Enquanto o Brasil vê as promessas de mobilidade urbana ficarem pelo meio dos trilhos e ainda tem seis estádios longe de serem concluídos, a pouco mais de um ano para a Copa do Mundo de 2014, a Rússia está em velocidade máxima. É o que pelo menos garante o CEO do Comitê Organizador Local do Mundial de 2018, Alexey Sorokin.
– O progresso do COL da Rússia-2018 tem sido muito bom nos últimos dois anos e meio. A maior parte do trabalho tem sido feito por trás das cortinas, mas acredite em mim: estamos em velocidade máxima – disse Alexey Sorokin, em entrevista exclusiva ao LANCE!Net.
A Rússia definiu as 11 cidades-sede e os 12 estádios para 2018 em setembro de 2012, seis meses antes do previsto. A meta é ter todas as arenas prontas em 2017. Ao contrário do Brasil, que obrigará seleções a viajarem mais de 3,6 mil km na primeira fase, o próximo anfitrião dividiu os jogos em quatro áreas geográficas: Central, Norte, Volga e Sul.
Mesmo assim, o desafio logístico é enorme: trata-se do maior país do mundo em tamanho, com área total superior a 17 milhões de km² – na prática, o dobro do Brasil. O programa de infraestrutura será lançado neste mês, com mais de 400 projetos de construção, entre estádios, hotéis e transporte.
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E isso vai custar caro. No ano passado, o orçamento era estimado em R$ 38,9 bilhões. Porém, essa cifra pode chegar a R$ 86 bilhões, como advertido pela Standard & Poor's, empresa de finanças norte-americana. Um novo orçamento será anunciado em breve. Para comparação: o Ministério do Esporte brasileiro tem uma projeção de até R$ 33 bilhões em investimentos para 2014.
Porém, diferentemente de outros países, a Rússia já adiantou que a Copa não será "100% privada". Quase metade do investimento virá do setor público. Todo esse esforço tem motivo: é a década do esporte por lá, com Jogos Universitários, Olimpíadas de Inverno (2014) e várias competições internacionais até 2018. Uma série de eventos planejada, com o objetivo de abrir a Rússia ao mundo.
O CEO do Comitê Organizador Local da Copa-2018 falou sobre as ações a serem promovidas no Brasil, o legado pretendido com o Mundial, o futuro dos estádios, entre outros tópicos. Além disso, foi enfático ao rebater as acusações de suborno em relação à Rússia para sediar o Mundial (veja no link a seguir). Abaixo, os principais trechos da entrevista:
Como estão os preparativos? O que já foi feito?
Nossa grande realização até agora foi selecionar as cidades e os estádios. Isso acelerou outros projetos, como os pôsteres de cada local, o que é fundamental para promover a competição. O conceito da Copa das Confederações de 2017 também já está estabelecido, e nós finalizamos a escolha dos locais dos jogos do Mundial. A abertura, uma semifinal e a final serão em Moscou, enquanto a outra semifinal ocorrerá em São Petesburgo. Também decidimos a data do primeiro evento oficial da Copa de 2018, o sorteio preliminar, que será em 24 ou 25 de julho de 2015.
Quão cedo pretende a Rússia ter tudo pronto para 2018?
A escala de tempo para as construções será confirmada quando o governo lançar o programa, mas posso garantir que o COL russo e seus parceiros vão entregar a plataforma da Copa do Mundo de 2018 dentro do prazo, do orçamento e com todos os requerimentos da Fifa. A infraestrutura será nossa maior tarefa, o desenvolvimento a ser feito será inédito na História do país. Estamos à frente do calendário. Cinco estádios estão em obras, e três deles ficarão prontos dentro de um ano. Os outros sete estão na fase de desenvolvimento e serão entregues em 2017.
No Brasil a maior parte do investimento será do setor público. E no caso da Rússia?
Como no Brasil, a Rússia terá um generoso suporte governamental, e isso terá o apoio do setor privado em projetos de infraestrutura, principalmente em áreas de legado valioso para o turismo, como hotéis e aeroportos. Como disse, o escopo da Copa de 2018 em projetos de infraestrutura será sem precedentes, mas não vemos isso como puro gasto. Esse programa está cuidadosamente mirado no futuro do país, com retorno garantido para a população russa e a comunidade futebolística global.
Outra preocupação similar com a nossa: o que será feito dos estádios após o Mundial?
É imperativo para nós que haja um legado físico para todos os estádios que forem construídos ou reformados para 2018. Alguns dos 12 estádios serão transformados em arenas de capacidade menor, para atender aos times regionais. Outros irão ser trabalhados como espaços multifuncionais. Para garantir que todos os estádios sirvam suas comunidades da melhor maneira possível, as autoridades locais consideram passá-las para uma companhia de operações.
O Brasil está bem próximo da Copa, tem muito a fazer e diversas promessas não foram cumpridas. Qual é a sua opinião sobre isso?
Não é do meu lugar comentar sobre os preparativos para 2014. O que posso dizer é que a Rússia irá se inspirar em muitos aspectos do comitê brasileiro no conceito de sede, especialmente em implementar projetos ambientalmente sustentáveis. Iremos aprender muito em 2013 e 2014.
Existe algum plano sobre realizar ações no Brasil em breve?
Estamos de olho nas oportunidades na próxima Copa das Confederações e no Mundial de 2014 e pretendemos estar ativos em ambos. Estamos animados para promover no Brasil um pouco do que será a Copa na Rússia. Queremos mostrar um país amigável, com rica cultura e diversas regiões.
Como a adaptação ao calendário europeu afetou o futebol russo?
Houve grandes benefícios com isso, como a sincronização da janela de transferências, permitindo aos clubes russos segurar mais facilmente os melhores atletas. Mas o mais importante foi permitir aos campeões locais a chance de disputar as competições européias sem ter de esperar por meses, como antes. Mas o antigo problema do inverno rigoroso continua, e isso afeta os gramados e a presença da torcida nos estádios.