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Didi: há 19 anos, o futebol se despedia do sereno ‘Príncipe Etíope’

Bicampeão do mundo com a Seleção Brasileira, o meia encantou torcidas de Fluminense e Botafogo e, posteriormente, marcou época como técnico em território peruano

Didi ficou marcado por sua "folha seca" ao cobrar faltas (Foto: Reprodução)
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A maneira como o futebol brasileiro apresentou sua qualidade para o mundo passou pelos pés de Didi. Com serenidade na troca de passes e uma boa visão de jogo, Valdir Pereira saiu de cena em 12 de maio de 2001, deixando lembranças de títulos e grandes feitos por onde passou, além de ter como sua grande marca a "folha seca", cobrança de falta na qual a bola faz efeito até repousar mansamente no gol adversário.  

O dramaturgo Nelson Rodrigues, responsável por lhe dar o epíteto de "Príncipe Etíope", foi categórico ao discorrer sobre a elegância do camisa 8.

"Didi é, como um craque, um virtuose inexcedível. Trata a bola amorosamente. Ela parece, aos seus pés, uma orquídea rara e sensível, que deve ser cultivada com requinte e deleite", declarou, em crônica publicada na "Manchete Esportiva" de 4 de abril de 1959. 

Contudo, as façanhas de Didi já encantavam há muito tempo a torcida.

A PROJEÇÃO NO FLUMINENSE

No Fluminense, campeão da Copa Rio no time que tinha Castilho e Telê Santana (Foto: Reprodução)

Nascido em Campos dos Goytacazes, Didi passou por clubes como Americano, Lençoense e Madureira até, em 1949, o Fluminense lhe abrir as portas. Atuando ao lado de jogadores do quilate de Castilho, Telê Santana, Pinheiro, Orlando Pingo de Ouro e Quincas, desbravou caminhos e não demorou a se firmar.

Com o tempo, foi ganhando espaço também na Seleção Brasileira, na qual sagrou-se campeão dos Jogos Pan-Americanos em 1952. Na mesma época, havia vencido o Carioca de 1951 e a Copa Rio de 1952 pelo Tricolor das Laranjeiras. O desempenho no clube garantiu sua primeira convocação para uma Copa do Mundo, em 1954, mas o escrete canarinho amargou a eliminação nas quartas de final para a avassaladora Hungria. 

Em 1956, Didi mudou de ares e partiu para o Botafogo. Em General Severiano, viria uma história muito emocionante.

BOTAFOGO: UMA UNIÃO QUE FEZ BEM AO FUTEBOL BRASILEIRO

'Todos eram muito unidos e passavam confiança para nós', afirma Amarildo sobre o quarteto Didi, Zagallo, Nilton Santos e Garrincha (Foto: Divulgação/BFR)

Contratado pelo Glorioso, Didi não demorou a fazer parte de uma geração emblemática. Seu antigo colega no clube e também na Seleção Brasileira, Amarildo tem grandes lembranças do Alvinegro.

- Do goleiro ao ponta esquerda, o time do Botafogo tinha jogadores fantásticos. Didi, Nilton Santos, Mané (Garrincha), Zagallo, Quarentinha... E todos sempre foram muito unidos, passavam confiança. Isto fez a diferença para a gente - recordou, ao LANCE!.

Em 1957, Didi já fez parte da equipe campeã carioca. Mas teria um sonho ainda maior para ser realizado.

DA 'FOLHA SECA' NO MARACA AO TÍTULO MUNDIAL NA SUÉCIA

'Estava, fatalmente, por trás dos tentos alheios', disse Nelson Rodrigues sobre Didi (Foto: Reprodução)

Requisitado na Seleção Brasileira, Didi abriu caminho para o título mundial. Em 1957, o meia utilizou a "folha seca" para decretar a vitória por 1 a 0 sobre o Peru, no Maracanã, no jogo decisivo das Eliminatórias da Copa do Mundo. 

