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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 31/05/2021
12:57
Atualizado em 31/05/2021
13:40
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Nesta segunda-feira, o Brasil foi anunciado como a nova sede da Copa América em mais um triste capítulo de uma competição tradicional, fundada em 1916. Após as desistências de Colômbia e Argentina, o país que ultrapassou a marca dos 462 mil mortos pela Covid-19 no último domingo receberá o torneio.

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Para entender como chegamos nesse ponto da história, é necessário lembrar como o campeonato seria realizado. Diferentemente das últimas edições, o evento seria dividido em dois grupos com seis equipes em cada chave, sendo as 10 seleções da América do Sul, além de Qatar e Austrália como convidados.

> Veja a tabela da Copa América

O Grupo A, composto por Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai e Austrália seria disputado somente na terra de Maradona. Enquanto o Grupo B, composto por Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela e Qatar seria realizado no local de nascimento de Higuita, Valderrama e Rincón.

No entanto, a epidemia da Covid-19 iniciada na China, tendo Wuhan como epicentro no final de 2019, tornou-se rapidamente em uma pandemia sem precedentes. O novo coronavírus saiu da Ásia, chegou na Europa e não tardou para aterrisar na América do Sul em 2020.

Primeiros problemas

Com isso, a Conmebol decidiu adiar a Copa América a exemplo do que a Uefa fez com a Eurocopa. Mas a realidade dos continentes é discrepante, pois enquanto assistimos partidas com público nos principais campeonatos do mundo, vivemos um dos piores momentos da pandemia desde o seu início.

Dessa forma, a primeira derrota da entidade sul-americana deu-se com a desistência das participações de Austrália e Qatar, em fevereiro, por conta das restrições de viagens e devido ao apertado calendário do futebol internacional. Falando a grosso modo, a Covid-19 na América do Sul impediu que as seleções convidadas participassem da competição.

Colômbia e Argentina

Mais tarde, a Colômbia viu emergir uma onda de manifestações por conta de uma proposta do presidente Ivan Duque Marquéz em mudar a política tributária no país. Os protestos, que começaram em abril, não cessaram, e as demandas da população aumentam.

No último dia 13 de maio, quando o Atlético-MG viajou para enfrentar o América de Cali em Barranquilla, as manifestações tiveram efeito dentro de campo. O confronto entre povo e polícia fez com que as forças de segurança fizessem uso do gás lacrimogêneio, que afetou atletas ainda no primeiro tempo do duelo. A vergonhosa partida seguiu até o fim com vitória da equipe brasileira, apesar do jogo ter ficado em segundo plano.

Uma semana após a desastrosa partida, a Colômbia anunciou que deixaria de ser sede da Copa América. Com isso, sobraria para a Argentina receber os 10 países da América do Sul e realizar o torneio que tem data marcada para o próximo dia 13 de junho.

No entanto, os hermanos anunciaram no último domingo que não iriam receber o campeonato mais tradicional entre seleções do mundo. O motivo são os crescentes casos no número de pessoas contaminadas pela Covid-19 no país. Na última quinta-feira, por exemplo, a Argentina registrou um número recorde de casos do novo coronavírus: 47.080.

Pão e circo

Em reunião nesta segunda-feira, o Brasil se disponibilizou para sediar a Copa América mais desastrosa da história. Desastrosa tanto do ponto de vista desportivo, mas principalmente do aspecto do descaso e da irresponsabilidade de quem organiza a competição para com os torcedores e toda a população da América do Sul.

O país que registrou a marca de 462 mil mortos no último domingo acredita ter condições para receber um torneio que será disputado concomitantemente com o Campeonato Brasileiro. As cidades que receberão o evento ainda não foram definidas, mas a Conmebol afirmou que divulgará todas as informações em breve.

Em 1918, o Sul-Americano de Football, equivalente a atual Copa América, que seria disputado no Rio de Janeiro foi adiado e realizado seis meses depois em 1919 por conta dos casos da gripe espanhola. O estado fluminense registoru cerca de 600 mil doentes (dois terços da população à época), além do período ter registrado a morte de alguns jogadores.

Mais uma vez, a política sanitária está sendo posta de lado. A vacinação contra a Covid-19 no Brasil é lenta, os casos aumentam e as mortes não param. Mas o que também não para é a bola rolando no "país do futebol", no país do pão e circo.

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