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Luiz Gomes: ‘Promessas de um novo futuro no Botafogo x realidade’

'Honda não pode ser visto como o salvador. Sobre suas costas não podem ser depositadas expectativas e responsabilidades maiores do que ele sua contratação representam de fato'

Chegada de Honda ao Botafogo alavancou vendas de camisas e número de sócios (Foto: Vitor Silva/Botafogo)
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Em 2012, o Botafogo surpreendeu o mundo da bola ao anunciar a contratação do holandês Clarence Seedorf, multicampeão na Europa em clubes como o Ajax, o Real Madrid e o Milan. Quando as notícias começaram a surgir, pouca gente acreditava que era uma negociação para valer. Mas o clube realmente mostrou a que vinha, ganhou espaço na mídia internacional, fez renascer a paixão e a vontade de torcer que andavam lá meio adormecidas entre seus fãs.

A era Seedorf durou dois anos. E teve méritos. O holandês fez 24 gols em 81 partidas disputadas, conquistou a Taça Rio, a Taça Guanabara e o Campeonato Carioca de 2013. Sob sua batuta, o alvinegro conseguir vaga na Libertadores, após um período de 17 anos de jejum. Casado com uma brasileira, o craque fez do Alvinegro seu último clube como jogador, aposentando-se no começo de 2014 para assumir como técnico do Milan, onde teve passagem apenas mediana no cargo de treinador.

Agora, sete anos depois, o Botafogo volta a surpreender ao buscar o japonês Keisuke Honda. É uma tentativa de repetir o fenômeno Seedorf. Mas, se o entusiasmo da torcida tem ares semelhantes - com festa no aeroporto, mais de 10 mil pessoas na apresentação e gritos de arquibancada em homenagem ao novo reforço - o futebol de Honda não tem como ser comparado com o do holandês. Em comum, os dois têm apenas a passagem pelo Milan e pela seleção de seus países. Seedorf era um gênio da bola, Honda algo um pouco acima da média.

Mas, a bem da verdade, a comparação é insignificante neste momento. Em meio à transição do Botafogo para o modelo empresarial - aprovada nos conselhos do clube apesar de ações judiciais que tentam parar ou interferir no negócio, como por exemplo impedindo a transferência do Nilton Santos para a nova empresa - a chegada de Honda é um sinal positivo, um movimento interpretado pelos torcedores, como o prenúncio de que uma nova era de fato pode estar se iniciando.

Esse otimismo tem um preço - e alto - para quem ainda vive o Botafogo do presente. A conta mais alta foi paga - com juros - pelo técnico Alberto Valentim, jogo após jogo hostilizado pelos botafoguenses e demitido após o fiasco do fim de semana com a derrota de 3 a 0 para o rival Fluminense e a eliminação das semifinais da Taça Guanabara. Valentim estava mal. Mal na armação do time e no discurso – foi simplesmente patética sua comemoração, como se fosse um grande feito, da classificação do alvinegro na Copa do Brasil depois de um suado empate com o Caxias. Mas, convenhamos, não se podia esperar dele que levasse o Botafogo muito longe com o elenco que tem, como se todos os problemas dentro e fora do campo pudessem ser resolvidos apenas como as promessas de um novo futuro.

Os irmãos Moreira Salles, ideólogos e patrocinadores da revolução branco e preto desde o início deixaram claro que a montagem de um time para ser campeão é um passo seguinte à reestruturação administrativa, à equalização das dívidas e à estabilização financeira com o equilíbrio de receitas e despesas. Não há intenção entre os investidores de agir como mecenas. E a ordem dessas prioridades estabelecidas sem dúvida é a mais correta, um rumo que aliás trilhou o Flamengo até chegar onde está hoje. É essa sustentabilidade que pode fazer o Botafogo voltar a crescer.

A implementação dessa nova estrutura, aliás, não é o melhor, mas o único, o último caminho que resta ao Botafogo. Afogado, como se sabe, nas maiores dívidas do futebol brasileiro, sufocado por ações trabalhistas e encalacrado para honrar os compromissos do Profut, o programa federal de socorro aos clubes, o Alvinegro, vive à beira da falência. Certamente já teria fechado as portas se atuasse em outro ramo qualquer de negócio.

Honda tem apelo. Nos últimos dias o clube já sentiu os efeitos de sua chegada. Um lote de 10 mil camisas com o nome do japonês está praticamente esgotado e mais 20 mil estão sendo postas à venda. Em um dia, quando a contratação foi confirmada, houve um crescimento de 400% na adesão ao programa de sócio torcedor. A meta é chegar a 40 mil sócios até o final do mês com a estreia do jogador. Mas, e isso é fundamental de ser entendido, Honda não pode ser visto como o salvador, o símbolo da mudança. Sobre suas costas não podem ser depositadas expectativas e responsabilidades maiores do que ele sua contratação representam de fato.