Campeão do mundo em 2002 e hoje embaixador da Betfair, Rivaldo voltou a reforçar seu posicionamento contrário ao VAR ao comentar o estudo divulgado pela casa de apostas. Segundo o ex-meia, a tecnologia não trouxe a confiabilidade prometida e ainda está longe de representar uma evolução efetiva na arbitragem.
O debate sobre o recurso ganha força quando comparado ao cenário anterior à Copa do Mundo de 2014, no Brasil, período em que decisões equivocadas não podiam ser revistas e tinham potencial para alterar o resultado de uma partida e até de um torneio inteiro.
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Rivaldo resgatou lances marcantes de sua trajetória na Seleção para ilustrar como a tecnologia poderia ter influenciado resultados em diferentes direções. O ex-meia citou episódios de 2002 e de 2018 que, na avaliação dele, mostram que o VAR até poderia corrigir certas injustiças, mas também evidencia que a ferramenta ainda repete falhas semelhantes às do período anterior à sua criação..
— Teve o jogo da Copa de 2002. Hoje posso dizer que aquela bola do Luizão, no lance do pênalti contra a Turquia, foi fora da área. Claro que não tinha como voltar naquele momento, porque não existia VAR para analisar. Pensando rápido, tem também o gol que tomamos contra a Bélgica. O VAR poderia analisar e dizer: 'não foi falta'. Ele apenas cabeceou, não empurrou o Roque Júnior. E o gol valeu. Com o VAR, esse lance poderia ter sido visto de outra forma, assim como aquele pênalti que o árbitro marcou em 2002 numa bola que foi fora da área. Então existem situações dos dois lados — disse Rivaldo.
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— É claro que, se tivesse VAR nesses lances, tanto o da Turquia quanto o da Bélgica, as seleções prejudicadas diriam hoje: 'se o VAR existisse, isso não teria acontecido'. Em alguns casos, sim, o VAR evitaria o erro. Em outros, não. Porque hoje a gente vê acontecer coisas parecidas com as de antigamente. O VAR está se equivocando em lances em que não deveria se equivocar — completou.
A malandragem do brasileiro e o VAR
Rivaldo avaliou que a presença do VAR desde as primeiras Copas do Mundo não mudaria de forma significativa a essência competitiva do Brasil, mas reconheceu que a tecnologia teria impacto direto em um aspecto tradicional do futebol sul-americano: a malandragem. Segundo ele, brasileiros e argentinos sempre se destacaram pela capacidade de usar a astúcia a seu favor dentro de campo, algo que o VAR tentou coibir, ainda que nem sempre com sucesso.
—No Brasil, o futebol sempre teve a malandragem. Jogadores brasileiros e argentinos sempre tiveram isso. E o VAR acabou tirando muito dessa malandragem. Ou pelo menos tentou tirar. Mas, mesmo assim, quase todos os jogadores do mundo ainda têm sua malícia, mesmo com o VAR. Tem jogador que cai sabendo que não foi pênalti, que coloca a mão, que tenta simular alguma coisa — afirmou.
— Isso já vem da formação, é a malandragem do futebol. Eles tentam colocar o VAR para impedir isso, mas o jogador já tem essa malícia, essa vontade de buscar uma situação para enganar o árbitro ou o adversário. Sempre teve e continua tendo. Até hoje, mesmo com o VAR, os jogadores pedem pênalti em lances que eles sabem que não foram nada, sabendo que o VAR vai analisar. Eles vão buscar o pênalti porque faziam isso antes, e ainda conseguem enganar, tanto o árbitro quanto o VAR, com seis, sete pessoas trabalhando — concluiu.
Falhas no VAR
Rivaldo também criticou a distância entre a teoria e a prática no uso da tecnologia, afirmando que o VAR não elimina a influência humana nem evita polêmicas. Para ele, mesmo com equipes numerosas e acesso a múltiplas câmeras, a ferramenta ainda apresenta falhas grosseiras e repete equívocos que já aconteciam no campo.
— A Betfair identificou que 26 lances poderiam ter interferido nos jogos e decisões, fazendo uma análise fria do jogo. No entanto, o VAR também se equivoca, da mesma forma que o árbitro de campo errava antes. Hoje, o árbitro e a equipe de seis ou sete pessoas lá em cima ainda não conseguem enxergar o que acontece em campo. Mesmo com a tecnologia e as imagens, vemos erros absurdos. Às vezes, as pessoas que trabalham no VAR nunca jogaram futebol. Sou contra o VAR por isso: em alguns lances, acerta, mas em outros, a polêmica continua, como era antigamente, acontece do mesmo jeito — destacou.
— Sou contra essa tecnologia. O futebol tem que ter emoção, malícia, mas eles quiseram tirar isso do jogo, essa malandragem. O VAR deveria corrigir os erros, mas, mesmo com ele, eles continuam. Há lances de pênalti que o VAR analisa e concede, mas que, na verdade, não foram. E vice-versa. Muitas vezes, lances simples não são detectados corretamente — concluiu.