A vitória do Mirassol sobre o Palmeiras por 2 a 1 no domingo (9) mostrou que não se trata apenas de sorte a campanha que o time do interior de São Paulo vem fazendo no Brasileirão, e que está a um passo de uma inédita participação em Libertadores. E que também não é só competência financeira ou qualidade técnica. Afinal, qual é o segredo do Mirassol?

Se formos pensar bem, esse clube não tinha divisão nacional em 2019. É o time do menor município a jogar a primeira divisão nacional em 40 anos. E há 30 anos, seu presidente é a mesma pessoa: o hoje prefeito da cidade, Edson Ermenegildo. No elenco, nenhuma grande estrela do futebol. No banco, um técnico brasileiro sem grife. Deixa eu repetir a pergunta: qual é o segredo do Mirassol?

Uma conjunção de fatores

É claro que uma administração austera, que entenda o tamanho do seu orçamento e que utilize com critério os seus recursos, tende a ter sucesso, em qualquer natureza de organização. Não seria diferente em um clube de futebol. E aqui, se destaca o papel e a figura de Juninho Antunes, gestor do clube e empresário da cidade que trabalha de forma abnegada e não remunerada.

Isso contraria tudo o que se prega na chamada "administração moderna do futebol", onde os gestores e executivos precisam ser formados e pagos adequadamente, tendo que trazer resultados como um CEO ou CMO de qualquer empreendimento. Sem tirar os méritos de Juninho - e eles são muitos -, mas é o tipo de relação que em muitos clubes já deu errado. Justamente pela falta de "profissionalismo" na relação clube/gestor.

'Dar uma volta de carro no centro'

Me lembrei de uma aula na Academia da CBF em 2013, quando tirei a licença de analista de desempenho. O técnico de futebol e gestor Vinícius Eutrópio era, na época, o responsável pela formação do elenco da Chapecoense que vinha escalando divisões no Brasileirão e que chegaria anos depois naquela fatídica final da Sul-Americana. 

Vinícius Eutrópio foi responsável pela formação do elenco da Chapecoense em 2013 (Foto: Sirli Freitas / Chapecoense)

Em sua aula, o professor Eutrópio contava que o segredo daquele elenco era trazer jogadores que não se importassem que o único passeio na cidade de Chapecó era "dar uma volta de carro no centro". E isso é muito preponderante: não adianta trazer jogadores que querem a vida de uma cidade cosmopolita e suas atrações para jogar em um clube de cidade pacata e tranquila. Não vai dar certo.

Mirassol tem 60 mil habitantes

A cidade de Mirassol tem um pouco mais de 60 mil habitantes e fica a 464 km da capital paulista. Os destaques de passeio turístico da cidade são o Museu Jezualdo D'Oliveira e o Parque Municipal da Grota. Ir e voltar até São Paulo é um bate-volta de mais de 900 km. Cansativo. 

Para entender qual é o segredo do Mirassol, claro que tem que ter gestão, tem que ter um bom técnico, tem que ter os recursos financeiros e humanos. Mas, além de não ter a pressão da torcida e da imprensa de um time grande, conta muito montar um elenco que não se incomode em apenas "dar uma volta de carro no centro". E isso, nenhuma análise tática consegue responder.

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