A torcida pelo Vasco, uma ideia, o canto e o boné: conheça a Vasconha

Grupo de amigos faz eventos e tem bandeira e boné, mas o movimento que ganhou força nesta campanha do Cruz-Maltino na Série B é espontâneo. Time está invicto na competição

Vasconha
Torcedores do Vasco levam a bandeira da Vasconha por diferentes lugares (Reprodução / Facebook Acervo Vasconha)

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Você já deve ter ouvido, principalmente na arquibancada de São Januário, um canto específico ecoar com força ao final dos jogos que o Vasco está vencendo. Este canto diz "Vasconha, Vasconha, Vasconha! Sem maconha o Vasco não ganha!". A palavra que inicia a música fez a cabeça até de personalidades como o influenciador digital Casimiro. Mas de onde surgiu? Como começou? Quem são? Contamos abaixo.

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Para começar, não: a Vasconha não é uma torcida organizada. E também não: não há um movimento organizado que bola o melhor momento e puxa o grito na Colina Histórica. O que existe é um grupo de precisos 20 amigos que se identificam desta forma, se reúne num ponto específico do estádio cruz-maltino em dias de jogos e, mais recentemente, viram o canto tomar grandes proporções. E cada vez mais descentralizado. Independente deles.

No Whatsapp, eles são o "QG Vasconha". Mas bem antes do aplicativo, a internet ainda engatinhava no Brasil quando, num setor de São Januário antes conhecido como varanda, algumas pessoas diziam:

- Se não acender, não vai ganhar, não vai sair o gol. Acende que é vitória - era dito a cada jogo. Quase que por superstição.

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Era final dos anos 1990, início dos anos 2000. A frase foi virando canto, e também no Maracanã, um ponto específico da arquibancada foi sendo escolhido como o local preferido do grupo. Na Colina, eles passaram para outro setor. E as pessoas foram entrando e saindo deste círculo de amizade naturalmente. Hoje, ainda há integrantes do grupo, digamos, original. Mas o canto pós-jogos é iniciado por muitos mais que aqueles 20.

O boné que veste cabeças famosas dos tempos atuais foi patenteado em setembro de 2017 e, então, comercializado. Mais recentemente, o número de pedidos aumentou exponencialmente e uma nova remessa - também de camisas - foi encomendada. Antes de Casimiro aparecer em live com um, eram dez entregas por mês, em média. Hoje, são cerca de 400. Confeccionados em rateio dos integrantes, que já fizeram até ações sociais com o valor arrecadado. Cada unidade é vendida a R$ 70.

Já o canto é iniciado por qualquer pessoa, quase sempre de fora do QG. Mas mesmo no Quartel General - acredite - basta ser vascaíno para participar dos eventos.

- É real. Pelo menos 25% da rapaziada não fuma. Para fazer parte da rapaziada não precisa fumar, isso não existe. Se o cara for vascaíno e sangue bom, ele vai estar ali com a gente - garante, ao LANCE!, Vinícius Santos, conhecido como Cabeça.

Vasconha - Casimiro
Casimiro vestiu o boné (Reprodução / Facebook Acervo Vasconha)

Os amigos têm poucos adereços. Além do boné, poucas faixas e bandeiras, mas uma talvez esteja no seu imaginário. Ela ganhou a internet em 2015, quando Pepe Mujica esteve no Rio de Janeiro. O histórico político à época era senador, mas pouco antes fora o presidente do Uruguai que liderou a legalização da maconha no pais vizinho - a legalização é pauta do grupo. Mas nenhuma dessas peças costuma aparecer nas partidas do Vasco.

- Como não somos torcida organizada, não temos autorização do Bepe (Batalhão Especializado em Policiamento de Estádios) para entrar com materiais nos estádios. Não queremos isso, até porque, sinceramente, não me imagino chegando numa reunião com o 6º Batalhão da Polícia Militar (Tijuca) com um boné da Vasconha. Complicado (risos) - explicou Vinícius, antes de ponderar:

- Embora a galera da Rasta vá. São uma torcida organizada. Nós não nos entendemos como torcida organizada, por isso preferimos não ter hierarquia, presidente, líder... decidimos tudo democraticamente. Sempre numa boa, conversando. Não que todo mundo vá concordar com aquilo, mas se for uma maioria acabamos aplicando. Isso valeu, por exemplo, para a criação do boné - explicou.

O uso recreativo da maconha é um tabu no Brasil. A pena para quem é flagrado fumando, atualmente, é de advertência, prestação de serviços à comunidade ou medidas educativas. O julgamento da descriminalização do uso pessoal no Supremo Tribunal Federal (STF) foi iniciado em 2015 e já esteve para ser retomado por duas vezes em 2019. O placar está 3 a 0 em favor da descriminalização, e o próximo voto é do ministro Alexandre de Moraes. Ainda não há data definida para o julgamento prosseguir.

Já a comercialização é lida pela constituição como a de qualquer substância ilícita: tráfico, logo proibida e com pena mais pesada.

A Vasconha é um grupo de poucos, mas é também um canto de todos que quiserem. O "QG" faz questão de não se tornar torcida organizada.

- Somos uma ideia. Entendemos que qualquer pessoa a favor da ideia pode ser "Vasconha". Não temos carteirinha. É muito democrático. Um vascaíno no Nordeste pode usar nosso boné e nos representar - concluiu.

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