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Tostão, exclusivo ao L!: ‘O Liverpool é melhor, mas se o Flamengo vencer a final, não será nenhuma surpresa’

Na primeira entrevista da série 'Balanço do LANCE!', o tricampeão mundial fala sobre a decisão do Mundial de Clubes, contrastes entre futebol brasileiro e europeu e outros temas

Tostão acredita que Seleção Brasileira se classificará à Copa do Mundo de 2022, mas tende a ter dificuldades em campo (Foto: Divulgação)
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A precisão que ele mostrava com a bola nos pés segue cada vez mais acentuada ao analisar o que acontece nos gramados do mundo afora. Campeão da Taça Brasil de 1966 pelo Cruzeiro e tricampeão mundial com a Seleção Brasileira em 1970, Tostão projeta uma final de Mundial de Clubes intensa entre Liverpool e Flamengo, que acontecerá amanhã, em Doha (QAT).
O "Doutor" vê os Reds superiores tecnicamente, mas alerta.

– Não será surpresa se o Flamengo vencer o Liverpool na final. Agora, a partida definirá quem é campeão do Mundial, mas não qual equipe é melhor tecnicamente. Os ingleses, sem dúvida, têm jogadores que são melhores - disse.

O pontapé inicial do Balanço do LANCE!, série de entrevistas previstas para as sextas-feiras, é com o craque que, após ter se formado em Medicina pela UFMG, voltou a ter o futebol em sua rotina como colunista da “Folha de São Paulo”.

Sempre autêntico, Tostão traz as suas opiniões sobre a quebra de paradigmas que marcou esta edição do Campeonato Brasileiro e não mede palavras ao falar sobre o que está à espera da Seleção Brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo.

– Tite terá trabalho, pois não tem jogadores excepcionais à sua disposição. Além disto, as seleções sul-americanas vêm crescendo muito - afirmou o ex-jogador.

O "Mineirinho de Ouro" também traça suas perspectivas sobre os novos rumos do futebol nacional e internacional.

LANCE!: Estamos em contagem regressiva para a final do Mundial de Clubes, entre Liverpool e Flamengo. O que esperar deste grande embate?

Tostão: Olha, primeiramente, o Liverpool não jogou com os seus titulares diante do Monterrey na semifinal do torneio. Agora, contando com seus titulares, a expectativa é de que tenham um desempenho bem superior com a entrada de jogadores como o próprio Firmino, que fez a diferença no finzinho. A grande dúvida em relação ao Flamengo é como vai se comportar na decisão. A equipe de Jorge Jesus não jogou bem no primeiro tempo contra o Al Hilal, e só passou a ser superior no segundo tempo. Cabe ao Rubro-Negro melhorar as estruturas de sua defesa, até para conter a velocidade das investidas que o Liverpool faz. Além disto, o Flamengo deve seguir com seu ímpeto de buscar o jogo mais aberto, mais veloz.


L!: A "quebra de paradigmas" é uma expressão muito utilizada para definir o Flamengo. A que você atribui este salto da equipe rubro-negra em 2019?

Ah, foi fundamental o Jorge Jesus ter encontrado um elenco de qualidade à sua disposição. Mantém uma regularidade, e todos os jogadores do Flamengo têm condições de estar na Seleção Brasileira... Coletivamente, o Rubro-Negro está no mesmo nível de grandes europeus. Friso, no aspecto coletivo, mas não no comparativo. Jogador por jogador, os Reds ainda se mostram superiores.


L!: O que ainda faz diferença do Flamengo e também do futebol brasileiro em relação ao Liverpool e a outros clubes europeus?

Pelo nível de jogadores que o Liverpool tem ao seu alcance no mercado. O próprio Roberto Firmino é titular na Seleção Brasileira e em qualquer time do mundo, e suas características funcionam melhor no Liverpool do que na equipe do Tite. Salah é um jogador fora de série, Alisson está em grande fase... Os dois laterais são os melhores do mundo. É um time fascinante. O elenco até tem alguns contrastes, assim como ocorre com Barcelona e Real Madrid, por exemplo. Mas os 11 titulares são fundamentais e “sobram”.



L!: Acredita que o contraste entre futebol europeu e brasileiro venha diminuindo com estas novidades no mercado nacional?

Olha, entre os clubes é bem pouco. O Flamengo é um ponto fora da curva, devido a todo o investimento que fez, à maneira como se estruturou e sanou as suas dívidas. No geral, o abismo é muito grande. Quanto às seleções, ainda há um pouco de equilíbrio, a ponto de sul-americanos passarem de fase em Mundiais.

'O Flamengo é um
ponto fora da curva,
devido a todo o
investimento que
fez. Mas, no geral, o
abismo é muito
grande', opina Tostão sobre o contraste entre futebol brasileiro e disputado na Europa

L!: Esta edição do Campeonato Brasileiro foi marcada tanto pelo grande trabalho do Jorge Jesus quanto pela maneira como Jorge Sampaoli comandou o Santos. Acha bem-vinda a chegada de técnicos estrangeiros ao futebol nacional?

