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Andrew Jennings ao L!: ‘O FBI chegará em Havelange e pegará Del Nero’

Jornalista que denúncia esquemas na Fifa analisa o momento das investigações do FBI e diz que cartolas brazucas vão se complicar ainda mais

Investigações de Andrew Jennings ajudaram a Justiça dos EUA a indiciar vários chefões da Fifa (Foto: Arquivo LANCE!)
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- Não gosto de jornalista esportivo. A maioria é muito conformista quanto o assunto é algo relacionado com a Fifa.

Foi assim que Andrew Jennings recebeu a reportagem do LANCE! para esta entrevista por telefone. O repórter investigativo vem sendo muito procurado nos últimos dias em razão de um documentário que a BBC inglesa transmitiu nesta semana, sobre os recentes escândalos da Fifa. Nele, Jennings é um dos protagonistas, pois durante anos fez matérias e denúncias que agora estão sendo dissecadas pelo FBI e vem ajudando o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que investiga a corrupção no futebol e, até o momento, já indiciou 35 personagens do alto escalão do mundo da bola. O documentário é intitulado “FIFA, Sepp Blatter e eu”.

O programa desta semana foi uma atualização de um documentário que a mesma BBC fizera com Andrew Jennings, "A Fifa e o jogo sujo", em 2010, mostrando negócios sombrios da entidade.

Um dos destaques do documentário ocorreu quando Jennings revelou uma carta inédita - cuja fonte ele não citou - na qual João Havelange, ex-presidente da Fifa entre 1974 e 1998, confirmava que Joseph Blatter Blatter sabia de toda a transação envolvendo a Fifa e a ISL, empresa que nos anos 90 distribuiu propinas na ordem de US$ 100 milhões (R$ 200 milhões na época) para ter direitos de transmissão das Copas do Mundo.

Além de Havelange, o Brasil é muito citado no documentário. Em certo momento, Jennings aparece no Maracanã, com a torcida do Flamengo ao fundo, e diz:

- Está vendo os apaixonados aqui? Essa paixão foi roubada pelos dirigentes - diz, para depois voltar a centrar fogo em cima de João Havelange e o ex-presidente da CBF e ex-vice da Fifa Ricardo Teixeira, lembrando que na virada do século, quando ocorreu a CPI da Nike, Blatter não gostou de ver seus amigos sob fogo dos políticos em Brasília e ameaçou banir o Brasil das competições se a CPI "desse resultado". No fim, a comissão parlamentar pouco avançou.

O documentário mostra o quanto a Fifa odeia Jennings, que há anos está banido de entrar na sede da entidade, em Zurique. Em certo momento do documentário, o repórter cerca Sepp Blatter na entrada do prédio da Fifa. O chefão da entidade o ignora. Depois, vai até Jack Warner, o ex-todo poderoso da Concacaf e superenvolvido em corrupção.

- Não falo com você. Aliás, eu tenho vontade de cuspir em você - disse Warner, sem olhar para Jennings.

- Por quê? - retrucou o jornalista.

- Você é um lixo - conclui Warner, um dos 35 indiciados pelo Departamento de Justiça.

Este é Andrew Jennings, um septagenário que tem certa dificuldade para se locomover e distribui poucos sorrisos, mas que gosta de gastar sola de sapato para investigar a Máfia da Fifa.

- Vamos ser rápidos nesta entrevista, estou meio doente e nem quero falar muito - disse Jennings. Mais uma vez curto e grosso.

Numa das perguntas do Diário, o inglês disse que Havelange já entrou na alça de mira do FBI e logo tudo ficará escancarado. E que Ricardo Teixeira e a "sua cria", Marco Polo del Nero, não devem estar dormindo bem.

- Marco Polo anda meio nervoso com o FBI atrás do dinheiro que ficou com ele nessas transações - ironizou o escocês.

Eis abaixo as respostas secas e curtas deste papo com o jornalista que os chefões da Fifa mais odeiam:
L!: É possível reformar a Fifa ou a casa tem de vir abaixo, dando lugar a uma nova entidade?

AJ: Quando o FBI terminar as investigações não vai sobrar nada. As pessoas parecem que não se dão conta de que tudo não passa de crime organizado. Não é apenas um assalto ou um roubozinho. É algo bem mais sério do que isso.

L!: Você acha que Sepp Blatter vai acabar se aposentando ou será preso?

AJ: Acho que Blatter vai parar na prisão. O prestígio dele acabou há muito tempo.


L!: O também afastado presidente da Uefa, o francês Michel Platini, pode sobreviver?

