Após 14 anos de Corinthians, goleiro dirige Uber enquanto aguarda chance

Ravi defendeu a base do Timão até abril de 2015, quando o contrato se encerrou. Ele busca um novo clube desde então, e encontrou uma maneira 'atual' de equilibrar as suas contas

Ravi, ex-Corinthians
Melhor goleiro sub-17 do mundo em 2011 espera por nova chance no futebol (Foto: Gabriel Carneiro)

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Estádio do Pacaembu, 25 de janeiro de 2012, final da Copa São Paulo de Juniores, principal torneio brasileiro de categorias de base. Corinthians e Fluminense empatavam em 1 a 1 quando o goleiro titular do time paulista precisou ser substituído com dores, aos 33 minutos do segundo tempo. Diante de quase 40 mil pessoas, Ravi saiu do banco de reservas com uma missão complicada: seriam pouco mais de dez minutos em campo, e qualquer falha poderia selar a perda do título da Copinha. Tranquilo apesar da pressão, o garoto lembra de ter trabalhado pouco naquele tempo interminável... Ainda mais interminável depois que o zagueiro Antônio Carlos balançou as redes do Flu e colocou o Timão em vantagem no placar. Com Ravi no gol, o Corinthians foi campeão da Copa São Paulo de 2012. E o tempo passou.

Zona Leste de São Paulo, algum dia de março de 2016, fim de tarde. Pouco antes de voltar para Jundiaí, cidade onde vive, Ravi nota um chamado do CT Joaquim Grava para uma corrida até a Zona Norte, onde fica a redação do LANCE!. Quatro anos depois de ser campeão da Copinha como titular, ainda que por alguns minutos, da meta do Corinthians, o goleiro voltou ao local onde treinou ao lado de Ronaldo Fenômeno sem calçar suas luvas. Seu novo material de trabalho é um carro prateado munido na parte interna de copos d'água, balinhas, amendoim, revistas e carregador de celular. 

Enquanto aguarda um novo clube para seguir a carreira após a saída do Corinthians, Ravi tem equilibrado as contas com uma ferramenta bem atual. Há pouco mais de um mês, ele dirige um carro da Uber pelas ruas de São Paulo. 

Ravi, ex-Corinthians
Goleiro foi do Timão entre 2001 e 2015 (Foto: Agência Corinthians)

- O tempo foi passando e a gente sem clube, sem receber. Você acaba precisando de dinheiro, não tem jeito, todo mundo precisa. Eu conheci o Uber no fim do ano passado e vi que dava para ser motorista, mas de início tinha uma burocracia, um cadastro gigante, aí deixei meio de lado. Mas passou um tempo, a situação foi apertando, e eu dei uma olhada de novo. Aí fiz tudo e acertou isso. Estou meio que no começo, aproveitando meu tempo livre, em que não estou treinando e nem na academia, como uma forma de ganhar dinheiro. Por enquanto está dando certo, mas é temporário para eu me manter até aparecer algo - explica Ravi, em entrevista ao L!.

A desconfiança de Ravi não é à toa, pois o Uber ainda é uma novidade no Brasil. O sistema de transporte privado que nasceu em 2009, nos Estados Unidos, chegou ao país só em 2014, e rapidamente ganhou a antipatia dos taxistas tradicionais, que jamais tiveram um concorrente tão forte. Pelo aplicativo do Uber nos dispositivos móveis, o passageiro é localizado geograficamente e solicita um veículo para atendê-lo. Alguns dos benefícios do serviço em relação aos táxis é a inexistência de cobrança extra em horários noturnos ou trocas de cidades, por exemplo. O Uber está cada dia mais popular, e Ravi entrou de cabeça na onda.