Com a vivência de já ter disputado um Mundial, coube a ele ser o ponto de equilíbrio do escrete de Vicente Feola. Embora tenha marcado só um gol (na goleada por 5 a 2 sobre a França, na semifinal), Didi conduziu as jogadas e passou serenidade até mesmo na final, quando o Brasil viu a Suécia abrir o placar. Pedindo calma aos atletas, ele contribuiu para que a virada para 5 a 2 fosse concretizada.

O dramaturgo Nelson Rodrigues trouxe seu ponto de vista sobre a atuação do "Príncipe Etíope" no Mundial.

"Nem sempre marcava gols. Mas estava, fatalmente, por trás dos tentos alheios. Era ele quem amaciava o caminho, quem desmontava a defesa inimiga com seus lançamentos em profundidade. Com uma simples ginga de corpo, liquidava o marcador. E nas horas em que os companheiros pareciam aflitos, ele, com calma lúcida, o seu clarividente métier, prendia a bola e tratava de evitar um caos possível", escreveu na "Manchete Esportiva" de 5 de julho de 1958.  

O grande desempenho fez com que ele despertasse a atenção do Real Madrid. Entretanto, os ciúmes que Di Stéfano teve dele encurtaram sua passagem no clube merengue e causaram sua volta a General Severiano pouco tempo depois.

Vestindo uniforme alvinegro mais uma vez ao lado de Garrincha, Nilton Santos, Quarentinha e Amarildo, Didi sagrou-se campeão carioca em 1961. No início do ano seguinte, conquistou o Torneio Rio-São Paulo. Porém, ainda havia um novo sonho a se concretizar.

O BICAMPEONATO MUNDIAL SE TORNA REALIDADE

'Didi sempre foi uma pessoa muito afetuosa. Nunca o vi de cara amarrada', disse Amarildo (Foto: Reprodução)

Quatro anos depois do título na Suécia, Didi desembarcou em uma Copa do Mundo com a responsabilidade de ser um dos pilares da Seleção Brasileira na busca por um novo título. O atacante Amarildo contou como era o convívio com o meia.

- Didi sempre foi uma pessoa muito afetuosa. Nunca o vi de cara amarrada. Além disto, sempre foi uma pessoa muito educada. Tanto no Botafogo quanto na Seleção Brasileira, foi um prazer usufruir da ajuda dele dentro e fora de campo - afirmou.

O "Possesso", que no decorrer do Mundial do Chile teve a missão de substituir Pelé (lesionado no empate sem gols com a Tchecoslováquia), contou que ganhou um trunfo neste período no escrete canarinho.

- A Seleção era formada por muitos colegas meus de Botafogo. Além do Didi, tinha o Mané (Garrincha), Zagallo, Nilton Santos... E eu entrei logo em um jogo difícil, no qual o Brasil tinha chance de ser eliminado para a Espanha. Contar com colegas como o Didi me ajudou a ter ainda mais segurança de entrar em campo e fazer meu jogo - declarou, ao recordar o jogo no qual marcou dois gols na vitória por 2 a 1, de virada, sobre os espanhóis.

Com a vitória por 3 a 1 da Seleção sobre a Tchecoslováquia na final, o "Príncipe Etíope" ganhou seu bicampeonato mundial. E, ao fim do ano, saboreou mais um título: o Carioca, pelo Botafogo.

MARCANDO ÉPOCA COMO TÉCNICO NO FUTEBOL PERUANO

'Era muito metódico e objetivo ao passar o que queria da gente', diz o Héctor Chumpitaz, defensor da seleção do Peru em 70 (Foto: Reprodução)

Após ter sido "jogador-treinador" em clubes como Sporting Cristal, no próprio Botafogo, no Veracruz (MEX) e pendurar as chuteiras no São Paulo, Didi passou definitivamente para a beira do gramado. De volta ao Peru, ele conduziu a o Sporting Cristal ao título nacional em 1968, ao bater o Juan Aurich por 2 a 1 no jogo extra, com dois gols de Alberto Gallardo.