AJ: Não. Ele também é membro deste sindicato do crime organizado.

L!: Há cinco candidatos para concorrer à nova eleição da Fifa: o Príncipe Ali Al Hussein (Jordânia) e Tokyo Sexwale (África do Sul), que são nomes da oposição; Sheikh Salman Bin Ebrahim Al Khalifa (Bahrein) e Jerome Champagne (França), que são mais próximos à situação; Gianni Infantino (Suíça), secretário-geral da UEFA que acabou herdando o lugar de Michel Platini e vem como candidato apoiado pela entidade europeia. Na sua opinião, quem é que está mais preparado para ser o novo presidente da Fifa?

AJ: Quem disse que vai ter eleição? Joseph Blatter? Não importa mais o que eles da Fifa acham, é irrelevante.

L!: Mas o futebol é paixão mundial. Não vai ter ninguém tomando conta?

AJ: Com certeza vai ter alguém. Mas não sei nem quem é. E não me importo com isso. Eu só sei que vai aparecer alguém.


L!: Podemos concluir que o FBI está fazendo bem ao futebol?

AJ: Sim, prestam um grande serviço. E quero lembrar que o FBI está envolvido nestas investigações há tempos, mas as pessoas não se dão conta. Já estava nesta trilha antes de me procurar (NR: para que Jennings desse provas ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos).

L!: No documentário da BBC que foi ao ar na segunda-feira passada, você lê a carta em que o ex-presidente da Fifa João Havelange conta que o Blatter sabia do pagamento de propinas para a ISL – empresa que comercializava os direitos de TV e acabou falindo. Para quem era a carta?

AJ: Eu não sei para quem era endereçada, mas estou seguro de que foi para as autoridades da Suíça a pedido dos americanos que queriam saber de todos os detalhes destas transações.

L!: A maioria dos indiciados e presos vem da América do Sul e do Caribe. Conmebol e Concacaf. Eles são mais corruptos do que outras autoridades do futebol ao redor do mundo?

AJ: O senhor Joseph Blatter deu a eles ‘carta branca’ para que fizessem o que bem entendessem. Eles fazem parte do crime organizado e temos de esperar para ver.

L!: O presidente afastado da CBF Marco Polo del Nero está tentando escapar da mira da Fifa?

AJ: Ele é mais um daqueles que está vivendo de baixarias. É acusado de crimes sérios. Até agora Del Nero escapou. Mas isso não vai durar muito tempo. Mais cedo ou mais tarde vão pegá-lo.

L!: O mesmo vai acontecer com Ricardo Teixeira?

AJ: Sim.

L!: Você gosta de dizer que a Fifa é que é igual a Máfia…

AJ: É óbvio que é: um grupo que lida com crime organizado.

L!: Na última reeleição, Blatter disse que era a pessoa certa para ‘tocar o barco’ mas a Fifa agora aparece mais um navio afundando?

AJ: Veja o seguinte: o Blatter é um trambiqueiro que vive no mundo da lua e o que ele diz não precisa mais ser levado a sério. Acabou.

L!: O destino final vai ser igual ao do Titanic?

AJ: Certamente. Gostei desta metáfora.

L!: Porém, poucas pessoas foram presas até agora acusadas de pagar as propinas em troca de direitos de TV. Na sua opinião, haverá novas prisões?

AJ: Escute bem: é preciso esperar para ver o desenrolar das investigações. Elas ainda não acabaram. A gente tem de ser paciente. Tem muita coisa ainda.

L!: O total de indiciados está na casa dos 35....

AJ: Sim, com certeza vai ter muitos – e de outros continentes.

L!: Uma autoridade do FBI, Michael Herschman, disse a você que era preciso ‘limpar o ninho de ratos’. Esta missão do FBI vai um dia chegar ao fim?

AJ: Vai sim, com certeza. Só que mais uma vez a imprensa fica querendo adivinhar o futuro. Na verdade isso já não importa mais. A missão está chegando ao fim.

L!: E os patrocinadores da Fifa? Na sua opinião eles deveriam ser mais eloquentes e incisivos?

AJ: Eles fazem um grande negócio, o futebol é um grande negócio. E no fundo só estão interessados em proteger o dinheiro deles.

L!: Por fim, como a corrupção no Brasil envolvendo políticos e empresários que foram presos pode ser comparada com a crise na Fifa?

AJ: A corrupção na vida pública brasileira é algo separado do que está acontecendo na Fifa. Não dá para juntar as duas coisas.