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Colo-Colo, durante ditadura Pinochet, na visão de documentário brasileiro

"Todos Querem Colo-Colo" mostra como o clube luta contra o estigma da ajuda de Pinochet

Colo-Colo está em desvantagem no duelo com o Palmeiras (AFP)
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Adversário do Palmeiras nas quartas de final da Libertadores, o Colo-Colo, time mais popular do Chile, passou por uma intervenção política durante o regime militar do general Augusto Pinochet (entre 1973 e 1990) e até hoje luta para não ser associado à figura do ditador.

Esse é o assunto do documentário "Todos querem Colo-Colo", produzido pelo canal do YouTube "Peleja", parceiro da "Rede Snack". Ele será lançado nesta terça-feira, no Museu do Futebol, no Pacaembu, em São Paulo, durante o Cinefoot, maior festival de futebol e cinema da América Latina, e também no canal.

Antonio Pacheco Jr, diretor de produção do documentário, reforça que o chileno é apaixonado pelo futebol brasileiro, mas admite falta de conhecimento sobre o país vizinho:

- Quando a gente vai para fora do Brasil produzir esse tipo de documentário é bastante comum a abordagem de torcedores locais enaltecendo o Campeonato Brasileiro e nossos clubes. Queremos mostrar ao nosso público brasileiro como é rica também a história de países vizinhos no universo do futebol - disse.

Pacheco foi atrás de personagens que testemunharam a proximidade do governo militar ao Colo-Colo e mostra, também, no documentário, como os jovens torcedores do Cacique e de seu maior rival, a Universidad de Chile, tratam esse assunto delicado para o futebol chileno.

O Estádio Nacional de Santiago - que hoje é a casa da Universidad de Chile, mas já foi palco de jogos históricos do Colo-Colo e da seleção chilena - é um dos símbolos da sangrenta ditadura de Pinochet.

Um dia depois do golpe militar protagonizado pela extrema direita - que culminou com a morte do então presidente eleito do país, o socialista Salvador Allende, no dia 11 de setembro de 1973 -, o Estádio Nacional, em Santiago, começou a receber apoiadores e simpatizantes do governo deposto, que foram encarcerados, torturados e executados no local. Há relatos de que o local chegou a receber 7 mil pessoas de uma vez só.

Allende comandava o país desde 1970, com uma política de estatização e reforma agrária, que desagradava os setores mais conservadores da sociedade chilena. Entre 12 setembro e 9 de novembro de 1973, mais de 40 mil pessoas foram presas no estádio, que só parou de ser usado pelos militares porque a seleção chilena precisava disputar uma partida pela repescagem das Eliminatórias da Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, contra União Soviética no dia 21 de novembro.

A União Soviética se recusou a disputar a partida por motivos políticos e o Chile conquistou a vaga para o Mundial por W.O. Diante de 20 mil torcedores chilenos, no Estádio Nacional, o juiz apitou a saída de bola e, sem nenhum oponente e goleiro adversário, a seleção trocou passes até que o chute do capitão Francisco "Chamaco" Valdés estufou as redes e garantiu a vitória e a vaga na Copa do ano seguinte.

Estima-se que o governo de Pinochet tenha deixado aproximadamente 3,5 mil pessoas dadas como mortas ou desaparecidas. Cerca de 400 teriam sido executadas no Estádio Nacional nos dois primeiros meses após o golpe. Em 2015, algumas áreas do estádio foram transformadas em museu e tombadas pelo Patrimônio Histórico. Uma frase forte estampada em uma das tribunas mostra o quanto futebol e política vivem lado a lado no país: "Um povo sem memória é um povo sem futuro".

O documentário traz também o relato do ex-atacante do Colo-Colo e da Seleção Chilena e um dos maiores ídolos nacionais - é considerado o maior jogador da história do clube até hoje -, Carlos Caszely. Simpatizante do governo de Allende, teve a mãe torturada e estuprada, chegou a ficar 6 anos sem ser convocado pela seleção do seu país e foi um dos ícones do plebiscito que, em 1988, decidiu pela saída do governo militar. Titular da seleção chilena que disputou a Copa de 1974, Caszely antes da viagem para Alemanha se recusou a cumprimentar o presidente Pinochet, gesto que ficou conhecido como uma das maiores resistências da ditadura na época.

Caszely era, em 1973, o principal nome do futebol chileno. O país estava em êxtase. O Colo-Colo avançava na Copa Libertadores - chegou à final, mas perdeu o título para o Independiente, da Argentina -, e a seleção, que tinha como base o time do Colo-Colo, encantava rumo à vaga na Copa do ano seguinte.

Alguns historiadores acreditam, inclusive, que o golpe de Pinochet teria acontecido em abril de 1973, mas como o Colo-Colo conseguiu uma heroica classificação sobre o Botafogo, nas semifinais, avançando na competição, e o povo estava em êxtase, a intervenção militar acabou sendo adiada.

Em 2015, os sócios do Colo-Colo conseguiram, por meio de votação, tirar o nome do ex-general Augusto Pinochet do quadro de Presidente Honorário, que ele recebera em 1984 por imposição política. 

Palmeiras e Colo-Colo decidem a vaga nas semifinais da Libertadores na próxima quarta-feira, ás 21h45, no Allianz Parque. O time brasileiro venceu o primeiro confronto, no Chile, por 2 a 0, e pode perder por até um gol de diferença.