'Tudo que eu for fazer eu vou tentar fazer da melhor forma possível, e aprendi isso dentro do Corinthians', Ravi

- O marketing me fez abrir a cabeça para muita coisa, e o Uber foi uma coisa que revolucionou aqui no Brasil e me chamou atenção nesse lance de transporte. Por toda a repercussão que deu, confusão com taxista, foi uma divulgação. O negócio é tratar a pessoa da melhor forma possível. Cada motorista é dono do seu próprio negócio dentro do Uber, e a gente depende disso, de atender bem para ter boa avaliação e continuar operando. Tudo que eu for fazer eu vou tentar fazer da melhor forma possível, e aprendi isso dentro do Corinthians - cita o goleiro.

Goleiro, sim, porque Ravi não parou de jogar futebol profissionalmente. Ele está apenas sem clube no momento, mas tem chances de acertar o destino nas próximas semanas. Cliente do escritório do empresário Cláudio Guadagno, ele tem conversas avançadas com um clube da Finlândia. Enquanto aguarda a resolução das burocracias envolvendo seu passaporte comunitário e detalhes da transferência, o Uber é a ferramenta que tem mantido as contas em dia.

Ravi, ex-Corinthians
Goleiro está com 21 anos atualmente (Foto: Gabriel Carneiro)

O início, a chegada ao Corinthians e o auge

Filho de um ex-goleiro que não fez muito sucesso além das fronteiras do Piauí, Ravi começou a jogar futebol aos 4 anos com a camisa do Nacional de Jundiaí. Apenas três anos depois, foi observado por olheiros do Corinthians durante um torneio na própria cidade e começou a treinar no time de Parque São Jorge. Depois de um ano no futebol de salão, o menino iniciou a trajetória no campo em 2001. De 2001 a 2015 foram 14 anos sob contrato com o Timão.

Neste período, o auge de Ravi foi entre 2011 e 2012. Além da participação na Copa São Paulo como reserva de Matheus Vidotto, o goleiro foi titular da campanha do Mundial de Clubes sub-17 de 2011, quando o Corinthians bateu o Barcelona e foi campeão. Ali, o goleiro de Jundiaí foi eleito como o melhor da posição daquela categoria no mundo. Depois do Mundial, Ravi ainda esteve em um torneio no Canadá com destaque, e logo depois subiu para o sub-20.

Em diversos momentos, Ravi treinou com os profissionais do Corinthians, participando inclusive de intertemporadas ao lado dos outros jogadores da posição no clube, como Julio Cesar, Danilo Fernandes, Cássio e Matheus Vidotto. O contrato acabou em abril de 2015, após dois empréstimos ao Flamengo de Guarulhos, e não foi renovado.

Ravi, ex-Corinthians
Goleiro conheceu o mundo no Timão (Foto: Reprodução)

Vai pra onde?

Encerrado o contrato com o Timão, Ravi não esperava ficar muito tempo parado. Tanto que ele logo passou por um período de treinos com a camisa do Ituano. A ideia era de que ele integrasse o elenco da equipe do interior paulista na disputa de torneios regionais no segundo semestre de 2015 e neste ano fosse um dos goleiros do Paulistão e da Copa do Brasil. Não deu certo. Outras possibilidades, em clubes como Ceará, Capivariano e até o Paulista de Jundiaí também foram consideradas, mas sem sucesso.

Enquanto espera por um convite definitivo para retomar atividades, Ravi treina na escola de goleiros Muralha, em Jundiaí, três vezes por semana. Ele também faz academia diariamente para manter a forma e estar apto ao novo clube.

'Infelizmente não dá para saber quando, mas espero que logo logo a gente volte à ativa, eu ganhe meu espaço de novo e faça minha carreira subir'

- Até um tempo atrás não pensava dessa forma, mas hoje consigo: tudo tem um motivo. se até hoje não acertei alguma coisa é poque tem algo melhor por vir. Com o tempo que passa a gente entende porque certas coisas acontecem. Hoje meu pensamento é de entender o que está acontecendo e viver, mas em breve quero voltar a fazer o que sempre gostei e quis. Infelizmente não dá para saber quando, mas espero que logo logo a gente volte à ativa, eu ganhe meu espaço de novo e faça minha carreira subir de novo, construir a história que eu sempre sonhei. Preciso estar preparado, treinando, para quando tiver a oportunidade eu conseguir aproveitar bem e não parar mais - reflete.