Logo em seguida, o "Príncipe Etíope" foi designado para comandar a seleção peruana na luta por uma vaga na Copa do Mundo. Então zagueiro de "Los Incas", Héctor Chumpitaz detalhou a intensidade do trabalho de Didi.

- Ficamos seis meses concentrados, muito empenhados em conseguir a classificação nas Eliminatórias. O Didi era muito metódico e objetivo ao passar o que queria da gente. Isto, aliado ao intenso período de treinamento que tivemos, contribuiu muito para que chegássemos com muita força na reta final - afirmou.

O ex-defensor destacou como foi a luta da seleção peruana.

- Tínhamos vencido a Argentina, mas tropeçado na Bolívia em La Paz. Então fomos para a segunda partida contra os bolivianos com muita gana. Ganhamos por 3 a 0 e aquilo nos deu mais vibração para enfrentar os argentinos na Bombonera. Fizemos um jogo forte contra eles, Ramírez marcou dois gols e só não ganhamos porque o árbitro marcou um pênalti para os argentinos no último minuto. Para nosso alívio, o empate em 2 a 2 dava o primeiro lugar do grupo - e, em seguida, assegurou:


- Disputar as Eliminatórias é muito mais tenso que o Mundial. A gente sabe o quanto cada jogo pode custar caro, e a responsabilidade estava maior nas nossas costas - completou.   

E NO MEIO DO CAMINHO, TINHA UMA SELEÇÃO CANARINHO...

'Fomos derrotados, mas ficou a lembrança da grande seleção que formamos', diz o ex-zagueiro peruano Chumpitaz (Foto: Reprodução)

No México, a seleção comandada por Didi caiu no Grupo 4, com Bulgária, Alemanha Ocidental e Marrocos. Porém, a intensidade da equipe que tinha nomes como Ramírez, Gallardo e Cubillas não demorou a aparecer nos gramados.

- Estávamos bastante calejados da disputa das Eliminatórias. Com isto, chegamos muito fortes para a nossa estreia contra a Bulgária, na qual marquei um gol, inclusive (os peruanos venceram por 3 a 2). O Didi foi fundamental para nos dar uma mentalidade vencedora, uma garra e tornar nossa equipe forte - afirmou Chumpitaz.

Porém, os rumos da Copa colocaram o Peru comandado por Didi no caminho da Seleção Brasileira.

- Vínhamos de um grande desempenho contra o Marrocos, no qual o Cubillas marcou dois gols e vencemos por 3 a 0. Só que a Alemanha (na época, Alemanha Ocidental) levou a melhor sobre a gente (por 2 a 1) e calhou do Brasil nos enfrentar nas quartas - disse o ex-zagueiro.

Chumpitaz contou como o técnico aconselhou "Los Incas" a enfrentar o escrete canarinho.

- Ele era um técnico bicampeão mundial em campo, né?! Conhecia bem o trabalho, o estilo dos brasileiros. Sabia as características do Pelé, do Jairzinho, do Rivellino...  - e o ex-zagueiro foi categórico ao falar sobre a seleção do Peru:

- Fomos derrotados, mas ficou a lembrança de uma grande seleção que formamos. Tanto que na época muitos disseram que Brasil e Peru foi a melhor partida da Copa, pelo número de gols e pela bola não ter parado em nenhum momento - completou.

O Brasil venceu por 4 a 2 e seguiu seu rumo ao tricampeonato mundial. Didi, por sua vez, ficou guardado na história do futebol peruano. Depois de treinar River Plate, ele conduziu o Fenerbahçe ao bicampeonato turco e comandou o Fluminense da Máquina Tricolor ao título estadual de 1975.

Ainda rodou por clubes como Cruzeiro (onde venceu mais um estadual), Atlético-MG e Alianza Lima. Até, em 12 de maio de 2001, morrer em virtude de um câncer no fígado. Porém, sua relevância para o futebol ficou para a posteridade.