Sim, mas estas características que ambos mostraram não são propriamente o padrão de jogo que é comum no exterior. Jesus e Sampaoli fazem parte de uma escola que tem nomes como Pep Guardiola, o Jürgen Klopp... São poucos técnicos que implementam a pressão o tempo todo, o jogo intenso, da maneira como o Flamengo vem atuando sob o comando do Jorge Jesus. É só ver que, há trabalhos de treinadores como o Carlos Queiroz e do próprio José Mourinho, que durante muitos anos se consagrou com um estilo de jogo que é totalmente diferente.


L!: Por que acha que o trabalho de Jorge Jesus mexeu com os brios dos técnicos brasileiros?

É uma defesa deles diante dos elogios que veem ao trabalho tanto do Jesus quanto do Sampaoli. Na verdade, durante muitos anos, predominou no Brasil a postura das equipes se contraírem, se defenderem em busca de uma bola que culminasse em gol. Alguns técnicos não querem aceitar que a postura ofensiva, mais ousada, pode voltar a ter espaço aqui no Brasil.

'São poucos técnicos que implementam a pressão o tempo todo, o jogo intenso, da maneira como o Flamengo vem atuando sob o comando do Jorge Jesus' (Marcelo Cortes/Divulgação Twitter Flamengo)

L!: Neste momento, algum outro técnico no futebol brasileiro tem chamado sua atenção?

O trabalho do Rogério Ceni no Fortaleza tem sido muito promissor. O Tiago Nunes é outro nome que me chamou muita atenção. O Athletico-PR é um time que joga em uma velocidade maior, e conseguiu um crescimento impressionante.

L!: Como foi ver o Cruzeiro, clube ao qual você dedicou quase toda sua carreira como jogador, amargar um inédito rebaixamento no Campeonato Brasileiro nesta temporada. Em especial da maneira como o descenso da equipe aconteceu?

Creio que para os cruzeirenses e, até para quem não é cruzeirense, foi um momento muito forte. A impressão foi de que o time achou que sairia da zona de rebaixamento quando bem quisesse. Mas de repente, quando a equipe viu, não tinha mais volta. Naquele momento, estava configurada a falta de confiança e a queda técnica dos jogadores. E, agora que o descenso aconteceu, ficaram cada vez mais claras a falta de estruturação, a série de irregularidades... Mais do que pensar em uma volta à Série A em campo, é pensar em uma reestruturação financeira. O Cruzeiro não pode amargar anos de penúria devido à série de gastos que teve anteriormente. O Flamengo é um exemplo disto, uma vez que soube se reestruturar financeiramente e chegar aonde chegou. Não dá para a equipe celeste depender do Governo ou de um mecenas para reagir.

'A safra é de qualidade, mas o Brasil não tem nenhum jogador excepcional', afirma Tostão sobre a Seleção comandada por Tite


L!: Qual é a sua impressão sobre o momento da Seleção Brasileira?

É nítido que Tite está em fase de testes, e não em um momento ruim, como muitos dizem. Os jogadores são praticamente os mesmos da conquista da Copa América. Só acho que a equipe ainda não se acertou em alguns setores ainda.

L!: O que falta o Tite ajustar para a Seleção engrenar?

Não gosto da maneira como o Coutinho vem sendo escalado por Tite na Seleção. Cabe ao treinador resolver ainda no decorrer de 2020. Vamos ver se, com a volta do Neymar, a situação fica diferente. Agora, não vejo motivos para tantas críticas ao Tite. O Brasil tem uma safra de qualidade, especialmente ofensiva, mas nenhum jogador é excepcional. É bem verdade que Roberto Firmino é talentoso, mas ainda não se encaixou na equipe. Richarlison é bom jogador, mas atua em time médio no exterior, o Gabriel Jesus tem altos e baixos no próprio Manchester City... Além disto, o trio de meias neste segundo ciclo ainda não está bem definido.

L!: Qual é a sua perspectiva para o futuro da equipe canarinha?
A Seleção vai passar nas Eliminatórias, mas sempre encarando jogos duros. Os sul-americanos melhoraram muito nas últimas décadas, acirraram as disputas. Um reflexo disto é a Copa América, na qual o Brasil empatou dois jogos na fase de grupos. E, depois, a Seleção Brasileira empatou com a Colômbia e perdeu para o Peru em amistosos. Na Copa de 2018 mesmo, a Seleção perdeu para a Bélgica, que tinha jogadores muito talentosos, como De Bruyne e Hazard, superiores à equipe brasileira. Não foi algo incomum.

Às vésperas do 50 anos do tricampeonato mundial, Tostão fala sobre a geração de ouro: 'Foi revolucionária' (Foto: Reprodução)

L!: Em 2020, o Brasil vai celebrar 50 anos do seu tricampeonato mundial. Por que acha que a sua geração segue tão impactante para o futebol mundial?

Ah, foi um acontecimento marcante, com Pelé em um momento excepcional, outros nomes em grande fase, e uma Seleção revolucionária... O Zagallo trouxe conceitos muito importantes tanto para nós quanto para o futebol mundial. Ele nos ensinou a diminuição dos espaços ao adversário, a necessidade de alternar troca de passes. Tanto que nomes como Jürgen Klopp e Pep Guardiola adotam esta postura até hoje. Foi deixado um grande legado.