Até lá, as ruas de São Paulo terão um motorista cinco estrelas circulando por aí. Ou seis, se a gente contar a Copa São Paulo de 2012. De repente até sete, se for considerado o Mundial sub-17 de 2011...

BATE-BOLA com RAVI
Ex-goleiro do Corinthians, ao L!

Ravi, ex-Corinthians
Goleiro não conseguiu sequência no profissional (Foto: Ag.Corinthians)

Para começar, queria que você contasse um pouco da sua trajetória como goleiro...
Eu comecei a jogar futebol com quatro anos de idade, no Nacional de Jundiaí. Com sete eu joguei uma competição contra o Corinthians, eles gostaram de mim, conversaram comigo e meu pai e fui para o Corinthians em 2001. Fiquei um ano no salão e no ano seguinte começou o primeiro no campo, eu era um dos mais novos da categoria. Aó fui subindo de categoria e completei 14 anos de Corinthians. Comecei a jogar na linha, não era goleiro, mas não tinha muita habilidade, então tentei no gol e deu certo. Meu pai também foi goleiro, meio que já estava no sangue. Ele chegou a jogar em alguns clubes de base e no futebol do Piauí, mas com 23 anos ele encerrou e focou em família, outras coisas profissionais. Na época que eu comecei, ele era o treinador do time, então mesmo não jogando mais ficou no meio do futebol. Mas foi só pouco tempo.

E qual a importância do Corinthians nesse processo todo?
Tudo que eu tenho e sou hoje agradeço principalmente ao Corinthians. Lá que eu fui realmente conhecer e viver o futebol, aprender tudo. Da primeira vez que eu treinei lá comecei a aprender as coisas. Dos 7 aos 21 anos, aprendi tudo, da parte técnica de ser goleiro à parte como pessoa, eles me auxiliaram a me tornar um homem. Parte de educação também. Mas foi muita experiência no meio do futebol, cheguei a treinar com o Ronaldo na minha época de profisional. Foi um privilégio enorme. Tudo que eu conheço de futebol hoje, e a experiência que tenho, agradeço muito ao Corinthians, que me tornou o que sou hoje.

'Cheguei a treinar com o Ronaldo na minha época de profissional. Foi um privilégio enorme. Tudo que eu conheço de futebol hoje, e a experiência que tenho, agradeço muito ao Corinthians'

A Copa São Paulo de 2012 foi seu auge?
Aqueles dois anos, entre 2011 e 2012 foram os meus melhores anos. Antes da Copa São Paulo eu havia sido campeão mundial sub-17 na Espanha, fomos campeões em cima do Barcelona e eu fui o melhor goleiro do Mundial. Em seguida fomos campeões de um torneio no Canadá, e logo depois estive na Copa São Paulo. Aí eu estava no banco até a final e na final o Matheus machucou, eu tive a oportunidade de entrar. Ali foi o principal, o de mais importância para mim. Não só por ser final, mas Pacaembu lotado, jogo empatado quando eu entrei, qualquer falha poderia ser fatal. O jogo estava encaminhando para os pênaltis até que aos 43 saiu o nosso segundo gol e fechamos, não podia passar nada. Eu, de fora, estava bem mais nervoso do que quando entrei. Fora você quer ajudar, mas não pode fazer nada, e do campo você vive o clima, parece que esquece tudo e foca só no jogo. Acredito que entrei bem concentrado e a pressão não me atrapalhou.

