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Luiz Gomes: ‘O Peixe eliminado está mais para os demônios do que para os santos’

Flagrante desrespeito ao trabalho de Jesualdo, com ameaças e pressões internas por sua demissão, completa o espetáculo de terror em torno da eliminação santista

Jesualdo Ferreira, quase irreconhecível: reflexo de um Santos perdido no ambiente interno (Foto: Ivan Storti/Santos FC)
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A eliminação do Santos para a Ponte Preta foi muito mais do que uma simples derrota. Foi um resumo do mar de lama em que se afoga o Peixe. Má administração, brigas políticas, salários atrasados, pendências judiciais, punições da Fifa formaram um pano de fundo perfeito para o vexame que se viu na quinta-feira. E, se não bastasse tudo isso, um flagrante desrespeito ao trabalho do treinador, com ameaças e pressões internas por sua demissão, completa o espetáculo de terror em torno da eliminação santista. A chance de virem mais fiascos por aí é imensa.

Vejamos, pois!

Crises políticas alimentadas por grupelhos que se digladiam nos bastidores da Vila e gestões inoperantes não chegam a ser uma novidade no Santos. Desde o início de sua gestão, o presidente José Carlos Peres jamais demonstrou competência para administrar e capacidade de dar ao clube um mínimo de estabilidade. Agora, se vê em vias de enfrentar um segundo processo de afastamento – certamente terá dificuldades de aprovar suas contas em reunião do conselho marcada para essa semana. Fosse ele o único punido, tudo bem. Mas os prejuízos do clube são muito maiores do que sua perda de cacife.

A pandemia, é óbvio, tem seu papel na crise atual. Mas, quando o mundo ainda girava, amargou um prejuízo em torno de R$ 20 milhões apenas nos primeiro três meses do ano. O segundo trimestre vai multiplicar essas cifras, rebaixando o Peixe a um patamar financeiro a poucos clubes brasileiros chegarão. Os resultados já são visíveis: pagamentos atrasados, jogadores sem salários na justiça pedindo a rescisão do contrato. E desfalques importantes, como Everson e Sacha vão se acumulando em um elenco já sofrível.


Para completar, as dívidas com o Hamburgo (ALE)), o Brugge (BEL) e o Atlético Nacional (COL), arrastadas desde as negociações por Cleber Reis, Felipe Aguilar e Luan Peres sufocam ainda mais o Santos. Parcelas não pagas, levaram o clube a ser proibido de fazer novas contratações. Ou seja, ao mesmo tempo em que perde jogadores de um lado, não consegue repor peças de outro. E recorrer a base – felizmente aparentemente preservada nesse ambiente de caos – tornou-se a única opção.

No meio disso tudo, o português Jesualdo Ferreira é quem em vias de pagar o pato. Contratado no início do ano, teve pouco mais de um mês para treinar o peixe antes da Covid 19. Treinar um time, diga-se de passagem, já mergulhado em toda a instabilidade a que nos referimos aí acima, com um ambiente completamente tóxico, o que torna a situação ainda pior. Depois da volta, foram três jogos e quase nenhum tempo de preparação. Mas o que tudo isso importa? Para a cartolagem, o tal Comitê Gestor, absolutamente nada. Um bode expiatório à beira do campo é ideal para tirar o foco da podridão dos gabinetes.

O trabalho de JF pode ser considerado muito bom? É claro que não. É fato que o Peixe não encontrou um padrão de jogo, desde sua chegada, que poucas alternativas o time tem encontrado na armação e no ataque e que as falhas de marcação são uma constante. Mas Jesualdo está longe de ser uma tragédia. Sob seu comando foram 15 partidas com um aproveitamento de quase 50%. Muito pouco para o clube como o Santos? Sem dúvidas, mas para o Santos de Robinho, de Neymar que a torcida se acostumou a ver. Não para esse Santos que está aí.

Jesualdo, apesar da experiência de seus 74 anos, ainda se adapta ao futebol brasileiro. Inclusive parece não entender como a banda toca por aqui. Sua entrevista após o jogo contra a Ponte, ainda à beira do gramado, teve a naturalidade de quem está acostumado a um mundo em que, mesmo os resultados sendo importantes, é claro, o trabalho de um treinador se avalia pelo conjunto do que faz.

O português lamentou a eliminação, mas disse que não era o fim de nada, mas o começo de uma nova fase visando o Brasileirão. Uma declaração natural no outro lado do Atlântico, mas absolutamente ingênua, quase patética, quando dita em um país que é campeão mundial no insalubre esporte de abater treinadores.