Dia 01/03/2016
03:32
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Qualquer estádio com mais de 70 anos terá muita história para contar. Porém, o Nacional de Santiago, que recebe nesta quinta-feira a abertura da Copa América, tem algo mais que outros septuagenários. Além de ter visto Garrincha desfilar categoria em 1962 e ter acompanhado de perto shows de astros como Paul McCartney, Michael Jackson, Madonna e Rolling Stones, ele tem um passado que o Chile não se orgulha, mas faz questão de mostrar. No início da ditadura militar, na década de 1970, foi um centro de detenção.

Logo depois do golpe militar, em 1973, que colocou o ditador Augusto Pinochet no poder, entre setembro e novembro, praticamente 40 mil pessoas passaram por lá, segundo números extra-oficiais. Muitos foram torturados, e outros executados.

– Os protagonistas contam que eles ficaram em todos os lugares do estádio, todos os camarins, quando tinha sol eles saíam, e também para passar uma impressão de que as coisas estavam bem. E também no velódromo. Lá era até mais crítico. Indo para lá, era muito difícil de voltar, e de lá que vem a história das pessoas desaparecidas – explica Cecília Rodríguez, responsável pelo conteúdo jornalístico do Nacional de Santiago, ao LANCE!:

– Há pessoas desaparecidas em muitos lugares, há uma grande lista disso, que nunca foram encontradas. Os familiares estão nos tribunais, querem encontrar pelo menos o corpo dos seus ente-queridos...

Por isso, uma organização foi criada. Para que pudesse correr atrás de justiça. Até hoje, muitas pessoas estão desaparecidas. A lembrança permanece no estádio. Atrás de um dos gols, um setor segue original. Com bancos de madeira e a inscrição: "Um povo sem memória é um povo sem futuro". Feita com nova iluminação para a Copa América.

– Durante as partidas, aqueles lugares não são utilizados. Sempre há um respeito. É um monumento. Mas o projeto é dar o valor necessário. E também para que as pessoas saibam a história do lugar. Vai passar a informação do que aconteceu - explica.

Além desse, existem outros 10 lugares no estádio que lembram esse episódio. Em setembro de 2003, o Nacional foi considerado patrimônio e é uma espécie de museu em prol dos direitos humanos.

- Depois da democracia, ficou a vontade de esclarecer tudo, da questão dos direitos humanos. Todos querem as informações. Isso é um testemunho para que isso nunca volte a acontecer. Há visitas escolares, sempre contamos, e muitos ficam surpresos. É um tema que não pode desaparecer.

Elefante Branco?
Porém, nem tudo é história ruim quando se fala no Nacional. Pelo contrário. São muitos momentos gloriosos. E no início, poucos pensavam que ele seria tradicional. Quando foi inaugurado, em 1938, logo vieram as críticas de que seria um "elefante branco". Porém, não demorou para o Nacional cair no gosto do povo.

– Logo o elefante branco estava repleto. Para a Copa de 1962, foi feita uma ampliação. Hoje, até torneios escolares enchem – diz Cecília.

Foi lá também que o mundo viu Garrincha em um dos momentos mais espetaculares de sua carreira. Quando em 1962, ao lado de Didi, Nilton Santos, Vavá e tantos outros, o Mané levou o Brasil ao seu segundo título da Copa do Mundo. Curiosamente, o jogo de inauguração contou com o tradicional São Cristóvão, do Rio de Janeiro. Mas o primeiro time de Ronaldo acabou perdendo por 6 a 3 para o Colo Colo. Isso além de diversos momentos memoráveis. Por isso, é o favoritos dos jogadores no Chile.

- Para os jogadores, é sempre importante jogar aqui, independente de os estádios terem os seus estádios, que possam jogar em casa... Mas se falar com eles, vão falar sempre que aqui é muito importante. Tem mais público. É como o Maracanã, é o mais importante - concluiu Cecília.

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