Você também jogou emprestado ao Flamengo de Guarulhos. Como foi?
Fui em 2013 para jogar a Série A3 e fiquei em 2014 também, emprestado pelo Corinthians. Foi bom como experiência, primeiros campeonatos profissionais que eu tive. Aquele clima de disputar campeonatos foi inédito, uma experiência que eu não tinha tido. O Corinthians trata o Flamengo de Guarulhos como um Corinthians mesmo, até material de treino, só muda a camisa, para aproveitar jogadores não utilizados e tal. Em 2014 voltei para o sub-20 do Corinthians, mas fui reemprestado ao Flamengo para jogar a A3 de 2015. Mas aí devido a coisas dos bastidores eu não disputei o campeonato.

O que aconteceu?
Até novembro estavam contando comigo para fazer parte do elenco da A3. Em dezembro eu estava machucado e perguntaram da minha lesão, porque contavam. Aí depois contrataram um goleiro mais velho, que veio do Rio de Janeiro para ser titular. Mas aí eram ele, eu e mais um 95. De última hora contrataram um goleiro do XV de Piracicaba e optaram por ele. Meu contrato já estava para acabar e preferiram não renovar, então fiquei só treinando. 

Ravi, ex-Corinthians
Campeão da Copinha de 2012 pelo Timão (Foto: Reprodução)

E de repente os dois contratos, com Flamengo e Corinthians, terminaram?
Acabou um pouco antes do fim da Série A3 de 2015 e eu comecei a ver minhas coisas. Meu contrato com o Corinthians acabou em abril de 2015 e conversamos para ver o que seria feito. Fiquei um tempo no Ituano, mas eles passaram de fase na Copa do Brasil e não renovaram o elenco, como era esperado. A intenção era que eu ficasse lá, mas como os goleiros renovaram não teve como. Depois não fui mais para nenhum clube. Tive algumas propostas, mas nada valeu a pena realmente. Hoje faço treinamento específico de goleiro no Muralha, academia de goleiros do Victor, do Atlético-MG. Treino de três a quatro vezes por semana, para manter a forma até aparecer alguma coisa. Junto com isso estou fazendo academia para manter o máximo que puder a forma física.

Teve alguma proposta nesse quase um ano parado?
Esse ano apareceu Série A1, A2 e A3. Paulista de Jundiaí fez uma parceria com um grupo de empresários de fora, era uma possibilidade que eu tinha no clube da minha cidade e não deu certo. Apareceu Capivariano também, conversei, mas parece que eles preferiram o goleiro do Santos. Vi no Ceará também, mas preferiram outro goleiro da minha idade, então não deu certo. Agora a intenção é ir para fora. Estados Unidos é um mercado que está crescendo bastante, Portugal é uma porta boa também, mas estou vendo agora é pros lados da Escandinávia, Finlândia. Dei entrada no processo do passaporte europeu e está mais ou menos nessa situação.

Quando espera resolver?
Espero que o mais rápido possível. Não esperava que fosse demorar tanto tempo assim. Na verdade, achei que as coisas fossem ser rápidas depois que eu saísse do Corinthians. Achei que no início do ano teria uma coisa certa, mas não aconteceu ainda. Agora quero em março ainda ter algo certo. É torcer e rezar para demorar o mínimo de tempo possível.

Como foram seus treinos no profissional do Corinthians?
Fiz meu primeiro treino com 14 ou 15 anos, aí depois disso sempre ficava um tempo, uma semana, um mês. Fiz bastante treino lá. Em 2012 fiz intertemporada em Extrema, ia ter jogo com o Flamengo, aí fiquei concentrado com o grupo em uma época que eu treinava bastante no profissional. Treinei com o Ronaldo, tive esse privilégio. Foi uma coisa que me marcou. Não tirei foto, por mais que eu tive vontade levei mais para o lado profissional. Sempre encarei assim. Queria ter tirado foto, mas não tirei.

