no futebol brasileiro" (1947), uma verdadeira sociologia capaz de refletir o contexto da sociedade brasileira entre as décadas de 1930 e 1950, momento de transição para a modernidade das formas urbanas e industriais.

+ Conheça mais sobre Mário Filho, jornalista que dá nome ao Maracanã e é ícone da imprensa esportiva

Intelectual, jornalista e escritor, era capaz de se comunicar com o povo, especialmente com os que se apropriaram do esporte nascido branco e elitista, com sotaque britânico e praticado pelas chamadas "pessoas de school" em clubes de regatas. Fazia isso com o seu jornal, cujo nome - Jornal dos Sports - traía influência de outra época, elitista e excludente.

Após o seu falecimento, em 17 de setembro de 1966, Mário Filho foi oficialmente associado ao Maracanã, que passou a se chamar "Estádio jornalista Mário Filho". Desde então, não há Fla-Flu sem que uma emissora de rádio, sintonizada por um humilde torcedor, deixe de associar nome e lugar, mobilizando o imaginário que dá vida ao futebol. Negócio para uns e objeto de manipulação demagógica para outros; para a multidão, memória coletiva que compõe a identidade nacional.

Rogério Baptistini é Sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Doutor e mestre em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Unesp; bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Unesp.