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Folha baixa, 30% do orçamento e pés no chão: Paraná ressurge e volta à Série A

Após dez anos na Série B, Tricolor profissionaliza departamento de futebol, traça planejamento realista e é coroado com o acesso. "Temos capacidade de subir e se manter", garante presidente.

Torcida tomou as ruas de Curitiba e pintou a capital paranaense de azul, vermelho e branco. (Divulgação/Paraná)
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"O Paraná vai acabar". A frase faz parte de uma música cantada pelas torcidas rivais, mas que agora já não faz mais sentido. No último sábado, o Tricolor paranaense conseguiu o acesso à Série A após dez anos e carimbou a vaga na elite ao vencer o CRB-AL por 1 a 0, em Maceió, com uma rodada de antecedência.

- Quando alguém falou que o Paraná ia acabar, ele não estava mentindo. Se o Paraná continuasse naquele caminho, ele realmente acabaria. Mas graças ao esforço de muitas pessoas, ex-presidentes, conselheiros que contribuíram, o clube ressurge pelas mãos da torcida. O trabalho continua e esse é apenas mais um passo na reconstrução - declarou o presidente Leonardo Oliveira, eleito no final de 2015, após a confirmação do acesso às rádios presentes.

A declaração do mandatário paranista retrata bem a realidade do clube em um passado bem recente. Notícias de possíveis greves, salários atrasados e patrimônios indo a leilão eram frequentes. E o que mudou?

Profissionalismo, principalmente. Todo o departamento de futebol foi profissionalizado e não tem existe mais funcionário que trabalhe ali só "por amor". Todos são de suas respectivas áreas e pagos. Há, sim, a necessidade de aumentar o quadro de profissionais, já que existem áreas com muita demanda e poucas pessoas - ou só uma, como na comunicação e no marketing, por exemplo. Não existe um departamento de análise de desempenho dentro do clube, algo tão essencial nos dias atuais.

Mesmo assim, menos é mais. A folha salarial do elenco é de R$ 380 mil. O staff é completado com mais 80 mil. Assim, com R$ 460 mil, o Tricolor conseguiu montar um elenco coeso, com muitas apostas, que deu resultado em campo. É bem verdade que houve um excesso de contratações (perto de 40 na temporada), muitas sem retorno, mas a direção se defende alegando que quem rescindiu nesse período não trará problemas judiciais no futuro.

No caminho, o comando técnico sofreu quatro alterações. Wagner Lopes saiu após o Campeonato Paranaense para assumir um time do Japão. A aposta Christian de Souza não deu certo como esperado e caiu antes do fim do primeiro turno, deixando o time na décima quinta colocação. Lisca assumiu, levantou a equipe e foi demitido após se desentender com o auxiliar Matheus Costa, na véspera do jogo contra o Atlético-MG, pela semifinal da Primeira Liga. O entendimento, então, foi colocar as fichas em Costa, 30 anos, que estava ambientado com o dia a dia e manteria o projeto do início do ano: defesa sólida (terceira menos vazada da Série B), jogo de transição e ataque rápido. Deu certo. A ideia inicial era fazer uma competição tranquila, entre os dez colocados. Conseguiu subir, sendo o melhor mandante do país (77,8%) no Brasileiro. Em toda temporada, apenas duas derrotas em casa.

- O Paraná foi atípico. Na verdade, não gastamos nem 30% da nossa receita no ano (no futebol). Mas isso não é sempre que vai acontecer. Sabemos que no ano que vem vamos precisar de receita para ter qualidade, para ter competitividade e bater de frente com os grandes do país. Mas vamos dar um jeito, da nossa forma profissional de agir e formando um grupo bom. Se tivermos um elenco que compre a ideia, a gente vai longe. E esse ano foi assim - afirmou Rodrigo Pastana, gerente executivo da pasta.

Com R$ 23 milhões de cota de televisão no Campeonato Brasileiro de 2018 - que deve subir para R$ 29 milhões - e um potencial salto de orçamento com patrocínios melhores, o Paraná espera repetir a fórmula do sucesso tendo um poderio maior, só que sem onerar o caixa em caso de rebaixamento. A diretoria tem como prioridade adotar o Ato Trabalhista no início do ano que vem para ter um fluxo e trabalhar com tranquilidade. O acordo faria com apenas uma parte da verba fosse paga mensalmente, com valor fixo, em uma conta específica. Atualmente, são quase 600 ações na Justiça do Trabalho e a dívida trabalhista se aproxima de R$ 14 milhões - neste ano foi paga R$ 5 milhões. O débito do "caso Thiago Neves", no maior imbróglio da história, terminou. A cota de R$ 5,2 milhões da Série B, aliás, estava bloqueada na Justiça e o clube praticamente não viu a cor desse dinheiro. A parte social, na Kennedy, seguirá praticamente toda terceirizada. Apenas o futsal, que faz parte do projeto de integração com o campo, fica na responsabilidade do clube.

- A gente nunca tem total certeza disso, né? Vê clubes aí com até maior capacidade financeira que batem e voltam. Acho que o segredo está exatamente nessa tranquilidade que a diretoria vem tentando dar, de gestão, de o departamento de futebol ter autonomia para construir a formação da equipe dentro do que é planejado. Num suposto acesso é planejado se manter. É difícil você cravar: estamos preparados. Mas tenho certeza que temos capacidade de subir e se manter - finalizou Oliveira, em entrevista recente ao UOL.

Para isso, a diretoria ainda vai planejar o próximo ano a partir desta semana. Inicialmente, entretanto, já existe uma ideia geral da temporada que vem. É utilizar de 50% a 60% do orçamento no futebol, com o restante abatendo a dívida (Ato Trabalhista) e investindo na estruturação do clube. Um passo dentro da realidade, sem loucuras.

Torcida compra a ideia

Torcida paranista recepcionou o elenco e fez a festa na Vila Capanema. (Geraldo Bubniak)


Ninguém esperava mais esse acesso que o torcedor. Foram dez anos de muito sofrimento e pouca alegria. Somente em 2013 que o Tricolor deu esperança e lutou pelo acesso até as rodadas finais - a torcida até patrocinou as camisas do clube naquela temporada. Nos outros anos, meio da tabela e até luta contra o rebaixamento para a Série C, como em 2011 e 2016.

Nesta temporada foi diferente. A média de público é próxima de 10 mil torcedores, atrás apenas de Internacional e Ceará. Um jogo, em especial, marcou a campanha: 39.414 presentes no triunfo por 1 a 0 contra o Inter, batendo o recorde da Arena da Baixada, estádio do rival Atlético-PR. Uma campanha de marketing que foi reconhecida pelo Brasil e uma festa memorável dentro do palco esportivo.

E não foi só isso. Inúmeras recepções no aeroporto Afonso Pena, seja nas vitórias ou nas derrotas. Mesmo calejada e desconfiada, já que o histórico não vinha sendo favorável, a torcida comprou a briga e não desistiu. As inúmeras declarações da diretoria, comissão técnica e jogadores retratam isso. Só foi possível com eles.

A espera terminou no sábado e Curitiba voltou a ser vermelha, azul e branca. Os torcedores saíram às ruas, lotaram o aeroporto e fizeram uma carreata que parou a capital paranaense. A festa terminou na Vila Capanema.