Ravi, ex-Corinthians
Goleiro treina no CT Joaquim Grava (Foto: Ag.Corinthians)

Você conviveu bastante com o Matheus Vidotto na base do Corinthians. Como vê essas chances que ele teve em 2016?
A base inteira joguei com ele, conheço bem. Pela história de superação que ele tem, chegar onde chegou é uma conquista enorme. Ele é um ano mais velho que eu. Quando ele estava no sub-15 eu era do sub-14, sempre uma categoria a mais. Lembro da época em que ele precisou se afastar, quando pensavam que ele não voltaria a jogar, mas conseguiu dar a volta por cima. Na época da Copa São Paulo ele foi bem, e logo em seguida foi efetivado no profissional. Ele está se dedicando e se teve as oportunidades que teve foi por merecimento. Com certeza ele está muito contente, porque o sonho de qualquer um da base é chegar no profissional. Ele conseguir isso pelo Corinthians é sensacional.

Tem contato com ele ou alguém até hoje?
Com o Matheus não muito, só com o pessoal da minha categoria. PC, do Strikers, Ayrton, que está no Tigres. Esses são os que converso mais, até por serem meus parceiros de quarto no alojamento.

É verdade que além do futebol você se dedicou aos estudos nos últimos anos?
Me formei em marketing há um ano e meio. Aproveitei que o clube tem uma parceria com o João XXIII, e quase todos os alojados estudavam lá. Fui para lá no segundo ano do Ensino Médio e me formei lá. Depois eu só treinava, e queria fazer mais alguma coisa no meu tempo livre. Vi um assunto que me interessava e comecei a fazer seis meses depois de sair do colegial. Aí foram dois anos, e tinha algumas facilidades quando precisava viajar para campeonato, treinos. O clube me ajudou a me formar na faculdade.

Por que quis fazer faculdade?
A gente sempre precisa estar com a cabeça aberta para conhecer novas coisas, receber novas informações. Tudo que eu posso aprender eu vou querer saber e conhecer. Achei que era um momento em que eu tinha oportunidade e podia aproveitar. Naquele momento podia não ser útil, mas um dia poderia ser. Como já é. Então aproveitei o tempo livre à noite e fiz. Comecei o primeiro semestre para ver se eu chegaria no segundo, aí entrei no segundo para ver se eu conseguiria ir até o terceiro, aí começou o terceiro e não dava mais para largar. O clube sempre me ajudou, a galera dava uma força quando perdia matéria. Aprendi muita coisa, fora o futebol, através do Corinthians.

'Me formei em marketing há um ano e meio. Aproveitei que o clube tem uma parceria com o João XXIII. Eu queria fazer mais alguma coisa no meu tempo livre. Vi um assunto que me interessava e comecei a fazer depois do colégio'

E foi bem? Conseguiu boas notas?
Sofri bastante para fazer trabalho, desenvolver várias coisas. Eu sempre me interessei por marketing, mas lá dentro fui conhecendo mais. Teve provas que tirei a melhor nota, às vezes me sentia bem inteligente, porque tinha a vida corrida de me preocupar mais com futebol, mas me dei bem, tirei nota boa, fiz trabalhos. Foi importante, porque sempre pensei em abrir um negócio, e um tempo depois que acabou meu contrato com o Corinthians e voltei para Jundiaí e abri minha empresa usando muita coisa que aprendi e via na faculdade.

Do que é essa empresa que você abriu?
Abri um negócio de lavagem ecológica em Jundiaí, mas hoje está parado. Precisava de tempo para me dedicar, e preciso de alguém de confiança para tomar conta, porque a qualquer momento o telefone pode tocar e eu não sei para onde vou. Fazer por fazer não dá.

E como surgiu o Uber na sua vida?
O tempo foi passando e a gente sem clube, sem receber. Você acaba precisando de dinheiro, não tem jeito, todo mundo precisa. Eu conheci o Uber no fim do ano passado e vi que dava para ser motorista, mas de início tinha uma burocracia, um cadastro gigante, aí deixei meio de lado. Mas passou um tempo, a situação foi apertando, e eu dei uma olhada de novo. Aí fiz tudo e acertou isso. Vai fazer um mês que estou, meio que no começo. Estou aproveitando meu tempo livre, que não estou treinando e nem na academia, como uma forma de ganhar dinheiro. Por enquanto está dando certo, mas é temporário para eu me manter até aparecer algo.

