“Não é humano fechar as portas para o amor.”
A frase foi dita por Cesare Prandelli, ao admitir que estava vivendo um novo romance, em meados de 2010, quando conheceu Novella, de família nobre de Florença e que faz trabalhos sociais, atendendo entidades carentes da região.
Três anos antes, o agora técnico da seleção italiana perdera a mulher, Emanuelle, que havia lutado por dois anos contra um câncer de mama. Nas últimas semanas do tratamento dela, em 2007, decidiu dedicar-se só a ela e abriu mão de uma proposta para voltar à Roma, para aquele que seria seu primeiro grande trabalho como técnico.
Com Emanulle, teve dois filhos. Um deles, Nicolo, é preparador físico e fez parte de sua comissão técnica na Eurocopa de 2012, da qual a Itália foi vice-campeã. Criticado por empregar o filho, desligou Nicolo da Federação Italiana de Futebol (FIGC) e o fez seguir para o Parma, onde está hoje. Não queria ser acusado de favorecimento ao filho.
O processo de renovação que ele iniciou na seleção italiana logo depois do fiasco da eliminação na primeira fase na Copa da África, em 2010, porém, foi elogiado. Prandelli também recebe aplausos pela forma como lida com o explosivo e problemático Balotelli. Sereno e reservado, o técnico sempre soube administrar as crises que vez por outra ameaçam a estabilidade de sua equipe.
Também ajuda na relação com Balotelli o fato de os dois serem da mesma região de Brescia e de, como dizem jornalistas italianos, terem o dialeto bresciano como uma das coisas em comum que o aproximam.
– Eu já disse para ele que o problema dele é problema da equipe e é meu problema também. Somos uma equipe, ele não está sozinho – disse, ao ser cobrado pela expulsão de Balotelli no empate com a República Tcheca, pelas Eliminatórias.
Prandelli se relaciona muito bem com outros jovens da seleção, como o caçula El Shaarawy, de apenas 20 anos. Também pudera: foi trabalhando com garotos de base da Atalanta que Prandelli se destacou e surpreendeu a Itália ao conquistar vários títulos na categoria.
Foi com esse perfil que o técnico apagou os fiascos recentes da Azzurra e a levou à final da Eurocopa 2012. É com as portas abertas do coração, como disse Prandelli, que a Itália começou a viver uma nova era.
Quem é ele?
Nome: Claudio Cesare Prandelli
Nascimento: em Orzinuovi, na região de Brescia, em 19/8/1957 (55 anos)
Carreira como técnico: Começou em 1990, na Atalanta, pela qual havia encerrado a carreira. Ganhou destaque ao conquistar títulos na base. Depois, passou por Lecce, Verona, Venezia, Parma, Roma, Fiorentina e chegou à seleção italiana em 2010.
Como jogador: Era meio de campo, começou na Cremonese, em 1974, depois passou por Atalanta, Juventus e Atalanta de novo.
Com a palavra
Luigi Garlando
Jornalista da Gazzetta dell Sport
É admirável e os atletas reconhecem
Logo quando ele conheceu Novella, sua atual noiva, os dois saíram para jantar em Florença para se conhecerem melhor. Conversaram sobre muitos assuntos, mas, reservado como Prandelli é, disse apenas que trabalhava com futebol. Também pudera, ela não gostava muito do assunto. Depois do restaurante, caminharam pelas ruas e Prandelli começou a ser parado e cumprimentado. Ela se espantou e ele, enfim, explicou que era o técnico da Fiorentina.
Esse caso é um exemplo da pessoa tranquila e reservada que o técnico é. Ele é uma grande personalidade do futebol italiano hoje, mas continua reagindo às pressões e ao peso da mesma forma, com a serenida de quem enfrentou dois anos de um árduo tratamento de câncer na mulher. É um homem, de fato, admirável e os jogadores reconhecem, por isso o respeitam tanto.
Essa forma como ele trabalha também foi importante para mudar a seleção italiana em campo.