VA

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Especialistas veem decisão do TAS em tirar pena do City como risco ao fair-play financeiro

Mistério em torno da reversão da suspensão dos Citizens por irregularidades, dúvidas sobre investigação da Uefa e dos modelos de gestão e alerta são postos em pauta

Fair-play financeiro foi posto em xeque com a mudança do Tribunal (Foto: LAURENCE GRIFFITHS / POOL / AFP)
Escrito por

A decisão do Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) de reverter a punição imposta ao Manchester City colocou sob desconfiança a credibilidade a maneira como é avaliado o fair-play financeiro. Especialistas em finanças apontam que há muitas coisas a serem desvendadas em torno da atitude da instância máxima de justiça esportiva, que se opôs à medida da Uefa de banir o clube inglês por duas edições da Liga dos Campeões, além de impor uma multa de 30 milhões de euros (por volta de R$ 180 milhões).

Ao LANCE!, o consultor de gestão de finanças do esporte Cesar Grafietti apontou que ainda há muito a ser esclarecido em torno do que levou o TAS a bater o martelo. A instância máxima de justiça do esporte deu aval para os Citizens não só disputarem competições continentais, como também reduziu a multa para 10 milhões de euros (por volta R$ 60 milhões).  

- Este é um tema ainda a ser desvendado. Acho prematuro analisar apenas a partir do press release que o TAS divulgou. Será preciso ver a decisão completa, pois no press release há mais interrogações que respostas. Por exemplo, falam em "prescrição" e "falta de provas", ao mesmo tempo em que confirmam que o clube não colaborou - e em seguida detalhou: 

- A Uefa só reabriu o caso a partir das denúncias do "Football Leaks" (revelação de transações financeiras obscuras). Mas a documentação que ela tinha em mãos era apenas o que foi vazado pela imprensa. Como tentou obter mais dados junto ao clube e não obteve sucesso, o prazo expirou. Logo, aqui temos dois aspectos importantes: falta de documentação comprobatória e prazo expirado, por conta da má vontade do clube, que foi punido pela falta de colaboração - complementou.

Grafietti acredita que o caso do City pode ser um divisor de águas para a Uefa mudar sua maneira de avaliar o fair-play financeiro.

- O que me parece depois de ler e acompanhar várias fontes, é que a Uefa fez o que precisava ser feito, mas de forma menos eficiente do que deveria. No final, minha sensação é de que a entidade aproveitará o caso para apertar mais os controles e mudar os procedimentos - declarou.

Em seguida, o economista avaliou que a decisão pode trazer consequências negativas para a equipe inglesa.

- Se o Tribunal confirmar em sua decisão que a absolvição veio por questões técnicas (prescrição e documentos obtidos por vazamento) e que não pode analisar mais porque o clube não colaborou, então é possível que esta sensação de que a Uefa "perdeu" possa se virar contra o City, que passaria a ser tratado como um clube que não respeita as regras - disse.

Cesar Grafietti apontou que a íntegra do documento tende a esclarecer a decisão do Tribunal Arbitral do Esporte. 

- Por isso é importante esperarmos a documentação completa. Por ora, todos saem perdendo: Uefa, porque precisa reformular o processo e tornar as regras mais ágeis e o City, porque foi absolvido por tecnicalidades - frisou.

O economista apontou os desafios que o fair-play financeiro tende a ter a partir desta decisão.

- O fair-play financeiro nasceu como forma de levar os clubes ao equilíbrio, mas com o tempo adicionou a ideia de evitar investimentos sem lastro. Precisa formalizar esta ideia e tornar as regras mais claras e rígidas, e os procedimentos mais ágeis - e, em seguida, afirmou:

- A situação vai indicar que havia um problema e que não foi analisado porque o clube não se prontificou a colaborar. Então jogará luz ao processo e às regras de divulgação de informações. Com isso a Uefa pode mudar o modelo e reforçar o regulamento, além de dar mais independência ao órgão de análise - completou.

Consultor de marketing e gestão financeira, Amir Somoggi faz severas críticas á decisão do Tribunal Arbitral do Esporte (TAS). Ele é categórico sobre a reversão da pena.

- O fair-play financeiro morreu com a não punição. O caminho era partir também para o PSG, que faz algo mais grave, pois manipula ainda mais as contas, com números mais inflados. O fair-play financeiro teve uma grande derrota. É muito fácil punir um time de menor expressão internacional, mas ir para cima de um clube que injetou 1,5 bilhão de euros (por volta R$ 9 bilhões) só em contratações e equilibra as contas com patrocínio? Todos sabem que são pessoas próximas a sheiks árabes. Na verdade, este fair-play não está punindo pessoas que burlam de tal forma as contas dos clubes - declarou. 

Os documentos vazados mostravam que o proprietário do City, Sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan, estava financiando o patrocínio de 67,5 milhões de libras (cerca de R$ 380 milhões) da camisa, estádio e as divisões de base por meio da companhia aérea de seu país, Etihad.

O proprietário da empresa Sports Value também alerta para imagem deixada no City.

- Estes grandes proprietários estão livres, vão comprar mais um clube. A integridade passa ao largo destes magnatas que compram tudo, menos a dignidade. Todo mundo vai se lembrar do modelo de gestão na qual donos injetaram do bolso para não "quebrarem" - afirmou.

Somoggi não vê um caminho para que haja correção no fair-play financeiro.

- Quando o Milan foi punido, até pensei nisso. Mas analisei a fundo e o clube italiano perdeu força no futebol europeu, tem a vigésima folha salarial da Europa, vai ter de se reconstruir completamente. Os magnatas, por sua vez, mandam e se desmandam. O dono do PSG se impõe no Campeonato Francês. O Qatar é dono da próxima Copa. Os ditadores por trás destes negócios estão investindo para serem donos do futebol - disse.

O especialista apontou como o fair-play financeiro poderia evitar dribles na gestão financeira.

- Seria um golpe nesta conduta do futebol. O City iria se adequar a uma nova realidade de patrocínios, mas agora está livre para inflar os valores de suas contas com empresas que claramente não têm o rendimento divulgado ou os seus donos injetam nos clubes. Perde-se um trabalho maravilhoso de fair-play financeiro. A Juventus faz patrocínios inflados para que a gestão da família aja como o dono quer. Acaba que os clubes com poder político, casos de PSG e City ganhem tanta força nos bastidores, a ponto de superarem um Bayern de Munique, um Real Madrid, por exemplo... - constatou.