E como tem sido sua rotina?
Treino de segunda, quarta e sexta de manhã, vou para a academia e depois venho para São Paulo, fico até à noite. Nos dias em que não treino já venho mais cedo, e tudo depende dos meus compromissos. O bom do Uber é não estar preso com horário, posso encaixar com meus compromissos. Está sendo bom por isso.

Ravi, ex-Corinthians
Título de quatro anos atrás foi especial (Foto: Ag.Corinthians)

Está tendo retorno financeiro?
Está tendo. Eu preferia estar tendo jogando, sem dúvida, mas há uma facilidade de encaixar horários e isso faz valer a pena. Eu também gosto de carro, gosto de dirigir, acaba que para mim vou fazendo, e retorna um dinheiro que está sendo útil para mim. Não é nada demais, mas me mantenho até tocar o telefone e mudar tudo.

Como conheceu o Uber?
O marketing me fez abrir a cabeça para muita coisa, e o Uber foi uma coisa que revolucionou aqui no Brasil e me chamou atenção nesse lance de transporte. Por toda a repercussão que deu, confusão com taxista, foi uma divulgação. Muita gente se indignou com taxista e optou pelo Uber. Quem já conhecia passou a usar mais, e quem não conhecia gostou. E facilitou para muita gente, não só pelo lado econômico, porque a pessoa consegue economizar mais dinheiro, mas também pela qualidade e conforto. O brasileiro gostou e está usando bastante. É um tabu que está sendo quebrado. Muita gente não conhece e tem dúvidas, mas quando começa a usar muda de ideia. Nesse ramo de táxi só existiam eles, e o Uber tomou conta de uma fatia. Mas daqui a pouco vai chegar algo melhor que o Uber e assim vai indo. Com esse avanço da tecnologia muita coisa que tinha antes passa a não ter mais. Você vê muitos jornais fechando, gravadoras de discos, locadoras de vídeo. As coisas vão caminhando, e a tendência é a vida ficar mais prática.

O que o Uber do Ravi tem de diferente dos outros?
Eu tenho como base água e bala, mas sempre penso em um diferencial, porque o marketing que eu estudei me abriu a cabeça. Eu tenho revistas para quem quiser ler, ponho um amendoim, porque às vezes não almoçou, está com fome, tenho encosto para cabeça, teve dia em que coloquei fruta, tem carregador de celular para quem precisa. Serviço completo, cinco estrelas. O negócio é tratar a pessoa da melhor forma possível. Cada motorista é dono do seu próprio negócio dentro do Uber, e a gente depende disso, de atender bem para ter boa avaliação e continuar operando. Tudo que eu for fazer eu vou tentar fazer da melhor forma possível, e aprendi isso dentro do Corinthians. Lá havia uma pressão grande para sempre ganhar, e isso criou meu perfeccionismo, de sempre querer o melhor. Levo isso para minha vida, e tudo que eu fizer vou tentar fazer da melhor forma possível.

Agora, a esperança de conseguir se ajeitar logo no futebol...
Até um tempo atrás não pensava dessa forma, mas hoje consigo: tudo tem um motivo. se até hoje não acertei alguma coisa é poque tem algo melhor por vir. Com o tempo que passa a gente entende porque certas coisas acontecem. Hoje meu pensamento é de entender o que está acontecendo e viver, mas em breve quero voltar a fazer o que sempre gostei e quis. Infelizmente não dá para saber quando, mas espero que logo logo a gente volte à ativa, eu ganhe meu espaço de novo e faça minha carreira subir de novo, construir a história que eu sempre sonhei. Preciso estar preparado, treinando, para quando tiver a oportunidade eu conseguir aproveitar bem e não parar mais.

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